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O Informador

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Na minha rua praticamente todas as casas sempre tiveram ocupadas ao longo dos anos, no entanto nos últimos meses algumas viram os seus antigos moradores partirem para outras paragens e os espaços acabaram por receber novos moradores. Novas famílias, novos rostos, novas histórias e também novos e mais automóveis espalhados pelos lugares de estacionamento que ainda o ano passado pareciam sobrar, tal como se tivéssemos lugares reservados por sabermos onde cada vizinho gostava de deixar o seu carro, e agora quando acabamos por chegar uns minutos após a maioria da vizinhança e os espaços outrora vagos estão descaradamente ocupados, tendo de procurar um lugar pelas ruas vizinhas.

As famílias mudaram, os novos moradores têm em cada casa um maior número de automóveis e os espaços destinados ao estacionamento agora são ocupados em menos de nada, basta os primeiros chegarem dos empregos ou dos seus afazeres fora de casa e aquele meu lugar que parecia estar quase sempre em espera já está ocupado pelo vizinho que chegou e não tendo o seu lugar cativo na rua da aldeia deixa o seu quatro rodas onde der mais jeito.

Conheces o controlo parental? Aqui falo de controlo vizinho!

Viver na aldeia tem consigo coisas bizarras que por vezes acontecem, uma delas é o controlo da vizinhança perante a tua vida, existindo quase como que uma agenda onde apontam as horas de saída e entrada para perceberem quem está e não está nas casas circundantes ao longo do dia. 

Ainda ontem vinha a subir a escada e ouvi aquele catarro de quem somente tenta mostrar que está presente e por perto. Era a vizinha, que passava dentro de casa a roupa ao ferro, mas com a porta encostada para conseguir fazer o seu controlo de porteira da rua. 

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Na rua vão começar daqui a umas semanas algumas obras e as conversas cruzadas entre vizinhos já se começaram a fazer sentir. Uns que se queixam que com as obras a estrada ficará suja de terra e com alguma lama se chover, outros por causa do barulho que acontecerá em alguns dias. E alguns comentam só porque sim, numa de seguirem a onda dos mal dizer alheio. 

Pessoas, sejam civilizadas e pensem que vivem numa sociedade em que hoje serão uns a precisarem de fazer obras, amanhã podem ser vocês. E ai também terão de fazer pó e barulho, ou conseguem remodelar casas ou erguer novas paredes de forma imaculada e silenciosa?

 

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Recordo o momento em que estacionei o carro junto à casa do vizinho, visto que na minha rua não é possível estacionar por ser estreita e de sentido único, e assim que sai da viatura percebi que tinha o vizinho da cidade, que se fixou na aldeia em tempos de pandemia na casa de campo dos pais, a cantar em alto e bom som um bom funk brasileiro e não é que até tem boa voz? Já tinha percebido que o rapaz deveria trabalhar no mundo da noite mas será que está inserido nas cantorias entre karaokes, música ao vivo e bandas que atuam em bailaricos, arraias e bares? Primeiro sempre se percebeu que o vizinho era bastante virado para a música por existir som de manhã à noite naquela casa a sair pelas janelas e respiradores, agora percebi que além de bom ouvinte também parece ser um bom cantor.

vizinhança.jpg

No ato do crescimento, quando o mesmo acontece dentro de um seio familiar normal e com regras sociais bem definidas, vais percebendo que existem horários para tudo e que as regras de bom civismo são para serem respeitadas. No entanto e como bem sabemos nem todos seguimos o mesmo bom senso perante o respeito para com os outros e quando o incómodo acontece o pensamento que logo surge é sobre a falta de cuidado de uns para com os outros.

Viver em prédios ou vivendas germinadas é sempre mais do mesmo. Volta não volta lá vem barulho a mais por quem se esquece que os outros existem e pretendem obter descanso quando são horas para tal. Vivo num apartamento com vizinhos de ambos os lados e por vezes acaba por ser algo incómodo o barulho que uns e outros fazem por não terem a capacidade de perceber que nem todos vivemos acordados até altas horas da noite.

