Vanya e Sonia e Masha e Spike
A Yellow Star Company presentou os espetadores neste início de ano com uma hilariante comédia de Christopher Durang, que ao ter pegado em várias personagens de Anton Tchékhov, construiu um divertido trabalho que tem despertado o interesse do público pelos países por onde tem passado, após conquistar a Broadway e ser eleita como a vencedora de vários troféus teatrais.
Com encenação de Paulo Sousa Costa, Vanya e Sonia e Masha e Spike conta no elenco com Helena Isabel, Heitor Lourenço, João Mota, Marina Albuquerque, Mané Ribeiro e Mafalda Luís de Castro que ao longo de duas horas divertem o público através deste espetáculo onde a sátira e os afetos convivem lado a lado com a presença num seio familiar primeiramente disfuncional e onde tudo parece correr da pior maneira. Uma estrela televisiva, dois irmãos que se aturam durante anos sem ideias quanto ao futuro, um jovem aspirante a ator, uma empregada com visões e comportamentos fora do comum e uma jovem sonhadora constituem os anfirtrões deste trabalho inspirado nas personagens de Anton Chekhon. Mesmo quem não conheça a malévola Arkádina e o seu irmão Piotr Sórin, a Nina de A Gaivota, o tio Vânia com a sobrinha Sónia e as Três Irmãs consegue tirar partido desta comédia do início ao fim, acabando por receber mensagens pessoais para com os comportamentos humanos que ao longo do tempo se podem transformar mas na verdade acabam por nunca mudar.
Uma comédia divertida, bem disposta e que arranca de forma fácil o riso são os componentes de Vanya e Sonia e Masha e Spike que tem tudo para se transformar num dos novos sucessos da produtora que não tem medo de arriscar em produções que várias vezes fogem do que se sabe ser um sucesso logo à partida. Um elenco extremamente coeso e que tenho a confessar que acabei por ficar surpreendido por vários motivos. Primeiro Helena Isabel é a divã do palco neste espetáculo, brilhando e mostrando porque sempre tem estado ligada ao longo de todos estes anos. Mané Ribeiro é para mim a surpresa do elenco, primeiro porque a atriz está bastante associada a comédia mas com personagens fúteis, graças às variadas séries televisivas em que entrou e aqui, embora volte a fazer comédia, a sua Sonia tem uma fonte sentimental e de tristeza que passa tão bem para o público. Heitor Lourenço é o ator que sem dar muito nas vistas ao longo dos anos, sempre tem marcado o seu lugar e neste espetáculo acaba por ser um pouco a balança que consegue ter tudo ao seu redor. Marina Albuquerque ficou talvez com a personagem mais excêntrica do momento, encaixando-lhe na perfeição a Cassandra que vai de encontro ao perfil da atriz como se tivesse sido escrita precisamente para si. Mafalda Luís de Castro é das jovens promessas que mostra a razão pela qual dá cartas desde pequena, sendo um dos rostos do futuro. E João Mota, o meu pequeno receio, é a revelação e que me levou a pensar em qual seria a razão da sua escolha. Afinal de contas João Mota virou mesmo um ator, cada vez mais completo e que encaixa neste elenco com anos e na maioria décadas de profissionalismo em cima como se nada tivesse acontecido. Grande surpresa, confesso!