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O Informador

Touradas cruéis

Na sala os meus pais insistem em continuar a ver touradas e mais touradas como se aquele espetáculo degradante tivesse bons momentos para aplaudir.

Enfim, nem sempre os gostos familiares são passados de geração em geração. Embora em criança tenha adorado o mundo tauromáquico, hoje abomino completamente e continuo sem perceber quem defende esta prática matadora de animais indefesos num completo show da vida sanguinária ao vivo. 

Vejam as farpas a serem espetadas num touro e imaginem que é em vós, público que venera uma arte histórica tão miserável, que tal crueldade é imposta!

Matadouro

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Jornal i mostrou uma História de uma morte anunciada em fotoreportagem, revelando como um matadouro em Santarém funciona. Com cerca de 500 animais a serem abatidos diariamente, entre novilhos e borregos, existe, tal como é referindo por um trabalhador anónimo, quem não se orgulhe de trabalhar naquele local. 

Confesso que este seria um dos locais onde não conseguiria sobreviver enquanto trabalhador por muitas horas! Sangue, sons de animais a chorar, «o que mais me custa é ouvir o choro dos borregos antes de morrerem. Parecem bebés autênticos», é revelado por um funcionário anónimo da empresa. 

Vejo um rapaz que morde as unhas e sangra tinta

«Vejo um rapaz que morde as unhas e sangra tinta»

Barbara Kingsolver, em A Lacuna

Um bom escritor não o é pelo número de vendas que faz anualmente ou por fazer mais presenças junto do seu público, não sendo a quantidade de venda que define o bom do mau, mas sim a qualidade que na maioria dos casos não é valorizada. Um bom escritor não se valoriza a sim mesmo, trabalha arduamente para ter uma obra com que se identifique e morde as unhas para sangrar tinta sempre que a sua criação não está a seguir o caminho desejado. 

Na literatura existe notoriamente o que acontece em tudo na vida. Os bons com sucesso, os bons sem sucesso e os maus que triunfam ou ficam logo pelo caminho. Na maioria dos casos e a longo prazo, só quem realmente tem queda para as coisas consegue permanecer intocável e vai continuando a somar sucessos que os fazem crescer consoante os anos de carreira. Mas os bons autores só o são através de muita luta interior onde a crença de que se consegue fazer melhor do que o passado e para seu próprio bem os leva a conseguirem ultrapassar-se a si próprios.

Acredito que na literatura os bons são os que depois de anos de carreira a escrevem para si, mas mostrando aos outros o seu trabalho, já não se têm que preocupar com o que o público vai pensar das suas novas criações. Quem gosta de escrever por amor não o faz a pensar em quem lê, mas sim nos seus atuais sentimentos e ambições.

Um autor que será reconhecido após a sua morte e não daqueles que escrevem e escrevem e que não deixam obra feita faz tudo com gosto pelas letras e pela imaginação e não a pensar na sua economia. Os bons que sangram tinta não existem assim tanto por aí neste mundo que é cada vez mais feito a pensar no presente e no salva-se quem puder diário, deixando as coisas bem criadas para outros prismas.

Hoje faz-se tudo para se sobreviver e a pensar se a sociedade vai ou não gostar do que está a ser planeado e preparado, fazendo com que o rigor e qualidade deixem a desejar face a outros tempos. Já não existem assim tantos rapazes que mordem as unhas e sangram tinta!