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O Informador

Sobreviventes

Lá fora ouço vozes, quem por lá está não sei, não quero procurar sequer saber. O desconhecido reina na escuridão da noite entre vagabundos e clandestinos disfarçados de pedintes. Quem vive naquelas ruas entre desabrigados e seres de costas voltadas consegue cativar os que passam e não percebem as diferenças entre os bons e os maus de cada fita, de cada curta metragem de vida que passa como se estivesse numa corrida entre as duas margens de um rio, aquele rio que culmina num mar onde todos cabem mas cujo um final não existe. Onde está o limite de cada maré, o fundo de cada ser, a razão de cada onda bater e ser substituída pela sua companheira seguinte. No final todos, os maus e os bons de cada rua, somos substituídos pelos próximos, tal como as marés de um oceano que se toca ao fundo com o horizonte profundo onde o medo do desconhecido já tanta vez fez tremer barcos e marinheiros que deram a vida por um povo. O povo sempre o povo, muitas vezes clandestino, outras vezes ausente, mas sempre o mesmo povo, aquele que se cruza com os moradores de rua que convivem diariamente com os outros, aqueles que não merecem sequer um lugar num canto qualquer. No final de contas todos vivemos e todos conseguimos passar por cima do próximo para sobreviver, não fosse este um mundo de pecados e loucos defensores dos bens materiais que ficam sempre acima de qualquer moralidade social.