Fernando (Pessoa), Franz (Kafka) e Jorge (Luís Borges) são o trio protagonista de No Meu Peito não Cabem Pássaros, o livro com que Nuno Camarneiro se estreou na literatura mas que só ficou conhecido pelo público após ter ganho o Prémio Leya 2012 com Debaixo de Algum Céu. Até aqui não conhecia nada deste jovem autor, mas de uma coisa tenho a certeza, agora que experimentei esta escrita apaixonante e envolvente, não vou largar mais!
Embora as personagens principais desta obra sejam bem conhecidas dos amantes de literatura, estas podem passar ao lado de quem lê este livro se não existir pesquisa sobre o mesmo antes da sua leitura acontecer. Fernando, Franz e Jorge vivem nos seus mundos e são as suas vidas que dão todo o mote para as três histórias serem contadas de forma absorvente onde só uma escrita simples emparelhada com ideias claras e poderosas acontece.
Distinguindo os três nomes conhecidos através da sua localização, mas também da sua escrita, Nuno Camarneiro mostra três personagens distantes pelos cantos do mundo, diferentes entre si, mas iguais no seu intimo, onde cada um busca as suas coisas consoante os seus ideais, procurando na escrita e na partilha os seus verdadeiros sentimentos que não são compreendidos pelos outros.
Ao longo da leitura que fui fazendo deu-me vontade de pedir mais sobre estes três homens a Nuno Camarneiro. Queria ver mais na sua escrita sobre Pessoa, Kafka e Borges e um livro talvez sobre o nosso Fernando escrito pelas mãos deste homem não seria nada desvalorizado porque em No Meu Peito não Cabem Pássaros consigo encontrar pessoas, sentidos, prazeres e frustrações à flor da pele.
Sinopse
Que linhas unem um imigrante que lava vidros num dos primeiros arranha-céus de nova iorque a um rapaz misantropo que chega a lisboa num navio e a uma criança que inventa coisas que depois acontecem? Muitas. Entre elas, as linhas que atravessam os livros.
Em 1910, a passagem de dois cometas pela Terra semeou uma onda de pânico. Em todo o mundo, pessoas enlouqueceram, suicidaram-se, crucificaram-se, ou simplesmente aguardaram, caladas e vencidas, aquilo que acreditavam ser o fim do mundo.
Nos dias em que o céu pegou fogo, estavam vivos os protagonistas deste romance – três homens demasiado sensíveis e inteligentes para poderem viver uma vida normal, com mais dentro de si do que podiam carregar.
Apesar de separados por milhares de quilómetros, as suas vidas revelam curiosas afinidades e estão marcadas, de forma decisiva, pelo ambiente em que cresceram e pelos lugares, nem sempre reais, onde se fizeram homens. Mas, enquanto os seus contemporâneos se deixaram atravessar pela visão trágica dos cometas, estes foram tocados pelo génio e condenados, por isso, a transformar o mundo. Cem anos depois, ainda não esquecemos nenhum deles.
Escrito numa linguagem bela e poderosa, que é a melhor homenagem que se pode fazer à literatura, No Meu Peito não Cabem Pássaros é um romance de estreia invulgar e fulgurante sobre as circunstâncias, quase sempre dramáticas, que influenciam o nascimento de um autor e a construção das suas personagens.