A comemoração dos 150 anos sobre a Abolição da Pena de Morte em Portugal (1867-2017) são comemorados por Virgílio Castelo através do seu regresso aos palcos com O Último Dia de Um Condenado, um monólogo adaptado da obra de Victor Hugo, autor das reconhecidas obras literárias Os Miseráveis e O Corcunda de Notre-Dame.
Em cena no Teatro Armando Cortez, em Lisboa, sob produção da Yellow Star Company e encenação de Paulo Sousa Costa, Virgílio Castelo surpreende ao longo de setenta minutos a solo com um texto pesado e uma história que foi bem real para muitos que sofreram e foram condenados à morte. Primeiramente e sabendo que iria assistir a um monólogo fiquei um pouco reticente sobre o tempo de duração do espetáculo e também devido ao tema, sendo teoricamente uma união que poderia não correr bem, mas felizmente fiquei surpreendido, estando este espetáculo tão bem trabalhado e explorado que o tempo passa junto do público como para as várias personagens que o ator vai dando vida em palco. Os minutos passam num ápice como os dias, semanas e meses que um condenado vai vendo seguirem o seu caminho em espera que o seu fatídico dia chegue para que tudo termine num ato repugnante de pena capital.
Virgílio Castelo prova em palco o seu estatuto enquanto um dos melhores atores, recorrendo a diversas técnicas para alterar o percurso da sua personagem enquanto prisioneiro a aguardar uma sentença ao mesmo tempo que vai convivendo com guardas, juízes e familiares ao longo do seu caminho pelo corredor da morte. A sociedade do século XIX torna-se alvo de críticas de um homem com um castigo penal às costas e que levanta várias questões éticas e morais para com os atos de quem o condena e que vai enfrentando ao longo dos seus últimos tempos de vida.
Esta adaptação foi preparada num crescendo, onde um condenado mostra primeiramente os seus primeiros momentos dentro de quatro paredes até que o tempo vai passando, a noção do que está acontecendo aparece, o sofrimento provoca o cansaço e a saudade cada vez mais forte da sua vida, da sua família e de tudo o que tem fora da prisão que serve como o último resguardo para um fim anunciado antecipadamente. O Último Dia de Um Condenado pode muito bem ser descrito como um monólogo onde a ação possível se vai aproximando do público que começa a sentir preocupação para com o que se seguirá após os vários pontos fulcrais e de mudança de um homem sem qualquer possibilidade de recuo.