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O Informador

Worst Of | Teatro Nacional D. Maria II

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Não é incomum, ao longo dos tempos, escutar-se a opinião de um atraso crónico do teatro português, por comparação com as outras artes. Worst of propõe-se a passar os olhos pela história do teatro nacional à sombra desta impressão. Para isso, um "best of" de atores nacionais dará voz às lamurias com a ajuda de exemplos que confirmam o desalento. Worst of não é uma celebração.

Worst Of chegou à Sala Garrett do Teatro Nacional Dona Maria II para fazer uma visita à história do teatro em Portugal, com oportunidade para que a opinião nos tempos que correm seja dada de forma feroz e impactante, mostrando como existe uma falha sobre tudo o que foi feito, parecendo faltar evolução no que é feito e que chega, como é bem reforçado em palco, a ser uma «merda» pela falta de vontade em fazer mais, em ser diferente, arriscar e não continuar a ser mais do mesmo, poupando esforços e não procurando alterar ou fazer em condições um bom espetáculo cultural.

Esta criação do Teatro Praga e que conta com a interpretação de Rogério Samora, São José Correia, Márcia Breia, Vítor Silva Costa, Cláudia Jardim, Diogo Bento, Patrícia da Silva e Pedro Penim, divide-se em dois palcos, onde o passado é representado para ser comentado pelo presente. Recorrendo a textos de André Brun, Júlio Dantas, Gil Vicente, Luís de Sttau Monteiro, J.M. Vieira Mendes, Francisco Gomes de Amorim e Almeida Garrett, Worst Of une assim o passado histórico do teatro, dos primórdios sucessos aos grandes fracassos, a um texto debatido e que já havia sido recusado pela direção do Teatro Nacional Dona Maria II em 2006, ganhando agora vida em 2018. 

Santa Bárbara da São

São José Correia dispensa apresentações e agora que protagoniza com Benedita Pereira e Albano Jerónimo a nova novela da TVI, Santa Bárbara, só tenho uma coisa a dizer para a sua prestação no primeiro episódio... Arrasadora!

A grande e principal vilã desta aposta do canal encaixou na perfeição no perfil da atriz que já mostrou a sua versatilidade em tantas personagens, quase todas em modo sexy, mas diferentes entre si. 

Santa Bárbara se continuar assim tem muito por onde se lhe pegar mas terá sempre um grande centro... São José Correia, que arraso de interpretação que também só é permitida graças ao bom texto que lhe colocaram em mãos! Gostei desta estreia do autor que já tinha dado cartas com Belmonte! Quero mais e se possível com a Antónia no poder, porque como diz, ela manda nisto tudo!

O Preço

O PreçoTeatro Aberto surpreende-me cada vez mais com as suas apresentações e agora com O Preço em cena só posso dizer que o que estava bom nos espetáculos anteriores foi superado e em grande escala. 

Não posso começar com este texto de opinião sobre este espetáculo sem falar do espantoso cenário que logo nos primeiros minutos me conquistou e com o passar do tempo e através da descoberta da profundidade do mesmo e dos seus pequenos pormenores fiquei a perceber que este é o melhor pano de fundo que já vi em palco pelas várias salas em que pude assistir a bom teatro. Um cenário belo, inspirador e que mostra bem a realidade das quatro vidas que por ele se cruzam! Peças antigas que pretendem ser vendidas estão espalhadas pelo palco e fazem deste um sótão com a placa «vende-se» a descoberto para o público que se encontra bem acomodado à sua frente.

