Toda a Cidade Ardia [Teatro Aberto]
Toda a Cidade Ardia e a vida passa mas nem sempre deixa para trás o que já lá vai, sobrando réstias de esperança para que um dia se volte a encontrar o amor perfeito de outrora, mesmo que para isso se tenha amado de outra forma ao longo do tempo uma família que foi criada. Este é o ponto de partida da peça que se encontra em cena no Teatro Aberto da autoria de Marta Dias que se inspirou, em boa hora, nos poemas de Alice Vieira.
Num dos melhores textos que já vi em palco, em Toda a Cidade Ardia somos convidados a conviver com a história de Ana que vive o presente com o olhar sobre o passado onde foi feliz e onde sofreu bastante por um amor que não conseguiu alterar o seu modo de estar e pensar a favor da felicidade. Uma mulher que sempre percorreu os caminhos atrás das suas vontades, mesmo tendo contrariado as ideias familiares e a sociedade da altura mas que inverteu o percurso que lhe estava definido à partida. Ana não se deixou ficar, arriscou, começou desde cedo a entrar no mundo do jornalismo onde só os homens eram figura de destaque e com isso viveu ao longo do tempo onde conheceu também a sua primeira e grande paixão. Só que nem todas as pessoas são irreverentes e sonhadoras, e se ela seguia os seus instintos, já o seu parceiro não conseguia dizer não às exigências que lhe eram colocadas, não sabendo amar porque as obrigações pesavam-lhe numa altura em que não existia liberdade.
Uma mulher livre e cheia de esperança e um homem que quer viver o seu amor mas ressente-se pelos outros. Toda a Cidade Ardia é um misto de sentimentos onde o Amor se une à solidão mas também mostra que existe sempre espaço para voltar a acreditar sem colocar um passado completamente de lado. Se entrar cedo no jornalismo foi uma afirmação para Ana, já ter casado mais tarde com um homem mais velho e novamente contra a vontade da família voltou a ser um grito de guerra de quem não teve medo de fazer o que sempre achou correto.
O presente familiar com um marido que sempre a apoio na sua carreira de jornalista e de escritora e um passado desfocado que por vezes vai aparecendo em situações inesperadas para relembrar que a esperança por vezes existe quando o coração não fechou por completo um tema que lhe foi marcante e que não ficou bem resolvido. Conseguirá Ana viver para sempre com a mágoa do afastamento e perda do passado para manter a esperança de que um dia exista volta a dar e viver finalmente como sempre quis? Um sonho que não foi concretizado mas onde existe sempre tempo para voltar atrás e viver o que estava por fazer!
Um texto poético onde o Amor é o centro de toda a história vivida em Portugal ao longo do século passado, convivendo com as alterações económicas, culturais e políticas da altura e passando entre gerações que vão ajudando a alterar comportamentos e mentes. Toda a Cidade Ardia é daqueles trabalhos tão bem conseguidos na escrita, na criação de personagens com profissionais atores e com um cuidado de produção onde nada falha. Do texto ao cenário bem mexido como é habitual no Teatro Aberto, dos passos às reflexões que vão sendo deixadas junto do público por uma mulher que não perde a esperança de recuperar a vida que sempre quis, nem que para isso tenha de deixar um passado mais recente de lado.
Por momentos vi muito da história conhecida de Alice Vieira em palco, podendo este ser um trabalho demonstrativo da vida de uma das melhores escritoras nacionais, mas existiram fatores que me levaram a viajar pela ficção ao longo do texto, sem deixar contudo que tivesse ficado baralhado sobre a união entre ficção e realidade representada em palco. Inspirado na vida da autora é sem dúvida, se tem momentos que fogem do que aconteceu, isso já não sei responder, sabendo sim que esta é uma história de Amor arrebatadora onde se viveu para amar sobre a ideia do passado que existia como uma esperança futura.
SINOPSE
Quando começamos a dizer “Naquele tempo…”, é porque tudo mudou. O mundo mudou. Somos outros, agora.
E agora? O amor, que um dia nasceu, sobrevive? O que é, ao compasso dos dias e dos anos, dos segundos que suportam a nossa vida? O que é o amor, através da distância, guardado na memória, enquanto se espera (e se tem esperança)?
Ana tem uma história, feita de muitas histórias, que atravessa a História. Ela vai levar-nos através da cidade cinzenta, da cidade em chamas, de revoluções e cantigas de embalar, pelo barulho das rotativas, pelo cheiro a tinta e pelas palavras escolhidas com cuidado. Ela vai abrir todos os livros, dobrar as esquinas de todas as ruas e levar-nos pelo meio dos retratos desfocados do passado, pela alegria e pela serenidade dos dias em família, pela poeira do tempo que escorre, pelo silêncio da noite… vendo os ramos das árvores balouçarem e crescerem.
FICHA ARTÍSTICA
Texto de Marta Dias
Baseado em poemas de Alice Vieira
Encenação Marta Dias
Cenografia Marisa Fernandes
Desenho de Luz | Vídeo Aurélio Vasques
Figurinos Dino Alves
Coreografia Cláudia Nóvoa
Desenho de Som Sandro Esperança
COM Ana Guiomar | André Patrício | António Fonseca | Catarina Moreira Pires | Emanuel Rodrigues | Madalena Almeida | Miguel Lopes Rodrigues | Sílvia Filipe | Vítor d’Andrade
ESPECTÁCULOS
4ª a Sábado às 21h30
Domingo às 16h
O espectáculo estará em cena de 22 de Junho a 30 de Julho.
M/12
BILHETEIRA
4ª a Sábado das 14h às 22h00; Domingo das 14h às 19h
Reservas 213 880 089 ou bilheteira@teatroaberto.com
www.bol.pt | FNAC | ABEP | CTT | El Corte Inglés (Lisboa e Gaia)
PREÇOS
Inteiro - 15 €
Jovem (até 25 anos) – 7,5€
Sénior (mais de 65 anos) – 12 €