Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Informador

O Nome Que a Cidade Esqueceu | João Tordo

Companhia das Letras

o nome que a cidade esqueceu capa.jpg

Título: O Nome Que a Cidade Esqueceu

Autor: João Tordo

Editora: Companhia das Letras

Edição: 1ª Edição

Lançamento: Novembro de 2023

Páginas: 376

ISBN: 978-989-784-927-5

Classificação: 4 em 5

 

Sinopse: Nova Iorque, 1991.

Ao aterrar na América, Natasha, refugiada de um país da ex-União Soviética, está longe de imaginar que o seu exílio se transformará numa aventura labiríntica pela grande cidade e pela alma humana. O caminho desta rapariga cheia de medos e sonhos cruza-se com o de George B., homem marcado por um passado misterioso, que vive em total isolamento em plena cidade, barricado num apartamento apinhado de objectos inúteis.

George oferece a Natasha um emprego bizarro: ler-lhe em voz alta a lista telefónica de Nova Iorque. Enquanto a rapariga aprende a suportar as saudades da sua família e do seu país, esboçando uma nova vida na metrópole vibrante e crua, George, por seu lado, procura obsessivamente um nome entre os milhões de nomes que a cidade esqueceu; um nome que poderá salvá-lo, ou ser a sua danação.

Tomando como inspiração uma história verdadeira publicada no New York Times, João Tordo constrói um romance enigmático, impulsionado pelo acaso e pela memória. O resultado é uma narrativa que disseca a solidão, grande doença dos nossos tempos, confrontando as suas personagens e os leitores com o passado com que todos tentamos reconciliar-nos. O nome que a cidade esqueceu marca o regresso de um dos escritores mais estimados do público a um lugar que lhe é familiar, numa história plena de imaginação, arrojo, candura e compaixão.

 

Opinião: Natasha chega sozinha a Nova Iorque como refugiada da União Soviética e sem nada nem ninguém a quem se amparar, tem de arregaçar as mangas para sobreviver perante as exigências que a sua nova condição lhe exigem. Esta nova vida leva-a a conhecer George, um homem entre tantos, que vive sozinho, isolado dentro de quatro paredes, e que recorre a jovens mulheres que precisam de dinheiro para lhe lerem a extensa lista telefónica em busca de nomes que lhe são familiares e que estão envoltos em segredos. Assim se juntam duas pessoas que vivem perante a solidão numa sociedade em movimento e que levam o leitor a percorrer caminhos que vão para lá da ligação que os une de início. Através de Natasha e George encontramos muito Mundo por vezes sem sairmos de casa pelo recurso da memória, encontramos um pouco de cada um de nós nos momentos em que por vezes só necessitamos de respirar com calma para se seguir em frente por caminhos translúcidos marcados pelas dores de percurso.

João Tordo coloca em O Nome Que a Cidade Esqueceu a sua escrita emotiva e poética onde o poder da descrição das personagens muito bem retratadas e desenvolvidas levam o leitor a sentar-se e a percorrer caminhos ao seu lado para se perceber como cada um irá conseguir dar a volta para seguir em frente perante os presságios que os acompanham do início ao fim.

Leme | Madalena Sá Fernandes

Companhia das Letras

leme.jpg

Título: Leme

Autor: Madalena Sá Fernandes

Editora: Companhia das Letras

Edição: 1ª Edição

Lançamento: Março de 2023

Páginas: 168

ISBN: 978-989-784-959-6

Classificação: 2 em 5

 

Sinopse: Leme é o relato da vivência de uma rapariga que assiste, durante anos, à erosão dos pilares que sustentam as ligações humanas: vê a mãe subjugada à violência do homem com quem mantém uma relação amorosa disfuncional; vive na pele a distorção dos papéis desempenhados por pais e filhos; alimenta-se da solidão para ultrapassar um quotidiano de medo e fúria; disputa um lugar só para si no meio do caos familiar; aprende a reconhecer o consolo das pequenas vitórias; e, por fim, reconstrói-se a si e às suas memórias.

