Autor: João Reis
Lançamento: Fevereiro de 2017
Editora: Elsinore
Páginas: 228
Classificação: 4 em 5
Sinopse: «As folhas caídas das árvores giram à minha volta com o vento, mas aperto mais o casaco, porque nem o vento nem as folhas-bailarinas me alegram com a melancolia, só me deixam ensopado em tristeza, como a chuva nos faz por vezes. Os homens não choram. Avanço. Os catos que vejo alinhados na rua voltam a ser árvores e a Babushka, deitada na cama de hospital, é uma criança que aumentou e encolheu.»
Babushka está doente. Esta russa idosa, emigrante no Canadá, sobreviveu ao acidente nuclear de Chernobyl. Esconde no peito a doença que a obriga a respirar a contratempo e lhe impõe uma tosse longa e larga e comprida e sem fim — um mal que a faz viver mergulhada nas memórias do seu passado luminoso, a neve pura da Rússia, recordação sob recordação.
Na fronteira com a realidade caminha o seu neto mais novo, de dez anos, um menino que não desiste de puxar o fio à meada e de tentar devolver a avó ao presente. Para ajudar Babushka, precisa de encontrar uma solução para os seus pulmões destruídos, sacos rasgados e quase vazios — mesmo que isso o obrigue a crescer de repente e partir em busca de uma planta milagrosa, o segredo que poderá salvar a família e completar a matriosca que só ele vê.
Narrado na primeira pessoa e escrito a partir da perspetiva de uma criança, A Avó e a Neve Russa é um livro feito da inocência e da coragem com que se veste o deslumbramento das infâncias. Romance simples e emotivo sobre a força da memória e da abnegação, relata a peregrinação de um neto através da esperança, do Canadá ao México, para encontrar a possibilidade de um final feliz.
Opinião: A ideia com que se parte para a leitura deste livro é um pouco abstrata, podendo existir um certo receio de que a história se confunda através das palavras de uma criança que luta pelo salvamento da sua avó que se encontra doente e em estado já avançado para conseguir orientar um pequeno homem com uma visão bem alargada acerca do Mundo, dos comportamentos humanos e das causas sociais que mudaram o rumo da História.
Ao longo do tempo, sem pais e aos cuidados da avó e do irmão mais velho, um rapazito cujo nome é desconhecido ao leitor percebe que para manter o ambiente familiar que conhece e onde é feliz tem de agir, ajudando a continuação da sua Babushka, a avó que passou pelo acidente nuclear de Chernobyl, a sobreviver no tempo e para isso é necessário que se parta numa aventura de medos, receios, riscos e onde a amizade toma lugar.