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O Informador

Curtas e Diretas | 143 | E então?

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A vizinhança na aldeia é do mais intrometida que existe. Há uns dias ao descer para ir ao correio que apitou a mota por ter entrega a fazer, lá estava a vizinha já a dizer ao carteiro, como se tivesse muito com isso, que o vizinho, eu, recebo muita encomenda. Acham que respondi? O que ela queria saber era o que vem dentro das caixas e envelopes mas fica só mesmo pela vontade de saber porque a vida é nossa e não tem de ser contada à rua e por consequência à aldeia. 

Má vizinhança

A educação é passada de pais para filhos mas todos podemos ajudar e contribuir para a formação dos mais novos. O pior é quando os mais velhos não têm a base necessária para apoiar os que necessitam e ainda conseguem revelar comportamentos piores e sem qualquer falta de bom senso.

Há uns dias fui ao café fora da aldeia após o jantar e a vizinha, que simplesmente dá os bons dias quando se cruza com alguém, a mãe da miúda que tem medo das pessoas e baixa a cara quando vê alguém, estava sentada com uma filha mais velha na esplanada. Se ao nos cruzarmos na entrada do prédio ainda me responde se nos cruzamos, já quando está sentada parece não conseguir proferir qualquer palavra. A senhora mal me viu a atravessar a estrada e a dirigir-me à esplanada para entrar no café, pegou apressadamente e de forma atrapalhada no telemóvel e começou a fazer que estava a ver alguma coisa, esqueceu-se foi de abrir a capa sebenta que protege o aparelho. 

Foi bem perceptível que a atitude foi para não me dirigir um «bom noite», mas não segui o seu comportamento e ao passar olhei e proferi «boa noite vizinha». No entanto acredito que tenha sido a última vez que lhe dirigi a palavra por iniciativa própria. A senhora vive com a família no prédio há mais de dois anos e o modo de estar é tão estranho que mesmo estando desempregada não sai de casa, não abre janelas, não estende roupa e nunca teve a coragem de lavar as escadas que são partilhadas.

Radar da vizinha

E lá está! Eu vou a sair ou a entrar em casa e tenho que ver sempre a minha vizinha que dá conta de tudo o que se passa por este prédio e pelas suas redondezas. Ela não deixa escapar nada e sei que se lhe for perguntar se X ou Y estão em casa ela tem a resposta na ponta da língua, pelo menos em relação a mim ela sabe bem se estou ou não dentro da minha habitação.

Isto é que me mete uns nervos! Saio de manhã para ir trabalhar e lá tenho que lhe dar os «bons dias» porque ela já anda de regador na mão a rondar as suas plantas. Chego há hora a que chegar ao longo do dia e lá anda ela pelo quintal a cuidar dos seus pássaros, a estender a roupa ou a olhar simplesmente pelo vazio que é a sua vida.

Não há volta a dar e sei que só me vou livrar deste radar ambulante quando mudar de casa ou ela o resolver fazer, mas não me parece que esta hipótese esteja em cima da mesa, por isso tenho que me mudar eu. Ela dá fé de tudo e se acha que algo está a fugir do normal vai logo ao café mais próximo contar as movimentações estranhas que se passam por aqui ou por acolá.

Irra que não existe vida própria por aquelas bandas e depois teima em ser o agente de controlo aqui da malta!

Não consegui dizer que são feias

CarteirasUm destes dias a minha mãe mostrou-me estas, para ela, lindas carteiras, feitas por uma vizinha. Infelizmente, e devido ao entusiasmo com que me mostrou estas coisas, não lhe consegui dizer a verdade sobre o que achava e tive que lhe dizer que são bonitas. Será que fiz mal em esconder a minha verdadeira opinião sobre estas carteiras?

Para mim estas duas carteiras são tão feinhas e sem graça que nem sei explicar. Isto é feito pela senhora que está desempregada e ocupa assim o seu tempo para também ganhar algum dinheiro extra. Até aí tudo bem, mas a minha mãe tinha logo que lhe comprar duas e cada uma mais feia que a outra?

Eu acho que ela não vai usar nenhuma e que só as comprou para não a chatearem mais com a pergunta «Não queres uma carteira?»!

Se ela soubesse a minha verdadeira opinião tenho quase a certeza que não as ia usar e que as arrumava já a um canto, mas não lhe vou dizer nada. Que coisas feias!

As vizinhas olhadeiras

Elas existem por todo o lado e aparecem a qualquer hora do dia e onde calha... Falo das minhas vizinhas que estão sempre nos seus quintais, esteja eu a entrar ou a sair de casa.

Na cidade as pessoas podem-se sentir sortudas por não terem sempre a vizinha Antónia ou a Manuela com os olhos postos em si quando metem o pé fora de casa. Como vivo numa aldeia, isso não acontece e elas estão sempre prontas para controlarem os passos de uma pessoa que as vê, mas faz que não percebe que estão à sua espreita. 

As minhas vizinhas estão sempre com o seu radar em alerta quando percebem que alguém está a entrar na rua. Praticamente todos os dias as tenho que ver, seja de manhã, de tarde ou à noite, sendo que geralmente as vejo nas três fases do dia, se sair três ou mais vezes de casa.

Elas controlam mesmo tudo, a rua toda... Quem passa, com quem se passa, o que se leva vestido, se passo ao telemóvel ou a cantar... Elas sabem tudo e depois lá tenho que dizer «Bom dia!», «Boa tarde!» ou «Boa noite!», quando o que me apetece é dizer, «Não tem mais nada para fazer sem ser esperar que eu passe para me ver? Sou assim tão bonito para me ter que cumprimentar e controlar diariamente?».

Isto vai ser sempre assim enquanto viver pela aldeia... Não sou controlado pelos meus pais, mas olhem que os vizinhos estão bem atentos à minha vida! Coisas de aldeia pequena em que todos se conhecem! Irra!...