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O Informador

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A morte é sempre um peso que surge na vida de quem fica e se vê confrontado primeiramente com o sofrimento, depois com a dor da perda. Existindo vários estados que antecedem a morte onde o sofrimento lento e devastador magoam, causando bastante dor a quem mal está e a quem trata, mas existindo também a perda rápida em que de forma quase súbita tudo termina. Onde o choque é maior?

Mais uma vez e não de forma familiar, fiquei confrontado com a morte de quem me viu praticamente nascer e crescer. Andou comigo ao colo, praticamente todos os dias me dava os bons dias quando ia para o trabalho e passava junto ao seu quintal. Há menos de uma semana fiquei sem o sorriso fácil, a disposição diária e senti essa falta. A doença levou-a para o interior de casa, descaindo de dia para dia, até que a escuridão surgiu numa madrugada.

Fui acordado quando o sol ainda mal espreitava, o INEM já estava na rua, percebi o fim, fiquei sentado na cama a refletir no que naquele momento parece não estar a existir. Aconteceu, de forma rápida, a queda vertiginosa para um poço sem fundo e onde o regresso já não acontece. Um dia começou mais cedo que o habitual, já não consegui dar a volta ao peso que logo senti e a perceção que a rua ficou mais pobre foi incrível. Quem me dá agora os bons dias quando saio do meu espaço e entro na rua? Não existe agora a vizinha, tudo se altera, ficamos mais pobres, vazios e sós. 

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As discussões sobre o luto são uma constante quando por perto alguém parte para outra vida, para quem acredita que a mesma exista. O que é o luto afinal para além das vestes escuras que os mais velhos ainda tendem a usar como sinal de respeito que do meu ponto de vista não passam de pensamentos mantidos por uma sociedade que se auto recrimina se nos tempos após a morte de alguém não se vestirem com tons escuros ou mesmo de negro?!

O luto está no interior da pessoa, nos pensamentos e sentimentos que são mantidos quando se fica sem alguém que nos é querido. Existe assim uma verdadeira necessidade, através do vestuário, para se mostrar aos outros o que se sente através das vestimenta negra? Se alguém parte qual é a necessidade de quem fica de se carregar de escuro para mostrar aos outros, porque para mim é só mesmo isso que acontece, uma demonstração social de peso, de que está triste e tem de deixar de vestir roupas coloridas porque a base da solidão e da partida é o escuro. E ai de quem numa aldeia pequena não se vista a rigor de luto que leva logo com as críticas. Isto é a verdade, nas aldeias deste país, talvez mais no interior até, quem perde um ente-querido tem de se vestir de escuro a bem da sua comunhão com os que ficam, já que caso contrário quem fica torna-se uma «viúva alegre» ou «um filho desleixado» por não respeitar a alma de quem partiu.

Onde é que numa peça de vestuário se vê o que está na verdade no coração de alguém que ficou sem o seu par ou familiar? O luto está no interior de cada um e não na demonstração para os outros. Vivam as vossas vidas sem esses pensamentos de recriminação de uma sociedade hipócrita que ainda acredita que é necessário demonstrar a tristeza com cores quando cada um sabe de si e tem no seu interior os verdadeiros motivos perante a perda. 

O receio da perda existe, é real, embora na maioria dos casos se tente abafar, não lembrando que a perda pode acontecer num instante, naquele instante com que nos deparamos quando recebemos um simples telefonema que nos transmite tristes notícias. O cérebro consegue estar preparado para a perda, mesmo quando o tempo nos leva a acreditar que a preparação aconteceu?

Nunca estamos preparados para receber más notícias, por mais que nos acalmemos no tempo antecedente que em vários casos surge. Não são necessários cursos, práticas, costumes, comportamentos, simplesmente é necessário seguir o próprio instinto na hora em que uma pedra cai, a rua parece ruir e o mundo pára para que em câmara lenta assista a uma dor que pode surgir de vários lados com diferentes formas de atacar e magoar. O que é afinal a perda para cada ser?

Uma perda preparada e agendada, lenta e complicada, rápida e espantosa. O que sentimos nos momentos em que tudo termina, as emoções se enrolam, os atritos ficam esquecidos, as mágoas ultrapassadas, o amor venerado e o carinho reforçado. O que perdemos com as partidas, boas ou más, mas são partidas que deixam marcas, daquelas que nos levam a refletir sobre o passado no presente que advém sobre o futuro sem a perda, aquela palavra que poderia significar tanto e afinal de contas apenas nos leva a acreditar que tudo pode desaparecer e terminar num fechar de olhos bem abertos porque a realidade não nos prepara para as surpresas e mágoas que nos faz. 

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