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O Informador

Iniciativas literárias no Alentejo

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Rumar ao Alentejo em pleno Verão tem sempre algo de bom para além do descanso conseguido por terras quentes mas bem tranquilas e onde a paz de espírito parece existir. Este ano no Município de Alvito os velhos frigoríficos que já nada serviam para a sua função habitual conseguiram ganhar nova vida e aliaram-se ao mundo das letras para colocarem habitantes e turistas a lerem um pouco mais pelas ruas das aldeias e vilas. 

Perante o lema «livros fresquinhos de levar ler e devolver», vários frigoríficos foram reformulados e distribuídos por praças e até pelo complexo de piscinas para se tornarem em pequenas bibliotecas gratuitas e disponíveis a todos. De jornais diários, revistas semanais e livros, a leitura está a um passo de todos, sem existir necessidade de requisição. Com estes frigoríficos só é necessário abrir a porta, perceber o que existe, levar, ler e devolver assim que a leitura estiver despachada. Podem ler nos bancos de jardim, levar até à esplanada do café da esquina ou até para casa, desde que devolvam no fim. Ao devolverem livros acredito que a ideia seja também deixarem livros que tenham por casa e os queiram doar e foi perante esse lema que levei a minha ideia em diante.

A biblioteca sem Guerra e Paz

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Aos 32 anos de idade e já com centenas de livros lidos, confesso que ainda não enfrentei a tão aclamada obra de Lev Tolstói, Guerra e Paz. No entanto e sabendo o peso que este texto tem na literatura mundial, fiquei espantando quando percebi que numa biblioteca nacional do nosso Alentejo não existe um exemplar de cada volume desta obra. Como pode isto acontecer, estando para mais o Guerra e Paz inserido no Plano Nacional de Leitura? Esta é daquelas situações que não se compreende por num espaço de interesse público, onde a literatura está disponível a todos, faltar uma obra com história e que é aconselhada. 

Deixo aqui um apelo para que todos os diretores de bibliotecas nacionais e mesmo os funcionários façam uma visita com sentido às suas estantes para perceberem que obras fazem falta a favor do que é importante, deixando talvez várias novidades que não ficarão na memória para trás. O importante está a falhar e é necessário não ficar sentado e perceber o que é procurado e o que faz realmente falta nas estantes nacionais de interesse público. 

Recordo que Guerra e Paz tem como pano de fundo um cenário de guerra, aquando da invasão da Rússia por parte das tropas Napoleónicas, retratando episódios históricos onde a ficção toma lugar, Entre grandes personagens que procuram um sentido para a vida, entre o amor, o ódio e a luta, esta é uma história que leva o leitor a refletir sobre a vida e o quão frágil é a existência de cada um. 

Biblioteca de pessoas

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A vida é feita de encontros, permanências, despedidas e ausências de pessoas que chegam pouco ou muito dizem para ficarem ou partirem de novo, deixando ou não a sua marca. As pessoas são como os livros que passam por cada leitor. Existirá assim dentro de cada um de nós uma biblioteca de pessoas que vai sendo composta com o passar do tempo. 

Existem os livros que quando chegamos já lá estão, tal como a nossa família que nos recebe e que ao longo dos anos vamos entendendo, apreciando, desfrutando e pesquisando cada pormenor perante situações. E depois existem os livros que nos vão surgindo, tal e qual as pessoas, ao longo de uma vida social. Os livros fechados e as pessoas mais livres e descomplexadas. Os livros que se tornam uma surpresa e as pessoas que com o tempo acabamos por nem lembrar. Os seres que chegam e percebemos que queremos manter para sempre e os livros perante os quais nem o nome fica na memória. Os livros que ficam para sempre no pensamento imediato por serem bons e as pessoas que valia mais nem se terem cruzado no nosso caminho. Os livros que perante as primeiras páginas logo entendemos que não vão revelar grande coisa e as pessoas que com o tempo demonstram que têm tanto para dar. Depois existem os livros resistentes que estão sempre lá como os amigos verdadeiros que no bem e no mal aparecem. Os livros de edição limitada que poucos conseguem ter e os mais vendidos que circulam pelas ruas como formigas que somente significam mais um. 

Em busca das chaves caídas!

Existem situações que se não acontecessem comigo talvez não acreditasse. Há uns dias fui até à biblioteca municipal de Vila Franca de Xira, a Fábrica das Palavras, que desde já aconselho a visitarem, e sentado na varanda do primeiro piso, que podem ver na imagem e que fica virada para o Rio Tejo, pensei que quando me levantasse tinha de ter cuidado com as chaves e a carteira que estavam no bolso das calças do lado da varanda que tem um espaço talvez de dois a três centímetros entre a parede e o vidro que serve de parapeito. Pensei, mas na realidade quando foi na hora de me ir embora não mais me lembrei e eis que ao levantar, as chaves caíram do bolso e ficaram precisamente entre a parede e o vidro. Olhei e percebi que só empurrando conseguiria que a argola do porta chaves se ajeitasse de modo a permitir que todo o conjunto descesse para que já na parte debaixo e com ajuda a um escadote as conseguisse puxar, porque caírem por si era impensável, uma vez que ficaram presas a meio de todo o processo. 

Pedi a uma funcionária ajuda, conseguiu uma vassoura, com o cabo da mesma empurrei dentro do possível as chaves para o lado até um espaço que vi ser uns milímetros mais largo com o pensamento que ali podiam cair diretamente no rés-do-chão. Mas não, consegui que se mexessem e descessem, mas mesmo assim ficaram presas mas o trabalho já estava mais facilitado uma vez que já não se encontravam entre o vidro e a parede de forma total, estando somente a argola presa já em baixo. Desci o piso, pedi ao segurança um escadote e lá consegui com algum jeito mover a argola que ao rodar libertou tudo o que me pertencia.

