Vox | Christina Dalcher
Título: Vox
Autor: Christina Dalcher
Editora: Topseller
Edição: 1ª Edição
Lançamento: Fevereiro de 2019
Páginas: 304
ISBN: 978-989-8917-58-4
Classificação: 3 em 5
Sinopse: Estados Unidos da América. Um país orgulhoso de ser a pátria da liberdade e que faz disso bandeira. É por isso que tantas mulheres, como a Dra. Jean McClellan, nunca acreditaram que essas liberdades lhes pudessem ser retiradas. Nem as palavras dos políticos nem os avisos dos críticos as preparavam para isso. Pensavam: «Não. Isso aqui não pode acontecer.»
Mas aconteceu. Os americanos foram às urnas e escolheram um demagogo. Um homem que, à frente do governo, decretou que as mulheres não podem dizer mais do que 100 palavras por dia. Até as crianças. Até a filha de Jean, Sonia. Cada palavra a mais é recompensada com um choque elétrico, cortesia de uma pulseira obrigatória.
E isto é apenas o início.
Opinião: Imaginemos que por uma decisão política todos ficamos restritos a cem palavras por dia. E agora imaginemos que as mulheres é que ficam com esta imposição sobre si e que aos homens nada acontece, a não ser um sofrimento interior em alguns casos para com as suas companheiras e familiares mais próximas. Isto é a realidade de Vox, o romance de Christina Dalcher que pretende lançar o debate sobre os direitos humanos e as desigualdades dos sexos.
Ao ler esta narrativa bem composta e explicativa fui ficando com a ideia que a liberdade de expressão que existe hoje na maior parte dos países pode não ser assim para sempre. As sociedades mudam, os regimes vão sendo alterados e as regras introduzidas nem sempre satisfazem.
No geral este livro não me cativou pelo seu enredo, existindo sim a particularidade do tema central ao levantar o debate sobre o método de silenciar as mulheres que de um dia para o outro são obrigadas a controlar o número de palavras que vão dizendo. Quando o novo presidente dos EUA assume os comandos e começa a colocar as suas ideias conservadoras e que acabam por seguir um caminho de maldade, todas as mulheres começam a ser controladas por câmaras, microfones e pulseiras de contagem de palavras. Afinal de contas o povo elegeu um homem com ideias retrogradas para assumir os comandos da nação sabendo de antemão o que estava a ser preparado perante uma razia, que acaba mesmo por ser isto a acontecer, perante o lado feminino de uma sociedade livre. Este homem silencia as mulheres criando esta lei limitativa a cem palavras por dia, o que faz com que ao serem ultrapassados os limites impostos as pulseiras comecem de forma automática a emitir ondas de choque que vão ganhando força à medida que a infração vai sendo feita e aumentada. Até onde este crime consegue chegar? Até provocar a morte de quem enfrenta tais imposições e luta pelo retrocesso de todo este processo.
A perda de empregos, as negas perante a visita a vários locais, a falta de ensino e a subserviência a que as mulheres são sujeitas perante esta lei apresentam uma ideia bem retrograda que mostra que o seu lugar é ficarem em casa, como autênticas fadas do lar, sem poder de argumentação e com pouco acesso ao que se passa no exterior.
E se toda esta situação viesse mesmo a acontecer em pleno século XXI? Esta é a verdadeira questão que se coloca ao longo da leitura de Vox, mas que acaba por perder o protagonismo tão bem anunciado ao longo do que vai sendo contado. A história que começa bem vai perdendo o fio condutor e base, seguindo por um caminho desnecessário onde a luta pelos direitos e pela igualdade é passada para segundo plano. A falta de dignidade e de respeito para com as mulheres aqui é demonstrada de forma exemplar, provocando um mau sentimento do leitor perante uma possibilidade hipotética de tal situação acontecer na realidade, mas ao mesmo tempo o desenlace da história de Jean, a protagonista, acaba por não me cativar. Fiquei com a ideia que existia uma história para elaborar um romance que queriam que fosse contada e depois a autora juntou-lhe o facto sobre a quase proibição da palavra nas mulheres para dar um outro destaque à criação junto dos leitores. O que senti foi que existia uma história que era somente mais uma e que lhe acrescentaram este tema para dar o mote para algo que foi contado na mesma mas com uma finalidade, salvar e retomar a normalidade na vida quotidiana entre homens e mulheres com direitos e deveres iguais numa sociedade livre e complexa. Sim, este livro faz pensar. Sim, este livro pode chocar, o que não me aconteceu. Sim, este livro mostra que homens e mulheres ainda têm direitos diferentes. Sim, este livro mostra também crianças a crescerem sem poderem falar. Mas também é verdade que percebi que este livro prometeu mais do que conseguiu fazer.
Ler este livro é debater o que ainda está mal e o que está bem mas que a qualquer momento pode voltar atrás graças ao poder de alguns que não olham a meios para atingirem as suas ideias que vão contra as regras de qualquer sociedade livre e moderna nos tempos que correm. O silêncio obrigatório das mulheres ou de qualquer ser humano é crime, mas vejamos que ainda existem sociedades que assim funcionam, à base do machismo, da força e do erro. Todos têm direito a ter voz, é um facto, lutando por direitos e deveres igualitários.
No geral este livro pode chocar, apelar e ajudar a debater, mas não me conseguiu conquistar como era esperado, o que foi uma pena.