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O Informador

Iniciativas literárias no Alentejo

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Rumar ao Alentejo em pleno Verão tem sempre algo de bom para além do descanso conseguido por terras quentes mas bem tranquilas e onde a paz de espírito parece existir. Este ano no Município de Alvito os velhos frigoríficos que já nada serviam para a sua função habitual conseguiram ganhar nova vida e aliaram-se ao mundo das letras para colocarem habitantes e turistas a lerem um pouco mais pelas ruas das aldeias e vilas. 

Perante o lema «livros fresquinhos de levar ler e devolver», vários frigoríficos foram reformulados e distribuídos por praças e até pelo complexo de piscinas para se tornarem em pequenas bibliotecas gratuitas e disponíveis a todos. De jornais diários, revistas semanais e livros, a leitura está a um passo de todos, sem existir necessidade de requisição. Com estes frigoríficos só é necessário abrir a porta, perceber o que existe, levar, ler e devolver assim que a leitura estiver despachada. Podem ler nos bancos de jardim, levar até à esplanada do café da esquina ou até para casa, desde que devolvam no fim. Ao devolverem livros acredito que a ideia seja também deixarem livros que tenham por casa e os queiram doar e foi perante esse lema que levei a minha ideia em diante.

Basta!

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Portugal, pleno século XXI, uma sociedade supostamente desenvolvida mas com grandes falhas no que toca à igualdade de género e onde infelizmente a violência doméstica ainda persiste com as mulheres a serem vítimas de um crime não conjugal mas sim público. 

O Mundo continua a conviver com atos desumanos de agressões e maus tratos entre seres que não respeitam os que estão do seu lado, tal como não se respeitam a si próprios ao rebaixarem de forma física e psicológica parceiros que se deixam muitas vezes levar em conversas de mudanças e exceções para continuarem a conviver com o medo diário, numa luta desigual de forças de carácter. É necessária existir uma voz coletiva que todos ajude, porque nem só as mulheres são as vítimas, para que se consiga agir, não se ficando calado porque a denúncia é um bem necessário para que os maus feitores sejam levados perante a justiça sobre os seus comportamentos. O respeito perante o próximo é um bem necessário que cada um deve exigir socialmente porque nunca e em momento algum alguém se pode achar acima de qualquer outro. Infelizmente e em pleno momento de liberdade onde a palavra ganha força, os atos destes malfeitores continuam a ser silenciados pelo medo e confronto por quem se deixa ficar com o seu sofrimento num silêncio individual partilhado por muitos que não conseguem gritar «Basta!» num momento de pedido de auxílio para se sair de uma situação onde são praticados crimes abusivos de não respeito pelo ser humano. 

A agressão dentro do seio familiar, onde além de cônjuges também filhos, progenitores, irmãos e avós, são muitas vezes violentados das mais diversas formas e onde o silêncio continua a persistir, dando força ao agressor que segue o seu modus operandi como se nada interferisse entre o bom senso e a razão dos seus atos. Chega de violência e chega essencialmente de ver tudo a ficar silenciado a favor da continuação de formas de agressão praticadas por seres inglórios que pelos quatro cantos do planeta continuam a praticar e muitas vezes a incentivarem estes atos como um bem fundamental para a covivência perfeita e essencial. 

A violência doméstica tem ainda alguns problemas relacionados além do medo perante o agressor. Muitas vezes a vítima consegue ainda sentir a falta de apoio e a crítica gratuita da sociedade que a rodeia, sociedade essa que defende a denúncia, mas que ao mesmo tempo aconselha a aguentar um crime para que não se destrua uma família. Pensar em si, no seu bem-estar e mesmo nos que estão próximos não é aguentar a violência emocional e física, é sim sair, fugir e recomeçar de novo, longe de uma vida de dor e medo. 

Deserto alentejano

É a lógica que todos sabemos de que nos locais onde a população é mais envelhecida existe uma maior tendência a existirem mais mortes. Mas isso faz-se mesmo notar quando se visitam as aldeias alentejanas.

Ao longo do ano tenho vindo várias vezes ao Alentejo passar uns fins-de-semana, umas férias ou uns dias isolados de descanso e ao vir para uma aldeia assim mais isolada costumo ir sempre aos mesmos locais tomar café, comprar o pão e por aí fora. De cada vez que cá venho oiço sempre histórias de que alguém morreu e que vai ser o seu funeral.

É um facto, em locais como este em que a população é mais envelhecida que nos grandes centros urbanos, existe uma maior tendência para estas coisas acontecerem, mas é praticamente sempre certo que quando cá estou existem sempre funerais. O Alentejo daqui a uns anos vai estar mesmo deserto, isto nas aldeias, porque quem cresce nestes locais foge assim que pode para as vilas ou cidades para não se sentir tão isolado do mundo.

Num local que poderá ter mais de mil habitantes agora, daqui a uns tempos não vai ter mais que quinhentos. Existem os que morrem, os que vão estudar e já não voltam, os que emigram e os que saem destes lugares cada vez mais desertos em busca de uma vida citadina. Estou em Vila Nova da Baronia a escrever este texto e mesmo de porta aberta, há horas que não passa por aqui ninguém.