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O Informador

Programas chorados

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Ontem cheguei mais cedo a casa e fiquei pela cozinha para lanchar e acabei, como habitualmente acontece cá por casa, por ver uma parte do programa de Manuel Luís Goucha e se percebi que os formatos oferecidos pelos canais generalistas do nosso país são feitos para o público chorar, como me aconteceu, também refleti se não existe hipótese de testarem formatos mais dinâmicos e bem dispostos naquele horário, sem terem de alterar os apresentadores que são mais do que multifacetados.

Não estaremos todos nós já cansados do dia de trabalho e muitas vezes do que nos rodeia para ainda existirem estes programas de vida onde a tristeza, a doença e a morte são debatidos dia após dia com histórias de sofrimento que prometem ser um exemplo mas que só ajudam a entristecer ainda mais quem está no aconchego do seu lar, muito vezes a sofrer de solidão e com alguns problemas bem semelhantes ao que estão a ser relatados no ecrã?

É necessário criar entusiasmo, não esquecendo que o peso da vida existe, mas será necessário estar durante os dias de semana, em dois canais em simultâneo a transmitirem autênticos casos de vidas recheadas de drama e negativismo? Tanto que pode ser transmitido e tanto por fazer em televisão e as direções que estão na frente dos canais neste momento optam por darem mais do mesmo ao público em detrimento da diversidade onde podem colocar temas pesados intercalados com histórias e momentos divertidos do dia-a-dia. Não é necessário usar e abusar do drama, podendo criar espaços e formatos onde se consiga seguir do peso de uma história triste à boa disposição. Se em outros horários isso é possível qual a razão das tardes da televisão portuguesa terem de sofrer com horas tristes que acabam até por afastar o público?

Mentiras das redes sociais

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Eu partilho, tu partilhas, ele partilha, nós partilhamos, vós partilhais e eles partilham! Aqui está o verbo partilhar no presente do indicativo a iniciar um pensamento sobre o que vai sendo mostrado pelas redes sociais. A questão que levanto é, a realidade que é partilhada é assim tão verdadeira?

Será que todas as partilhas são assim tão reais sobre o dia-a-dia de cada um? Não, ninguém mostra a verdade, no entanto se uns são livres e partilham o que querem e bem entendem e se aproximam com ou sem filtros, à primeira ou com sucessivas tentativas, outros elaboram tanto que só acabam por mostrar que a vida que querem anunciar ao mundo não passa de um rascunho mal elaborado que com o tempo acaba por não funcionar. 

Aquelas selfies que não o são com todos os cuidados do mundo, com a roupa emprestada, a paisagem onde estiveram de passagem é vista sim, mas com o tempo alguém acredita que aquilo é assim tão real e que a vida daquelas pessoas acontece somente entre hotéis de luxo, praias e festas? Será que quem está a partilhar vidas de fachada tem noção que é notório que as vidas não são assim tão belas como as querem fazer pintar para passar aos outros? Vocês trabalham, acordam sem maquilhagem, cozinham, depilam-se, dizem asneiras quando se aleijam e até podem ter uma unha encravada, no entanto tudo é tão belo que até parece que não precisam do emprego onde ganham pouco mais que o ordenado mínimo nacional, visitam lojas da moda mais baratas e dividem o menu do almoço com a cara metade porque não têm fome para mais. Isso é a realidade de quem só mostra o novo fato de banho ao longe para não se ver a marca porque foi comprado numa loja online diretamente da China mas que parece igualzinho ao da Calzedonia, os ténis da Primark que são uma boa imitação de lado mas de forma disfarçada dos da Nike, o chinelo da Lefties que parece os da Havaianas. Tudo mostrado ao longe, de forma a não mostrar diretamente o local das marcas, num estudo de mercado bem conseguido para se mostrar o que não se é. Meus caros, quem vos conhece depois percebe que não têm nada a não ser demonstrações de grandeza quando na realidade se percebe que de grande nada têm à vista, só se for a imaginação para se fazerem passar pelo que não são. 

Histórias contadas

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Histórias existem, histórias ficam e são contadas! Adoro ler histórias, daquelas que preenchem pela empatia que rapidamente criam com o leitor, envolvendo e criando um ritmo onde o suspense e a curiosidade se aliam para que se pretenda saber mais sobre o que irá acontecer pelos momentos seguintes. No entanto se ler e ver histórias ficcionais é bom para que possamos viajar com personagens por vezes inspiradas em realidades, o que dizer sobre histórias reais contadas na primeira pessoa como uma reflexão partilhada? Simplesmente adorável!

