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O Informador

Corta papel de infância

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As lembranças fazem-se sentir e acabei de me recordar de uma fase pela qual passei em criança em que as folhas da imprensa serviam como meio de entretenimento durante horas e horas, enchendo sacos e mais sacos de completo lixo.

Talvez entre os sete e os nove anos e ao longo de um período ainda justificável de meses, passei por uma fase em que todas as revistas, jornais e folhas que aparecessem por casa era guardados para serem recortados. Todos os papéis que apanhava que já não fizessem falta ficavam amontoados num canto da sala onde me entretinha várias horas por dia a cortar papel para nada. Uma folha de revista, por exemplo, cortava em modo cobra ou às tiras e depois desse trabalho inicial a tesoura continuava em funções para transformar cada tira em pequenos quadrados que se iam multiplicando em sacos e mais sacos. Podes imaginar sacos de plástico do supermercado e caixas de papelão com papéis e mais papéis cortados do tamanho de uma unha. Sim, era desse modo que transformava cada folha que apanhava.

Sei que muitos dos sacos iam para o lixo e que na altura nem ligava ao que ia fazendo e desaparecia cá de casa, mas hoje a lembrança surge e percebo que tendo um saco cheio e outro a caminho que os mais antigos iam sendo levados para o lixo, que era onde todo aquele papel devia ter sido colocado logo quando deixou de fazer falta em casa. O entretenimento que tinha nesses longos meses era cortar papel aos bocados, resultado de ser filho único, numa época sem computadores, telemóveis e afins com tudo o que existe nos dias que correm. Sei que enquanto estava naquele meu trabalho ficava calado e vivia no meu mundo fechado e por isso acabava por ser ao mesmo tempo um escape para os pais que me tinham no sossego, embora estivesse a empregar o meu legítimo tempo para nada. 

Literatura para finais de Agosto

Sugestões

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Agosto é mês de férias e em momentos de pausa as leituras costumam fazer companhia a todos nós para que o descanso seja passado também na companhia de boas histórias criadas para nos entreter, inspirar e ajudar. A pensar nos próximos dias, uma vez que também irei estar a descansar, optei por criar um texto sugestivo sobre alguns dos livros que estão a ser lançados e que parecem poder ser a companhia ideal para os diferentes gostos literários. 

 

Três Mulheres, de Lisa Taddeo, é um dos livros mais vendidos e falados do ano, sendo um retrato real da sexualidade e intimidade das mulheres. Três histórias verídicas que são relatadas com base num trabalho de investigação que se prolongou por dez anos. Este é um livro de memórias e testemunhos destinado aos leitores que gostam de conhecer histórias verídicas com que se possam identificar. 

 

O Anjo Caído é o thriller de Daniel Silva que volta a colocar Gabriel Allon no centro de toda a ação quando é chamado a entrar no Vaticano para uma nova investigação onde o futuro do planeta pode estar comprometido se tudo não ficar resolvido a tempo. Um regresso do autor e da sua personagem central a um espaço que já é bem conhecido pelos leitores que seguem a obra de Daniel Silva. 

 

Pepetela lançou Jaime Bunda e a Morte do Americano, livro que é lançado em Portugal pela Dom Quixote. Neste novo romance o regresso do divertido James Bond angolano e das suas aventuras acontece e as novas aventuras acontecem em Benguela, debatendo uma sociedade que Pepetela bem conhece. 

 

Um livro que promete perante os volumes já lançados é a terceira parte de A Revolta de Atlas, da autoria de Ayn Rand. Numa mistura de thriller com filosofia e questões que envolvem política, metafísica, economia, sexo e ética, neste livro a forma de estar e pensar de Ayn Rand é descrita para que o leitor se debata sobre os seus ideais. Não conheço os volumes anteriores, mas acredito que estes livros sejam uma celebração da vida e do positivismo com que a enfrentarmos. 

Histórias contadas

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Histórias existem, histórias ficam e são contadas! Adoro ler histórias, daquelas que preenchem pela empatia que rapidamente criam com o leitor, envolvendo e criando um ritmo onde o suspense e a curiosidade se aliam para que se pretenda saber mais sobre o que irá acontecer pelos momentos seguintes. No entanto se ler e ver histórias ficcionais é bom para que possamos viajar com personagens por vezes inspiradas em realidades, o que dizer sobre histórias reais contadas na primeira pessoa como uma reflexão partilhada? Simplesmente adorável!

