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O Informador

Chicago | Teatro da Trindade

Força de Produção

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Finalmente e muito graças ao prolongamento de temporada, fui ver o musical Chicago ao Teatro da Trindade, em Lisboa. Como a ocasião é que permite a opinião, tenho a dizer que o sucesso deste espetáculo é merecido, percebendo assim as sessões esgotadas e a necessidade de prolongarem por mais uns meses esta produção encenada por Diogo Infante. 

Com o elenco composto por Gabriela Barros, Soraia Tavares, Miguel Raposo, José Raposo, Catarina Guerreiro, Ana Cloe, Carlota Carreira, Catarina Alves, Filipa Peraltinha, Leonor Rolla, Mariana da Silva, Sofia Loureiro, David Bernardino, Gonçalo Cabral, João Lopes, JP Costa, Pedro Gomes e Ricardo Lima, Chicago é mesmo um dos espetáculo de 2019 com direito a prolongamento em 2020. Numa história conhecida há anos através do filme e das várias representações pelos palcos mundiais, finalmente chegou a Portugal Chicago, onde a história de duas rivais de vaudeville, que são acusadas de assassínio, nos anos 20, é contada. Velma, interpretada por Soraia Tavares, e Roxia, ao encargo de Gabriela Barros, são as heroinas desta história que envolve sexo, crime, prostituição, ambição e bastante persuação pelas influências numa cidade que vive de enganos perante a grandeza e com todo o mundo obscuro a viver mesmo ao lado da grandeza. 

Bem encenado e com um bom modelo de palco que permite rápidas passagens entre cenas, Chicago no Teatro da Trindade pode não ter a grandiosidade de outros palcos mundiais, no entanto consegue surpreender. Com uma Gabriela Barros em grande destaque que vai para além da sua personagem pelo bom desempenho da atriz, uma Soraia Tavares que vai atrás mas que para mim deixou algo a desejar perante o que já a vi fazer, um José Raposo com uma personagem que só um grande ator podia interpretar para sair bem e ter algum impacto junto do público e um Miguel Raposo, sim o filho, a ser a surpresa que desconhecia dos palcos por agarrar a atenção e pela boa dicção e interpretação que vai para além das expressões verbais, Chicago segue bem e recomenda-se por mais uns tempos, sem mexidas e sem paragens!

Suite 647 | UAU

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Suite 647, Uma Viagem no Tempo Num Quarto de Hotel

Suite 647, peça encenada por Fernando Gomes, sobe ao palco do Auditório dos Oceanos do Casino Lisboa, a 11 de abril. O guião, escrito originalmente em 1994 pelo escritor e dramaturgo inglês Alan Ayckbourn, foi traduzido e adaptado por Fernando Villas-Boas. Em cena, os atores Gabriela Barros, Jorge Corrula, Manuela Couto, Ruben Madureira, Sérgio Praia e Sissi Martins cruzam-se, entre portas, em três épocas distintas. Se a premonição nos permite mexer no destino e mudar a sina, sim. Pelo menos é isso que esta trama, tão atual quanto assertiva e intricadamente inteligente, nos revela. Suite 647 é uma história que se passa num quarto de hotel em 2038, mas também em 2018 e em 1998. De visita a um cliente num hotel, Poupée teme pela própria vida e foge pela primeira porta que se atravessa no seu caminho. Olhando ao seu redor, descobre-se no mesmo quarto de hotel... 20 anos antes. À sua frente, Renata, uma mulher que morreu há precisamente 20 anos, ou seja, nesse mesmo dia. Parece confuso? H. G. Wells diria que não e que o tempo se encarrega de reescrever a história de todas as personagens envolvidas na trama. Eis uma comédia com muito suspense, obscura, tal como no jogo de tabuleiro Cluedo: todo o elenco é, na sua essência, um agente de mudança.

Suite 647 apresenta-se ao público como uma comédia negra onde um quarto de hotel dividido em três épocas distintas forma todo um cenário onde momentos peculiares entre as várias personagens vão surgindo, numa mistura de passageiros do tempo com a ideia de tirem-me deste filme. 

Poupée, a personagem central excelentemente interpretada por Gabriel Barros, torna-se o centro de todas as atenções logo quando entra em palco, desinibida, apresentando-se como uma prostituta sem pudores. Chegada ao quarto do seu cliente, o serviço que esperava ter pela frente revela-se bem diferente, mais calmo e sem ser necessário usar os seus melhores trunfos. Só que nem tudo é assim tão fácil e sem esperar Poupée, em pleno 2038, vê-se perante uma confissão que a deixa em pânico. É que o seu cliente, Ricardo, interpretado por Sérgio Praia, matou, ou melhor, mandou o seu melhor amigo, o Julião de Rúben Madureira, matar as suas duas esposas. A fuga é o seu instinto, mas entrando num armário que se virá a descrever como um portal do tempo, acaba por entrar no mesmo quarto, mas recuando até 2018, encontrando um passado rocambolesco.

