A Educação de Eleanor | Gail Honeyman
Porto Editora
Título: A Educação de Eleanor
Título original: Eleanor Oliphant is completely fine
Autor: Gail Honeyman
Editora: Porto Editora
Edição: 1ª Edição
Lançamento: Maio de 2017
Páginas: 328
ISBN: 978-972-0-04898-1
Classificação: 4 em 5
Sinopse: Eleanor Oliphant tem uma vida perfeitamente normal - ou assim quer acreditar. É uma mulher algo excêntrica e pouco dotada na arte da interação social, cuja vida solitária gira à volta de trabalho, vodca, refeições pré-cozinhadas e conversas telefónicas semanais com a mãe.
Porém, a rotina que tanto preza fica virada do avesso quando conhece Raymond - o técnico de informática do escritório onde trabalha, um homem trapalhão e com uma grande falta de maneiras - e ambos socorrem Sammy, um senhor de idade que perdeu os sentidos no meio da rua.
A amizade entre os três acaba por trazer mais pessoas à vida de Eleanor e alargar os seus horizontes. E, com a ajuda de Raymond, ela começa a enfrentar a verdade que manteve escondida de si própria, sobre a sua vida e o seu passado, num processo penoso mas que lhe permitirá, por fim, abrir o coração.
Opinião: Um primeiro romance de Gail Honeyman como A Educação de Eleanor jamais pode passar ao lado das boas críticas. Foram anos com este livro em espera para que quando lhe peguei perceber que mais um erro cometi pela espera e por outros lhe terem passado à frente. Comovente, divertido e humano são três dos pontos chave desta narrativa lúcida, transformadora e real que é contada de forma quente e aconchegante para não se perder o entusiasmo pela mudança de vida de Eleanor.
Convidado a conhecer o presente e partes da infância conturbada de Eleanor, o leitor entra num mundo complexo mas despreocupado onde a alegria se mistura com a crueldade de vidas que nos passam muitas vezes despercebidas. Num encadeamento suave e revelador, a autora consegue mostrar que os traumas e penas do passado conseguem pesar nas marcas presentes de qualquer um de nós. Inicialmente somos convidados a conhecer uma jovem secretária, solitária e desconectada do mundo até que os seus atos vão sendo descortinados com as memórias do seu passado através de conversas que pesam e reconforto atuais que transportam momentos bons para mágoas identificadas do que já lá vai e não volta mais.
A história de Eleanor é feita na solidão de quem enfrenta um emprego de oito horas de trabalho quase por obrigação, faz as suas compras básicas no supermercado e recolhe-se sozinha em casa nos tempos livres. Sentindo que passa ao lado de uma equipa ajustada mas onde não se sente integrada e que ainda é colocada de parte pela sua forma de estar, não se apercebendo que os seus comportamentos a levam a ficar de lado, tal como os outros não procuram explicações. Isto acontece, muitas vezes devido a medos, receios e traumas que acabam por sustentar depressões com isolamentos, transtornos e derrotas. No entanto Eleanor, sem esperar, consegue ver a sua vida transformada sem procurar e de forma totalmente inusitada. Um incidente que acaba em conhecimento que a ajuda a saber gerir a partilha e o espaço sem se dar conta e a responsabilidade e a oportunidade de procurar a sua própria identidade numa sociedade em movimento surgem aos poucos. O espelho torna-se num bom amigo desta solitária mas responsável mulher, a presença de quem lhe quer bem só a ajuda e em pouco tempo o que de mau parece existir numa vida com todos os critérios para ruir é transformada para se dar a volta, como que uma planta no escuro e mal regada voltasse a ver a luz do dia e as vitaminas a ajudassem a rejuvenescer.
A tristeza e a dor com que são vividos muitos momentos de Eleanor para depois se sobressair e conquistar são como uma autêntica chapada ao leitor que com pequenos problemas cria um abismo de onde parece não ser possível sair assim tão facilmente.
Conheci a Eleanor com poucas expectativas e rapidamente me rendi, primeiramente pela sua boa disposição e peripécias iniciais que unem dramatismo e desatenção no que parece ser um ciclo de momentos inusitados para que depois perceba que todos esses momentos que me agarraram com algumas gargalhadas se transformam numa perceção de uma vida pesada e com alguma lamuria. Eleanor conquista logo de início mas é quando se percebe tudo o que está para trás que se entende cada pormenor dos seus comportamentos que passam assim de merecer gargalhadas para surgir a vontade de acarinhar e ajudar a procurar um novo rumo que a própria consegue conquistar sem que tenha procurado mas perante a oportunidade não se deixou ficar.