Boa acção do dia!
Manhã de folga marca o momento temporal! Uma pastelaria marca o local! A personagem central poderia ser eu, mas rapidamente o que passou de um rápido café acompanhado por uma bola de berlim de leite condensado passou a hora e meia de conversa com uma senhora de 88 anos que me era completamente desconhecida!
Entrei na pastelaria, fiz o meu pedido e sentei-me! Fui servido e comecei a saborear aquele bolo delicioso e a bebericar o café! Uns cinco minutos depois, mais coisa, menos coisa, vejo uma senhora a sair da porta da casa de banho e a dirigir-se a mim e a dizer-me que não era necessário me levantar! Olhei melhor para a cadeira que me estava de frente e que entretanto foi ocupada e lá estava a bengala da conversadeira de serviço! O que não passava de um escape rápido para adocicar a manhã passou a ser um momento de conversa bem prolongado!
A conversa começou e fui entrando na vida familiar daquela senhora viúva, com uma filha que vive em Lisboa e que por sua vez tem também uma filha enfermeira, e um filho que vive perto de Braga e que lhe deu também uma neta que casou com um advogado! Isto é o seio familiar daquela senhora que sofreu muito em criança, passando fome e maus tratos, até que o príncipe encantado e rico lhe apareceu pela frente como salvador do que havia existido ao longo de década e meia. Sessenta anos de casamento, onze de viuvez e agora pensa que já não faz nada na terra porque o seu pilar partiu, os filhos já são ambos avós, ela de um miúdo com dez anos e ele de um rapaz com onze. E esta bisavó o que espera aos 88 anos da vida? Segundo a própria, de nada!
Há uns tempos uma das netas, a de Lisboa, inscreveu-a para que recebesse as refeições diárias através do centro de dia, mas agora rejeita a comida porque é muita e vai para o lixo. Para mais porque lhe mandam o que ela não gosta! Diz que já não quer receber e já deu ordem para cancelarem aquela comida, mas as empregadas não fazem o que ela pede e só obedecem à neta com quem lhe dizem não conseguirem falar. «Eu sei a razão delas não conseguirem falar com a Cláudia, é que ela tem estado de férias pela casa do Algarve!», dizia.
A conversa foi acontecendo e deu para muito, uma das empregadas passou e fez sinal, mostrando que aquela senhora deverá ser assim com quem vai apanhando por ali. Na verdade não me importei nadinha de ter empatado a manhã de folga por aquela mesa da pastelaria a servir de companhia a uma pessoa que necessita, tal como tantos de nós, de conversar para se sentir útil. Não me fez qualquer mossa na vida e ao mesmo tempo senti-me bem por ter ficado, por ter falado e essencialmente por ter ouvido quem só precisava de uns minutos, que viraram horas, de atenção!
Um dia todos precisamos de atenção, seja em que idade for!