Chegada a 2018 encontra justamente a segunda mulher de Ricardo, Renata, com Manuela Couto a brilhar sem hesitações. Poupée encara esta mulher sozinha no quarto, no exato dia em que anteriormente ficou a saber que seria o da sua morte. Confuso? Ainda há mais para se saber, já que falta a primeira mulher de Ricardo, a Jéssica de Sissi Martins, saber que também tem um assassino dentro de casa e para isso acontecer é necessário alguém recuar ao mesmo local mas por outra época, chegando a 1988.

Quem vai acompanhando toda a história da Suite 647, mas sem perceber o que se está a passar, existindo somente uma vontade de fazer o bem em troca de alguma recompensa mais generosa é o segurança do hotel, Arnaldo, interpretado por Jorge Corrula. 

Avenida Q

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As expetativas com Avenida Q iam altas mas tenho que dizer uma coisa a quem pensa ir ver! Vão porque tudo o que podem esperar é um excelente musical importado diretamente da Broadway. Bom demais e acima de qualquer ideia com que se possa entrar no Teatro da Trindade para assistir a hora e meia de pura diversão. Fiquei rendido do início ao fim sem qualquer falha de atenção. Isto é (pausa e tambores) muuuuuuito boooooooooooooooom!

Não li longos comentários nem a sinopse de Avenida Q, só ouvindo conversas de café e alarido nas redes sociais em torno deste espetáculo adaptado em Portugal pela Força de Produção. Rapidamente fiquei com vontade de ver para perceber afinal a qualidade do que diziam ser tão bom e que andava a esgotar todas as sessões. Fui e só tenho a dizer que este musical é uma grande lufada de ar fresco do que tem sido feito entre nós em termos teatrais. 

O público é convidado a conhecer os habitantes de um «condomínio» de uma qualquer rua lisboeta onde pessoas e monstros coabitam sem qualquer preconceito. Perdão, todos somos preconceituosos e não vale a pena arranjar justificações contrárias. Este é um dos primeiros temas a serem debatidos onde o racismo, a homossexualidade, os medos, o amor e a profissão tomam lugar porque afinal de contas conseguimos vencer mas também cometer diversas falhas ao longo das oportunidades que a vida nos dá. Avenida Q é um consciencializador social que de forma divertida toca em temas sensíveis e que acabam por estar nas proximidades ou em qualquer um.

Entre bonecos que misturam o universo de Rua Sésamo e os Marretas e atores de carne e osso, esta avenida tão bem frequentada é daquelas produções que todos devem e têm a obrigação de ver porque se existe alguma coisa bem feita neste momento no teatro nacional é Avenida Q, que sem falhas, com um bom texto, toques bem colocados na adaptação para a nossa realidade social e um elenco excelentemente competente consegue chegar junto do público de forma eficaz, provocando e sem cansar. 

Ana Cloe, Artur Guimarães, Diogo Valsassina, Gabriela Barros, Inês Aires Pereira, Manuel Moreira, Rodrigo Saraiva, Rui Maria Pêgo, Samuel Alves, Artur Guimarães, Luís Neiva e André Galvão formam um elenco, entre fixos e substituições, tão coeso que se percebe que existe amizade e carinho em palco onde a cumplicidade das personagens parece ir muito mais além dos momentos que são vistos. Quando as pessoas se gostam percebe-se e neste espetáculo todos se gostam e acima de tudo, todos estão a gostar de estar em Avenida Q onde a Marta Monstro, a minha monstrinha favorita do musical, a irreverente e provocadora Paula Porca, o sonhador e aparentemente solitário Luís se juntam a outros colegas bonequeiros para comporem o lote de rostos que desfilam assim a sua vida em palco, aquela vida que pode muito bem traduzir a de qualquer um de nós. 

Mulheres

Mulheres, a novela que conta com sete atrizes nos papéis principais, inspirada num produto internacional de sucesso, chegou há poucas semanas ao final do serão da TVI. Se na altura a direcção do canal foi criticada por colocar um novo produto de ficção nacional no horário da meia noite, hoje nota-se que a decisão tomada foi a correcta. Além disso, eu estou viciado nesta novela onde sete protagonistas cruzam os seus destinos e mostram as suas vidas bem diferentes entre si!

