Programas chorados
Ontem cheguei mais cedo a casa e fiquei pela cozinha para lanchar e acabei, como habitualmente acontece cá por casa, por ver uma parte do programa de Manuel Luís Goucha e se percebi que os formatos oferecidos pelos canais generalistas do nosso país são feitos para o público chorar, como me aconteceu, também refleti se não existe hipótese de testarem formatos mais dinâmicos e bem dispostos naquele horário, sem terem de alterar os apresentadores que são mais do que multifacetados.
Não estaremos todos nós já cansados do dia de trabalho e muitas vezes do que nos rodeia para ainda existirem estes programas de vida onde a tristeza, a doença e a morte são debatidos dia após dia com histórias de sofrimento que prometem ser um exemplo mas que só ajudam a entristecer ainda mais quem está no aconchego do seu lar, muito vezes a sofrer de solidão e com alguns problemas bem semelhantes ao que estão a ser relatados no ecrã?
É necessário criar entusiasmo, não esquecendo que o peso da vida existe, mas será necessário estar durante os dias de semana, em dois canais em simultâneo a transmitirem autênticos casos de vidas recheadas de drama e negativismo? Tanto que pode ser transmitido e tanto por fazer em televisão e as direções que estão na frente dos canais neste momento optam por darem mais do mesmo ao público em detrimento da diversidade onde podem colocar temas pesados intercalados com histórias e momentos divertidos do dia-a-dia. Não é necessário usar e abusar do drama, podendo criar espaços e formatos onde se consiga seguir do peso de uma história triste à boa disposição. Se em outros horários isso é possível qual a razão das tardes da televisão portuguesa terem de sofrer com horas tristes que acabam até por afastar o público?
É raro ver o Goucha ou o Júlia sem chorar, agora imaginem quem está todos os dias em casa, de olhos colados ao ecrã de manhã à noite, a assistir a estas verdades pesadas que nunca terão fim e que podem ser um exemplo em televisão, não uma constante como têm feito nos últimos anos.