Por muito que por vezes se pense que já ouvimos aquela ou a outra história sobre um certo momento da vida de alguém, sentar em torno de uma mesa a conviver e viajar pelas palavras que surjam através de memórias lúcidas transporta o ouvinte para outros tempos onde cada local serviu como recetor de vidas que se tornaram passado. Pensamentos recordados de pequenos e por vezes simples gestos onde o que pareceu na altura um ponto numa vida que acabou por se transformar numa viragem que terá marcado e ficado na memória de quem a viveu. Como é bom ouvir uma história real de quem já muito viveu, passar bons momentos a escutar, a questionar, puxando pela memória de quem viveu e viajando por outra época ao sabor de costumes diferentes dos que existem nos dias que correm.

Poder ouvir escutando o que existe para contar, partilhando espaços e unindo pedaços que foram criados em torno de uma história única, partilhada e singular, onde cada ser é um ser, e consoante os anos passam mais são as raízes que vão ficando para alimentar e deixar para que os ouvintes possam receber um pouco de cada memória. 

Invenções

Serei desconfiado de mais ou existem pessoas que conseguem inventar histórias e mais histórias sobre todos os problemas que supostamente lhes batem à porta? Poderei estar a ser mau, mas existem vidas que parecem tiradas de uma novela com um enredo tão elaborado que as mesmas personagens conseguem morrer e voltar a conviver com a sua família logo nos momentos seguintes.

Não quero ser mau e por isso prefiro acreditar que sou desconfiado demais e que afinal existem pessoas que não têm sorte alguma, tendo tudo e mais alguma coisa a bater-lhes à porta, dia após dia! É que mal parecem resolver uma situação e logo no dia seguinte aparecem com nova história com uma nova narrativa e onde volta e meia as contradições também vão aparecendo!

Entrada no estacionamento

Dois amigos dentro de um carro a entrarem para um parque de estacionamento de um centro comercial lisboeta em boa conversa onde a animação reinava e a pressa fazia-se sentir porque a sessão de cinema a que íamos assistir não esperava. 

Na fila para entrarmos no parque esperamos, entramos e quando o veículo já estava parado reparei que não tinha o bilhete para no final pagar e poder sair livremente do local. Ah pois é! Como é que entrei sem tirar o ticket? Ainda hoje não sei, só desconfio, confesso! Assim que dei pela falta do cartão logo fui até à recepção do parque, expliquei a situação, pediram-me a matrícula e para além de não a saber de cor, tive de voltar atrás para pegar nos documentos do carro. Matrícula fornecida, a hora mais ou menos de entrada dada e uns cinco minutos de espera para confirmarem a entrada que me parece ter sido feita como uma colagem ao veículo da frente. Os minutos passavam, a sessão estava prestes a começar, eu que odeio chegar atrasado a algum lado começava a ficar stressado e lá surgiu o novo ticket para resolver o problema!

Protecção literária

Aquelas pessoas que afirmam que ler é desperdiçar tempo não sabem mesmo do que falam e devem adorar viver no seu mundo onde não existem reflexões, comentários e debates. Ao ler reflete-se sobre os diversos temas que vão aparecendo ao longo das histórias e isso é tão melhor que andar por aí em busca da imperfeição da vida alheia.

Ando a ler O Pintassilgo, tal como já tinha revelado, e ao longo da leitura das duas primeiras partes desta obra, que me está a conquistar, dei por mim a pensar em como uma pessoa viúva ou separada sem saber onde o seu antigo parceiro foi parar lida com o pensamento da própria morte quando existem filhos menores ao seu cuidado.

Tenho amigos e conhecidos que foram criados simplesmente com um dos progenitores e ao longo das primeiras cem páginas da obra de Donna Tartt fui pensando em como seria a vida de x ou y se o seu principal e único cuidador faltasse quando ainda existissem vários anos pela frente enquanto criança? O que um pai/mãe pensa ao longo dos anos em que é o único sustento das suas crias sobre a possibilidade, porque existe sempre a hipótese de acontecerem fatalidades, de uma perda? Onde ficam as crianças nessa altura, com quem, quando por vezes não existem avós com condições para os aceitarem ou familiares próximos capazes de se chegarem à frente? Situações complicadas que por vezes atiram jovens para instituições porque a vida não lhes foi meiga com a perda, por variados motivos, de quem mais os queria ver bem.