Nenhuma criança conhece de antemão os nomes das coisas, mas todas as crianças reconhecem instintivamente o perigo. Para a protagonista desta história, o perigo tem o nome de um homem, e é sinónimo de obsessão, desequilíbrio, solidão, desamparo, poucas certezas e muitas dúvidas. Leme é um golpe de escrita para regressar à vida. Uma cintilação plena de vida e um soco no escuro que nos engole: eis um livro que aponta diretamente aos limites do bem e do mal.

 

Opinião: Lamento as vozes que se fizeram levantar a aplaudir o romance autobiográfico de Madalena Sá Fernandes, Leme, mas aqui desde lado não surgem boas notícias para vos serem contadas após esta leitura.

De capítulos curtos e uma escrita demasiado simples, este auto romance é focado no tema da violência doméstica e o que tais comportamentos provocam no momento e para a vida futura de uma pessoa. Leme invoca as memórias de uma mulher que sofreu enquanto jovem vários momentos de violência, a maioria psicológica, do parceiro da sua mãe que ao mesmo tempo fechava os olhos a tais comportamentos. O tema é duro, pesado e lastimável, no entanto a forma como a autora o conduziu não correu da melhor forma, desfiando rápidas memórias sem conseguir esmiuçar os momentos para levar o leitor a ficar preso às suas trágicas e pesadas vivências, como se só quisesse apresentar factos para se livrar ela própria do que ficou para trás, sem se lembrar que quem está desde lado necessita de criar ligações com a história de cada personagem. O tema está lá só não foi bem desenvolvido e ao ser uma autobiografia tinha tanto a obrigação de ter corrido melhor. 

Sinopse de Amor e Guerra | Afonso Cruz

Companhia das Letras

0FA8BC67-2439-4231-AF11-95DBB58E3ABB.jpeg

Título: Sinopse de Amor e Guerra

Autor: Afonso Cruz

Editora: Companhia das Letras

Edição: 1ª Edição

Lançamento: Dezembro de 2021

Páginas: 184

ISBN: 978-989-66-5811-3

Classificação: 5 em 5

 

Sinopse: Theobald Thomas e Bluma Janek estão fadados a ficar juntos desde que vêm ao mundo. Os livros são o seu ponto de encontro. Mas a Berlim do pós-guerra, uma cidade enlutada e dividida, haverá de contrariar o que o destino parecia ter escrito.

Numa noite de Agosto, sem aviso, o chão de Berlim é rasgado pelos alicerces de um muro o mais famoso da História e a promessa do primeiro beijo fica adiada.

O novo romance de Afonso Cruz parte de uma trama real em que o amor e a guerra se entrelaçam para questionar certos limites, encontrando no fado individual de dois amantes o reflexo de algo universal: o que seríamos capazes de fazer por paixão, que barreiras ultrapassaríamos? Pode o amor saltar muros sem que alguém se magoe?

 

Opinião: Afonso Cruz sempre foi aquele autor que fui deixando escapar mas desta vez, o lançamento de Sinopse de Amor e Guerra aconteceu num momento em que dias antes tinha ouvido uma entrevista, via podcast, do autor e percebi que deveria fazer a encomenda desta sua nova criação literária. E não podia ter feito outra escolha, uma vez que este romance inserido na coleção do autor Geografias, histórias que surgem após uma viagem, acabou por ser uma boa revelação que acabei por ler quase de uma assentada.

Citações | 44 | Colagem de Amor

amor cacos.jpg

Nós somos pedaços e é necessário que quem nos ama nos reconstrua, como quem cola os cacos de um vaso partido. Que fazem dois amantes se não colar os pedaços um do outro continuamente pela eternidade do quotidiano? Porque continuamente nos caem pedaços e o trabalho de reconstrução jamais acaba. A cola que usamos chama-se dia-a-dia. Poderia ser o amor. Mas é o dia-a-dia. É aí que tudo se prova. O amor não é um poema de Petrarca, é apanhar as cuecas do chão. 

Afonso Cruz, em Sinopse de Amor e Guerra, editado pela Companhia das Letras