Por muito que por vezes se pense que já ouvimos aquela ou a outra história sobre um certo momento da vida de alguém, sentar em torno de uma mesa a conviver e viajar pelas palavras que surjam através de memórias lúcidas transporta o ouvinte para outros tempos onde cada local serviu como recetor de vidas que se tornaram passado. Pensamentos recordados de pequenos e por vezes simples gestos onde o que pareceu na altura um ponto numa vida que acabou por se transformar numa viragem que terá marcado e ficado na memória de quem a viveu. Como é bom ouvir uma história real de quem já muito viveu, passar bons momentos a escutar, a questionar, puxando pela memória de quem viveu e viajando por outra época ao sabor de costumes diferentes dos que existem nos dias que correm.

Poder ouvir escutando o que existe para contar, partilhando espaços e unindo pedaços que foram criados em torno de uma história única, partilhada e singular, onde cada ser é um ser, e consoante os anos passam mais são as raízes que vão ficando para alimentar e deixar para que os ouvintes possam receber um pouco de cada memória. 

Cusco de conversa indesejada

Por vezes surgem momentos em que preferes não estar onde estás! É verdade, existem alturas em que era preferível não marcarmos presença em certos locais só para não ter de ouvir coisas que não te dizem respeito mas que são temas onde pessoas que bem conheces são o tema central.

Conversa de café, não sabendo ou não querendo saber que sou mais que um conhecido de alguém, e eis quando na mesa ao lado começas a perceber que comentam sobre a vida de uma pessoa em questão. Primeiramente ficas atento porque começas a conhecer em parte a história mas quando o nome surge tens a certeza que o teu radar está a funcionar corretamente. Ficas calado, ouves tudo, não te consegues concentrar na leitura que estás a fazer porque ficas curioso e a tua faceta de cusco logo aparece. 

Ouves tudo, começas a ficar com vontade de dizer alguma coisa, pensas em ir embora mas continuas até que a grupeta se levanta e segue a sua viagem, talvez continuando com o mesmo tema pelo caminho ou não. Só sei que preferia não ter ouvido falarem de pessoas que conheço nas suas costas, para mais quando de imediato consegui identificar o tema central e interpreto-o de outra forma. Mas cada qual tem sempre a sua visão independente e diferente da do vizinho do lado sobre um determinado tema, e na vida alheia isso não é exceção.

Vidas mal resolvidas

Por vezes quando contamos histórias de vida que conhecemos existem pessoas que não acreditam! Será que existem seres que com as suas capacidades de fazerem tudo e mais alguma coisa conseguem surpreender mesmo quem nem as conhece? Existem sim!

Pois é! Ao contar peripécias e várias situações de uma só pessoa, que tem um novelo bem longo de situações humilhantes onde a própria se enrola e acaba por levar os mais próximos atrás, ninguém acredita. São auto humilhações a mais para um só ser. Amantes, traições, vídeos, imagens, pedidos, enganos, compras, ofertas, objetos, conversas, dinheiro, noção... Tanta coisa que por aqui poderia descrever relacionado com todos estes temas e com uma só pessoa e acredito que quem lesse não iria acreditar, achando que estaria a inventar tudinho. Cada conto é um conto e todos juntos dariam um grande livro, daquelas longas obras onde novos pormenores vão sendo acrescentados ao ponto de deixar o leitor bem surpreendido por não ser possível cair ainda mais numa humilhação própria perante os outros. 

Será que os errantes desta vida não conseguem perceber com o tempo e com as várias pedras que os próprios colocam no caminho que têm de mudar o seu rumo ou parar de criar situações onde só se prejudicam? Acredito que quem faz uma, duas e três e é perdoado que mais cedo ou mais tarde volta a fazer a quarta, a quinta e por ai fora porque não tem emenda, mas não será humilhação fazer tudo de forma tão descarada socialmente e ainda se fingir um santo sem pecados?!

Desconhecidos e Cruzados

No trajecto de casa para o trabalho ao longo do tempo é normal que se comecem a conhecer os carros e os ocupantes de quem se cruza connosco diariamente. Isso acontece-me e quando em determinados locais os dias sucedem-se e aquele veículo que marca pela sua cor, aquela pessoa que sempre vem ao telemóvel ou a mãe da criança dos caracóis não se cruzam comigo é caso para se estranhar. 

Não vos acontece reconhecerem dia após dia várias das pessoas com quem se cruzam na estrada só porque têm os mesmos horários e seguem rotas idênticas só que em sentidos opostos? Ao longo dos nove anos em que trabalho no mesmo local existem uns quantos cidadãos com quem me cruzo quase sistematicamente, sabendo que naquele local, mais coisa, menos coisa, lá nos iremos cruzar se tudo estiver dentro do eixo para ambos. 

O que terá acontecido ao tripulante da última curva antes mesmo de entrar ao serviço no horário das nove? Desapareceu! Com o estado do desemprego actualmente a resposta poderá estar relacionada, mas nunca se sabe!

