Uma narrativa atual e que vive das peripécias de uma família... O pai narrador, a mãe e o filho, que depois de uma tarde de passeio pelas ruas mais visitadas da Ilha, como é apelidado o local onde se encontram, acabam por perder o sentido das ruas, estações de metro e dos percursos que teriam de tomar para um bom regresso a casa. No que isto dá? Numa excelente criação da autoria de Ricardo Adolfo e com o nome de Depois de Morrer Aconteceram-me Muitas Coisas.
Um romance atual, com as personagens centrais super bem construídas e com o toque essencial para chegarem facilmente junto do leitor. Adolfo criou esta obra que remete para a emigração dos portugueses como se estivesse a viver com as suas personagens, o que me leva a ir mais longe e uma vez que é sabido que o autor também já foi ou é emigrante, será que algumas das peripécias que vão acontecendo em Depois de Morrer Aconteceram-me Muitas Coisas não são próprias de quem as conta?
Uma família portuguesa, um pequeno quarto no estrangeiro para onde fogem em busca de uma vida melhor, uma casa com outras pessoas com quem não conseguem comunicar por falta de conhecimentos linguísticos e um país também ele completamente desconhecido para estes emigras dos novos tempos. O que poderia dar isto? Uma grande montanha russa de pensamentos, acontecimentos e peripécias! Partir do seu país em busca de um futuro risonho e sem noção dos riscos que se correm com as mudanças é a melhor solução quando se está em fuga?
O Brito é o imigrante ilegal num local que não conhece e com o qual não se identifica. Tudo lhe é estranho, desde a comida às pessoas, e quando o regresso ao seu quarto familiar se torna numa missão impossível tudo se desenvolve e aí sim começa o bom deste livro. Três pessoas e uma mala estão nas ruas da Ilha!
Ricardo Adolfo tem uma escrita bem atual e desdramatizada, não se remetendo a palavreados caros e complicados para explicar o que aquelas pessoas comuns sentem e vivem ao longo de vinte e quatro horas de buscas por um só local que parece cada vez mais distante. Através do conflito interior de dois adultos que se culpam entre si pelo sucedido e que acabam por se atropelar pelas decisões tomadas para o que enfrentam no presente, estes dois tugas deixam-se chegar perto de quem segue as suas vidas através das palavras porque são seres simples e podem ser qualquer um de nós num país que não conhecemos.
Com recurso ao humor para desanuviar as situações mais constrangedoras, Adolfo mostra que não chegou à literatura para brincar aos livros e para vender uns exemplares e voltar a recolher-se no seu mundo. Este português desconhecido dos seus tem muito para dar, tal como todos poderemos ter quando nos auto encontramos ao longo da vida.
Será que precisamos de nos perder para conseguirmos reencontrar o eu próprio de que tanto gostamos e voltarmos a ser felizes como sempre desejamos e onde queremos? Pois, uma boa questão que Adolfo me colocou com esta leitura!
Um livro leve, com uma história simples e bem elaborada através do encadeamento que lhe é dado. Ao longo destas quase 200 páginas vários foram os momentos em que fiquei a pensar sobre o que ia acontecendo porque as coisas simples podem acontecer a qualquer um, seja de uma maneira ou de outra e acabei por me rever naquelas personagens onde também encontrei pessoas com quem me cruzo no meu dia-a-dia. Sentir-me vivo e presente através das palavras de outra pessoa que não me conhece é agradável e isso só mostra que quem escreve está atento à sociedade e a todos os movimentos que andam à sua volta.
Um livro aconselhado para quem gosta de experimentar novos estilos literários e que prefere ter um livro leve como companheiro e não histórias pesadas. Ricardo Adolfo ainda não tem o público e os tops consigo mas já me conquistou para novas leituras!
Uma mensagem que me ficou na memória... Fugir dos problemas não é a solução porque quando isso acontece outros entraves vão aparecer pelo nosso percurso, acabando por barrar as ideias de salvação que começaram a aparecer.
Sinopse
Brito é imigrante ilegal numa cidade que não conhece e cuja língua não fala. Um domingo à tarde, depois da volta das montras, perde-se a caminho de casa com a mulher e o filho pequeno. E como acredita que para tomar uma decisão acertada tem de fazer o contrário daquilo que acha que está correcto, o regresso a casa revela-se impossível.
Depois de uma noite na rua, Brito percebe que se não pedir ajuda pode ficar perdido para sempre, mas se o fizer pode arruinar o sonho de uma vida nova.
Em pouco mais de vinte e quatro horas, Depois de morrer aconteceram-me muitas coisas explora o que é viver imigrado dentro de si mesmo – mais difícil do que qualquer exílio.