Com Sofia Alves, Jessica Athayde, Susana Arrais, Fernanda Serrano, Maria Rueff, Paula Lobo Antunes e Gabriela Barros nos papéis principais, nesta produção da Plural o tempo decorrido durante um episódio passa a correr, não se dando por isso que quase uma hora decorre entre o início e o fim, existindo logo aí um sinal que a trama tem uma história que se desenrola facilmente, sempre com novos motivos de atracção. As interpretações de todo o elenco, mesmo contado com os jovens até agora quase desconhecidos, estão perfeitas e nota-se que a novela foi pensada e tem sido feita mesmo para o horário onde foi encaixada dentro da programação do canal. Com temas fortes como o cancro, a violência doméstica, o álcool e os inúmeros problemas conjugais e profissionais, Mulheres é uma novela que deixará marcas no panorama audiovisual, tendo todo um conjunto perfeito para mais um avanço no que se tem feito em Portugal a favor da representação. Não é um produto com vilões no centro da acção, tendo uma história forte e calma ao mesmo tempo, com uma imagem urbana e uma banda sonora romântica inspiradora.

Tenho acompanhado esta novela desde o seu episódio de estreia e tenho mesmo adorado ver que Mulheres é um produto que explora na perfeição os sentimentos das suas personagens, mostrando as vidas e reacções que qualquer pessoa comum vai tendo perante as barreiras que lhe vão sendo impostas ao longo do tempo.

Personagens comuns numa novela que retrata a vida de qualquer pessoa com quem me posso cruzar ao virar da esquina, não existindo uma grande heroína ou vilã que distorcem da realidade como na maioria das produções acontece. Estou rendido a estas Mulheres e espero que a sua produção se mantenha perfeita e que a novela não se fique pelos episódios previstos porque aqui existe muito para explorar e com qualidade!

Sei Lá

Sei LáMargarida Rebelo Pinto lançou o livro Sei Lá há quinze anos! Agora, em 2014, as palavras escritas deram origem ao filme com o mesmo nome e protagonizado por Leonor Seixas, Ana Rita Clara, Patrícia Bull e Gabriela Barros. Depois de gozar um pouco com este lançamento no cinema, não resisti e lá quis assistir ao produto cuja realização esteve a cargo de Joaquim Leitão. O que dizer assim por alto e desde já? Gostei!

Com uma obra literária de sucesso que colocou muitos autores já reconhecidos de parte e com certa inveja na altura, Margarida Rebelo Pinto criou as suas personagens femininas num forte enredo onde o amor e os homens são adereços que quebram corações, tendo conquistado os leitores desde cedo pelo seu fantástico poder descritivo e complexo sobre como o mundo feminino analisa as atitudes masculinas. Isto em Sei Lá, o livro!

Agora a adaptação para cinema saiu e não podia ter corrido melhor para uma produção nacional, onde o público é muitas vezes ignorante por achar que o que é feito em Portugal não pode correr bem. Foi bem feito e a prova está à vista! Uma década e meia depois do tempo em que os acontecimentos acontecem, Sei Lá vê a luz do dia na grande tela, já vindo tarde, isto porque o mundo mudou e as atuais produções cinematográficas e de televisão já correm em outros patamares, estando o tema das amizades femininas para enfrentarem os homens já fora de moda por já ser algo bem batido entre as criações audiovisuais de todo o mundo.

No entanto e porque há que falar do que foi visto, da produção ao som, dos atores à escrita, esquecendo que a história central já aparece tarde entre nós, tudo corre bem. Um texto fantástico e corrido, com alguns clichés bem característicos das personagens da autora que mostra como certas faixas sociais reagem ao mais ínfimo desaire da vida. Quatro mulheres diferentes entre si, com ideias fixas e com problemas bem vincados nas suas vidas cruzam-se com o amor e com os imprevistos que as relações sempre enfrentam ao longo do tempo. A separação, a traição, a busca, a crença, a amizade, as palavras, o carinho... Sei Lá é uma criação misteriosa que junta ao quarteto principal os atores Rita Pereira, António Pedro Cerdeira, Rui Unas, David Mora e Pedro Granger, tendo uma excelente banda sonora bem características do início do século e uma imagem excelente, embora com alguns deslizes que podem passar ao lado do público em geral.

Tenho pena somente por este filme aparecer fora do seu tempo, deixando-se comparar assim à banalidade do que tem aparecido ao longo dos anos porque na altura certa o sucesso estaria sem dúvida do seu lado por ser inovador e não apenas mais um, ou melhor, aquele filme que a Margarida escreveu e que o Leitão realizou!

Sei Lá é assim um bom filme fora de época!