Special | T2 | Netflix
Um ano após uma primeira temporada de sucesso, Special regressou com uma renovada fornada de episódios e mostrou que mesmo tendo sido esta a sua temporada final ainda existia muito que poderia ter sido contado nesta história onde a paralisia cerebral e a homossexualidade se unem e dão o mote para uma série educacional, libertadora e ao mesmo tempo mostrando a leveza com que a dor pode ser transformada com o apoio do amor.
Tendo a sua primeira temporada igualmente oito episódios como a segunda, mas com quinze minutos cada, Special recebeu de imediato a boa critica junto do público que descobriu esta produção que poderia muito bem ter passado despercebida pela sua fraca promoção e conseguiu assim ver aprovada esta sua última temporada, mesmo com a Netflix a informar que seria a última pelos cortes que têm feitos em determinadas séries que não conquistam o público mundial por estarem viradas para um público exato.
Com Ryan O'Connell como criador e ator central da história cuja personagem tem igualmente o seu nome, Ryan criou esta produção com base na sua própria experiência por sofrer de paralisia cerebral e ser homossexual, mostrando que é possível contar a sua história e a de várias pessoas com deficiência sem chatear, sem pesar a consciência do público, existindo em Special, principalmente nesta segunda temporada, a visão de que não existem motivos para se ficar excluído da sociedade por se ser diferente.
Através da sua própria vida, Ryan mostra um jovem gay com paralisia cerebral que cria as suas relações, trabalha, diverte-se, ama e contorna o que poderiam ser problemas existenciais. Através da simplicidade e com uma linguagem direta e honesta, Special não foi criada para as massas que procuram produções com romances heterogéneos e que mesmo para o público gay não consegue ser abrangente por seguir uma linha sem exibicionismos e sem dar destaque a grandes cenas de sexo, procurando a simplicidade das relações entre cada cena. Bem escrita e encaminhada, só por isso não chegou para que o que ficou por contar tivesse luz verde para novas temporadas, ao contrário de séries comerciais que conseguem nem ter estreado uma temporada e já têm a próxima mais que aprovada por criarem boom junto do público da plataforma de streaming.
Com Ryan a viver os seus relacionamentos abertos, com regras e concessões e ao mesmo tempo mantendo a distancia para com a mãe por necessitar de ser o adulto livre, nesta segunda série também a sua melhor amiga indiana, Kim, ganhou espaço para brilhar e surpreender, focando-se a sua história na sua relação com o amor e com a própria família, para além da luta contra o preconceito que também Ryan tem consigo, daí o essencial desta amizade entre dois seres primeiramente diferentes mas tão semelhantes para com as suas defesas e interesses.
Special chegou ao fim, após duas bem encaminhadas temporadas onde se falou de amor, preconceito, fetiches e papéis, se questionou o papel em sociedade de cada um, o poder da amizade e a perseverança. Uma história de liberdade e demonstração de que é possível procurar a felicidade mesmo quando se é diferente, descobrindo e encontrando, procurando e nem sempre vencendo. Special nunca seria uma série para todos mas conseguiu conquistar quem a procurou e se deixou encantar, ficando infelizmente pelo caminho num mercado competitivo onde nem sempre a qualidade e a diferença se conseguem impor.