Todos os dias nos cruzamos com desconhecidos que vamos conhecendo ao longe e cujos quais nada sabemos para além de que devem entrar ao serviço à mesma hora que nós, num local perto de nós e que também nos devem reconhecer ao longe só por verem o aproximar do veículo!

Insensível, eu? Nãooooooo!

Serei assim tão insensível para não conseguir ter pena ou ficar perplexo com as histórias de vida que os novos colegas de trabalho contam logo nas primeiras conversas que vão tendo?

Podem-me acusar de ser frio e trapel a sete, mas conforme os anos passam menos consigo encontrar verdades nas pessoas que vou conhecendo por obrigação laboral durante uns meses. Como o passado já revelou mentiras atrás de mentiras de vidas que muitas vezes nem existiam na proximidade da realidade, nos dias que correm estou sempre com um pé atrás com o que vão desfiando com os primeiros impactos sem quase lhes ser perguntado nada. 

Sim amigos, eu não quero que me contem a vossa vida porque não vos irei pagar contas, alterar o passado ou melhorar o que poderá ter sido o vosso sofrimento. Ouço, vou proferindo aquelas palavras de bom ouvinte como o «sim», «pois», «isso é chato» e a narrativa prossegue talvez para me conseguirem emocionar ao estilo dos entrevistadores dos programas de conversa que levam os seus convidados ao choro. 

Protecção literária

Aquelas pessoas que afirmam que ler é desperdiçar tempo não sabem mesmo do que falam e devem adorar viver no seu mundo onde não existem reflexões, comentários e debates. Ao ler reflete-se sobre os diversos temas que vão aparecendo ao longo das histórias e isso é tão melhor que andar por aí em busca da imperfeição da vida alheia.

Ando a ler O Pintassilgo, tal como já tinha revelado, e ao longo da leitura das duas primeiras partes desta obra, que me está a conquistar, dei por mim a pensar em como uma pessoa viúva ou separada sem saber onde o seu antigo parceiro foi parar lida com o pensamento da própria morte quando existem filhos menores ao seu cuidado.

Tenho amigos e conhecidos que foram criados simplesmente com um dos progenitores e ao longo das primeiras cem páginas da obra de Donna Tartt fui pensando em como seria a vida de x ou y se o seu principal e único cuidador faltasse quando ainda existissem vários anos pela frente enquanto criança? O que um pai/mãe pensa ao longo dos anos em que é o único sustento das suas crias sobre a possibilidade, porque existe sempre a hipótese de acontecerem fatalidades, de uma perda? Onde ficam as crianças nessa altura, com quem, quando por vezes não existem avós com condições para os aceitarem ou familiares próximos capazes de se chegarem à frente? Situações complicadas que por vezes atiram jovens para instituições porque a vida não lhes foi meiga com a perda, por variados motivos, de quem mais os queria ver bem.

Vidas alteradas

A vida está sempre sujeita a entrar na roleta gigante da mudança! Os ricos e poderosos de sempre conseguem passar com uma facilidade tão grande para o outro lado que deixam os que já lá estão e que aos poucos esperam ganhar novas vidas estáveis surpreendidos!

Há dias, em conversa aqui por casa, perguntava eu por uns primos de primos que fiquei a saber tinham deixado as empresas construídas, os estabelecimentos abertos e a casa onde viviam desde casados porque as dívidas começaram a surgir, os gastos, muitas vezes supérfluos, elevaram-se perante os lucros e o abandono da vida que parecia risonha desde o início desapareceu.

Nos tempos que correm voltaram a ser empregados, quem sabe de alguém a quem deram emprego por outras alturas, vivem numa pequena casa de renda, longe da família, talvez por vergonha ou para que não tenham as suas novas vidas expostas aos mais próximos dia após dia.

Atual leitura... Se Isto É Um Homem

Primo Levi é dos autores mais vendidos mundialmente pelos seus testemunhos pessoais e narrativas criadas sobre passados sangrentos vividos em torno de Auschwitz. Há mais de um ano que comprei Se Isto É Um Homem pela Feira do Livro de Lisboa mas sempre fui adiando a sua leitura por achar que estava perante um livro com poucas páginas mas algo maçador, porque eu e os temas históricos não andamos de mãos dadas. Agora, porque ando numa onda de tentar ler os livros mais finos que tenho aqui por casa para despachar números ao mesmo tempo que coloco em dia a prateleira das esperas, resolvi optar por pegar neste retrato do Holocausto contado na primeira pessoa pelo autor que já partiu mas que deixou obra entre nós. Pelos próximos dias terei então como companheiro literário Se Isto É Um Homem, a primeira obra de Primo Levi que leio!