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No prédio de um lado tenho a vizinha dos saltos altos até altas horas da noite, do outro vive o vizinho que fala bem alto com a esposa, com direito a cantorias e anedotas em alto e bom som de janela aberta para fumarem dentro de casa. De manhã é o vizinho do lado de lá da rua com a música em alto e bom som para acordar o bairro. E nas últimas noites a rua tem recebido um pobre gato que se faz ouvir como se tivesse a pedir misericórdia e ainda uma coruja que vem cantarolar para os postes de eletricidade. 

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Sabes as regras a seguir para seres um bom vizinho?

Não fazer barulho fora de horas.

Não sujar a área comum do prédio.

Praticar a boa educação.

Limpar a tua entrada.

Não deixar sapatos espalhados do lado de fora.

Controlar as necessidades dos animais de estimação no prédio.

Fechar sempre a porta do elevador.

Evitar pedir constantemente artigos alimentares ou de higiene.

Não sacudir tapetes quando os vizinhos debaixo têm janelas abertas.

Evitar o salto alto durante horas.

vizinhança.jpg

 

Ainda é bem cedo, enquanto o menino toma o pequeno-almoço descansado, enrolado no roupão e a ver as últimas publicações pelo Instagram, um barulho estranho e acima do normal faz-se sentir pela rua. De início parece ser somente alguém a falar mais alto logo pela manhã, mas o som adensasse, as vozes elevam-se, até que o menino percebe que a vizinha estridente debaixo e o vizinho porco do lado estão numa discussão bem acessa. Nomes e palavrões bem feios são proferidos, ameaças e gestos acompanham e a gritaria continua, as portas batem para se voltarem a abrir e tudo recomeçar em menos de um minuto.

Uma discussão acesa que já vinha a ser sentida há algum tempo pelo menino, sendo adiada até que o pontapé de saída aconteceu quando um portão se abriu, duas pessoas se olharam, a noite de ambos deve ter sido mal dormida e o choque aconteceu sem sabedoria para se conversar e resolver as coisas a bem, sem causar estranheza e ganhar um destaque pela imprensa do passa a palavra cá do sítio. 

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A morte é sempre um peso que surge na vida de quem fica e se vê confrontado primeiramente com o sofrimento, depois com a dor da perda. Existindo vários estados que antecedem a morte onde o sofrimento lento e devastador magoam, causando bastante dor a quem mal está e a quem trata, mas existindo também a perda rápida em que de forma quase súbita tudo termina. Onde o choque é maior?

Mais uma vez e não de forma familiar, fiquei confrontado com a morte de quem me viu praticamente nascer e crescer. Andou comigo ao colo, praticamente todos os dias me dava os bons dias quando ia para o trabalho e passava junto ao seu quintal. Há menos de uma semana fiquei sem o sorriso fácil, a disposição diária e senti essa falta. A doença levou-a para o interior de casa, descaindo de dia para dia, até que a escuridão surgiu numa madrugada.

Fui acordado quando o sol ainda mal espreitava, o INEM já estava na rua, percebi o fim, fiquei sentado na cama a refletir no que naquele momento parece não estar a existir. Aconteceu, de forma rápida, a queda vertiginosa para um poço sem fundo e onde o regresso já não acontece. Um dia começou mais cedo que o habitual, já não consegui dar a volta ao peso que logo senti e a perceção que a rua ficou mais pobre foi incrível. Quem me dá agora os bons dias quando saio do meu espaço e entro na rua? Não existe agora a vizinha, tudo se altera, ficamos mais pobres, vazios e sós. 

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A vizinhança na aldeia é do mais intrometida que existe. Há uns dias ao descer para ir ao correio que apitou a mota por ter entrega a fazer, lá estava a vizinha já a dizer ao carteiro, como se tivesse muito com isso, que o vizinho, eu, recebo muita encomenda. Acham que respondi? O que ela queria saber era o que vem dentro das caixas e envelopes mas fica só mesmo pela vontade de saber porque a vida é nossa e não tem de ser contada à rua e por consequência à aldeia. 

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