Quanto aos atores, a escolha não podia ser melhor. Com a bela São José Correia a mostrar como uma mulher de sonhos matrimoniais luta para a sua mudança de vida, mostrando-se a atriz com uma performance tal como eu imaginava por já admirar o seu trabalho e nunca ter tido anteriormente a oportunidade de a ver em palco. Um Marco Delgado com um homem derrotado pelos outros, que a sua vida feita de contas apertadas e onde o hoje é o mesmo do ontem e será igual ao amanhã... Delgado para mim estava no mesmo nível da São, mas agora ambos provaram-me o que valem na representação... Muito! João Perry dispensa apresentações e através deste velho negociador de artes e velharias mostra isso mesmo... Um homem do palco que sabe tão bem entreter e que tem consigo a personagem ideal da descompressão em cena quando o ambiente está pesado entre os restantes. Perry é a grande alma de O Preço, sem dúvida! Finalmente, António Fonseca, o ator mais desconhecido para mim do quarteto mas que não me deixou de conquistar... Com uma personagem de um outro calibre e com pose, António consegue mostrar excelentemente o seu poder sobre toda a vida familiar que foi acontecendo ao longo dos anos e todas as razões da separação dos dois irmãos terem acontecido. Fonseca tem para mim a peça chave do espetáculo quando me deixou pegado ao palco através da sua explicação das razões que levaram à vida de sacrifício do irmão, quando tudo podia ter sido diferente se existissem ambições do outro lado como aconteceu consigo.

Mas o cenário e os atores não podiam fazer um espetáculo deste calibre sem o excelente trabalho de Arthur Miller que se mostra ser um autor soberbo. Dois irmãos de costas voltadas encontram-se para a venda de peças antigas deixadas na velha casa do seu pai. Mas como os reencontros familiares nem sempre correm bem, depressa se percebe que existe um preço a pagar pelas opções que foram sendo tomadas ao longo das duas vidas que os dois irmãos seguiram, tão diferentes entre si. As decisões que se tomam transformam as pessoas e se por um lado um tudo teve e disponibilizou para seu próprio bem, por outro, existe o ser racional que pensa nos outros e que é em função disso que vive, fazendo com que os seus objetivos não passem de sonhos por concretizar e que ficam recalcados com o passar do tempo. A luta pelo dever e o haver faz toda a diferença porque enquanto uns triunfam os outros ficam para trás, ficando no grupo dos derrotados pela sociedade e por si próprios. Uma luta pessoal e que muda duas pessoas que cresceram no mesmo ambiente mas que foram tomando opções diferentes e que nunca mais conseguiram ser irmãos com o mesmo poder de escolha. Sem dúvida que O Preço tem um texto bem elaborado e fácil de ser entendido e aliando as cenas de tensão com o toque de comédia e de emoção, está aqui um excelente trabalho de autor que já encheu salas através desta sua grande obra.

O Preço coloca em palco as dúvidas existenciais sobre a luta por uma vida melhor, mesmo que para isso se tenha que esquecer os outros e vir a sofrer um dia. Mas existe sempre um preço para os caminhos que se seguem e se uns o pagam de uma vez, os outros vão tendo a tormenta de espadas ou o sucesso consigo ao longo de muito tempo, no entanto, nem sempre o que corre hoje correrá amanhã e tudo pode mudar e ajudar a perceber que nem sempre as escolhas feitas foram as adequadas!

O Preço não é um simples espetáculo, é um bom trabalho de autor, de atores e de equipa técnica porque o que pode ser visto no Teatro Aberto é mais do que as palavras e os gestos significam, é a história criada que transporta os espetadores para o pensamento sobre o valor que as suas opções têm ao longo do seu caminho!

«Até 28 de Julho - O Preço, de Arthur Miller, encenação de João Lourenço

FICHA ARTÍSTICA

Versão João Lourenço | Vera San Payo de Lemos

Dramaturgia Vera San Payo de Lemos

Encenação e Luz João LourençoCenário António Casimiro | João LourençoFigurinos Dino AlvesSupervisão audiovisual Nuno Neves

Com António Fonseca | João Perry | Marco Delgado | São José Correia

SINOPSENova Iorque, 1968. Dois irmãos voltam a encontrar-se, dezasseis anos depois da morte do pai, para desocuparem a casa que deixaram intacta ao longo de todos aqueles anos. Um velho avaliador vem dar-lhes um preço pelos móveis e objectos de que se querem desfazer. No entanto, a transacção não é tão simples como imaginaram: todas aquelas coisas fazem parte da história da família, estão repletas de memórias e obrigam-nos a confrontarem-se com o passado e com as escolhas que fizeram na vida.

Qual foi o preço dessas escolhas? Qual é o preço das contas que ficam em aberto? Entre o deve e o haver, o que se perde e o que se ganha? Neste encontro cheio de emoções, debatem-se as grandes questões da vida, com a esperança sempre acesa de uma maior compreensão do que é profundamente humano.»