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O Informador

Refeições de moleza

As recordações de infância são sempre uma mistura de bons e maus momentos da altura que se refletem em boas ideias sobre o que nos foi acontecendo. Na verdade percebo aos trinta que tive uma infância feliz, com pais que me amam, com uma família que sempre me deu mimo e com uma curiosidade e rebeldia de criança que em casa era uma coisa e na rua perante a sociedade era outra. 

Hoje apetece-me comentar o facto de ser um autêntico caracol no que toca a refeições. Lembro-me tão bem dos tempos de escola primária em que ao longo de uma hora ia até casa para almoçar, o que sempre foi bom por viver na terrinha, e conseguia demorar todos aqueles sessenta minutos a comer. Não, não era porque o prato estava cheio demais, era sim porque até mais ou menos aos dez anos era um molenga de primeira para comer. Demorava eternidades a tomar uma refeição, tentavam que comesse sozinho mas para o fim da hora já me tinham de ajudar para que não voltasse para as aulas de estômago vazio. Conseguia sentar-me à mesa e ficar a olhar para o prato, escolhendo o que colocar no garfo e nada levar até à boca para me despachar. Claro que aquela hora raramente acabava bem porque a vontade de comer era pouca, depois começavam a ralhar, ajudavam e por vezes acabava mesmo por apanhar uma lambisca para tentarem que comesse alguma coisa de jeito. E quando era peixe então tudo se tornava bem pior, uma autêntica tortura. 

Hoje envergonho-me dessa má fase que dei aos meus pais que se viam aflitos para que conseguissem fazer-me comer alguma coisa mas lembro-me daquelas inúmeras situações em que sentado numa mesa branca redonda ficava de olhos postos no prato e de boca fechada.