Biblioteca na árvore

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O projeto internacional de pequenas bibliotecas partilhadas, Little Free Library, ganhou há pouco tempo uma nova biblioteca que resultou dos restos de uma árvore morta num jardim privado de uma casa em Coeur d'Alene, no estado de Idaho, nos EUA. Após deixar de dar sombra, o proprietário da árvore, Sharalee Howard resolveu transformar o que restou numa biblioteca, dando-lhe uma nova vida e criando um cenário que encanta leitores e viajantes que passam pelo local. 

A proprietária na sua página de Facebook explica que «Tivemos que remover uma árvore enorme que já tinha 110 anos, então decidi transforma-la numa Little Free Library, algo que sempre quis fazer», revelando assim que a ideia já havia sido pensada, aliando neste caso a necessidade de retirarem a árvore com a vontade e gosto pelos livros e pela leitura partilhada. 

Os ramos e folhas foram removidos para darem lugar ao telhado, no interior o que restou tornou-se oco, tendo sido colocada uma porta de vidro, várias prateleiras e os livros tão importantes para este projeto pessoal que serve a comunidade na troca e divulgação de literatura.

Doar literatura

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Encontrei livros! Sim, encontrei dois sacos cheios de livros, no total dezanove, junto a um caixote do lixo, prontos para serem recolhidos por quem passasse ou caso contrário seriam levados e destruídos no processo comum de reciclagem. 

Estacionei o carro e ao sair olhei para o lado e reparei que dois sacos estavam pousados ao lado do verde contentor de lixo comum. Poderiam passar despercebidos ao olhar como sendo lixo normal, mas por acaso um dos sacos estava aberto e reparei que livros espreitavam, todos travessos e emaranhados, suspirando para que alguém os salvasse do adeus definitivo de uma vida entre leitores onde poderão ganhar segundas e terceiras oportunidades. Não hesitei, peguei nos dois sacos, abri a mala do carro, espreitei por alto os títulos que tinha acabado de encontrar e segui no caminho que estava destinado fazer. 

Mais tarde levei os achados para casa e espalhei-os pela mesa para perceber o que alguém tinha dispensado da sua biblioteca caseira. Três obras que já li, duas para ficarem na biblioteca cá de casa em espera para serem lidas e as restantes dei e deixei na biblioteca municipal para que ganhem uma nova vida. 

Ruído na Biblioteca

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Frequentar uma biblioteca tem como característica encontrar algum silêncio para que a concentração seja exata, já que o local não é um centro de convívio nem uma parque de diversões. Geralmente nas entradas existem avisos para ser mantido o silêncio, só que por vezes o problema não vem dos visitantes mas sim dos próprios funcionários.

Há uns anos, quando era adolescente, para fazer tempo até apanhar o autocarro que me levava do centro do concelho para a aldeia, acabava por ficar um pouco na biblioteca pelos computadores municipais, aproveitando também para ler alguma da imprensa que estava exposta. Já na altura lembro-me de ver os bibliotecários responsáveis pelo espaço a andarem constantemente atrás das pessoas a pedirem silêncio e com o típico som «xchiuuuu». Hoje, mais de quinze anos depois, a história continua a mesma e os pensamentos que tenho também se mantém.

Se formos analisar, o que aquelas pessoas que estão como responsáveis não fazem, é que pedem silêncio aos visitantes da biblioteca, no entanto depois estão atrás do balcão ou andam pelos corredores, a falarem uns com os outros em alto e bom som, como se não estivessem dentro de um local onde os próprios pedem para as pessoas falarem baixo para que não perturbem os outros. Afinal em que ficamos? É que quem devia dar o exemplo acaba por mostrar exatamente o contrário e por vezes dá vontade, mesmo que o barulho dos outros não me perturbe, de perguntar aos funcionários se as regras que tentam impor não se aplicam aos próprios.

Do Lixo para a Biblioteca

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O passado mês de Setembro assinalou a abertura de uma biblioteca pública bem especial em Ancara, a capital da Turquia. Livros abandonados voltaram a estar ao dispor de todos graças aos homens que recolhem o lixo da cidade.

Tudo começou com a partilha de livros encontrados entre os trabalhadores e suas respetivas famílias, mas o projeto foi ganhando destaque e os habitantes da cidade além de começarem a deixar livros que já não queriam em casa em locais estratégicos onde sabiam que os funcionários camarários iriam passar para recolher o lixo, começaram também a entregar diretamente algumas das suas obras já lidas para uma segunda utilização e leitura, dando assim a oportunidade a que todos possam usufruir de boa literatura. 

A adesão, que começou fraca, foi ganhando força e acabou por existir necessidade de criar uma biblioteca pública para depositar todos estes livros encontrados e trocados, existindo atualmente mais de seis mil exemplares pelas estantes do espaço que a autarquia disponibilizou para o efeito. Situada numa antiga fábrica de tijolos, a nova biblioteca social conta com obras para todos os gostos literários sendo fruto de uma coleção que acaba por ganhar valor pelo modo como foi e tem sido conseguida. 

Silêncio na biblioteca

Ao longo das férias alentejanas fui até ao espaço de internet da biblioteca da vila e se há coisa que me irrita é ouvir constantemente as funcionárias a pedirem aos miúdos para falarem baixo e não arrastarem as cadeiras quando depois são elas próprias a falarem alto entre si, ao telemóvel ou com quem passa na rua.

Afinal de contas quem acaba por incomodar mais com o barulho? Os miúdos que estão a jogar e falam entre si sobre o que estão a fazer ou aquelas funcionárias, tão preocupadas, que estão constantemente a mandar vir e depois infringem as regras que tentam impor aos mais novos?