Autor: Keith Stuart
Editora: Marcador
Edição: 1ª Edição
Lançamento: Outubro de 2016
Páginas: 384
ISBN: 978-989-754-346-3
Classificação: 3 em 5
Sinopse: Alex, o pai, de trinta e poucos anos: Embora ame a sua mulher, já não sabe como o demonstrar. Quer estar perto do filho, mas não consegue compreendê-lo. Algo tem de mudar. Mas a mudança terá de começar em si próprio.
Sam, o filho, de oito anos: Cativante, surpreendente, autista. Para ele, o mundo é um enorme quebra-cabeças que não consegue resolver sozinho. Porém, quando Sam começa a jogar Minecraft, abre-se a porta para as descobertas que tanto o filho como o pai irão fazer acerca de si mesmos e da sua difícil relação.
Pode uma família fragmentada voltar a ser construída, peça a peça, até se reunir outra vez? Inspirada pelas experiências do autor com o seu filho, O Rapaz dos Blocos é uma singular história de amor e resiliência, uma moderna epopeia familiar que já foi traduzida e publicada em mais de 20 países.
Opinião: O Autismo é um tema de destaque em várias obras de sucesso literário, mas aliar o entretenimento dos videojogos à doença foi a jogada de mestre de Keith Stuart para narrar uma história forte, contada de forma leve e que acaba por prender o leitor.
Através da visão de Alex da sua própria vida familiar onde uma separação com Jody e um filho, Sam, com autismo, continuam a ser o seu centro de vida, o nosso narrador relata o seu dia-a-dia de forma direta, sem guardar as palavras e os momentos menos bons. Com oito anos de idade Sam mostra-se uma criança complicada para lidar em termos sociais com quem o rodeia, tanto em casa onde tudo gira e é feito com base nos seus comportamentos, como na escola e nas saídas necessárias onde acaba por se ver confrontado com sons, atos e movimentações que não são recebidas por esta criança que vive para si e na idealização que foi criando ao longo dos seus poucos anos de vida.
Um casamento aparentemente desfeito por passar demasiado tempo a trabalhar, deixando as responsabilidades com Jody que colocou um ponto final numa situação sobre a qual não quer mais viver, mas existe um filho e nesse ponto existe para sempre uma ligação entre um pai e uma mãe dedicados. Foi no momento do afastamento físico que Alex percebeu que existiriam outras formas de se aproximar, mesmo à distância, de Sam e tudo assim começou, graças ao jogo Minecraft, o sucesso mundial de miúdos e graúdos que conquista gerações e que tem ajudado o desenvolvimento de certos comportamentos enferrujados e que precisam de uma ajuda para se manifestarem em quem sofre de autismo, por exemplo.
Vivendo na casa de um amigo de infância e jogando online com Sam, Alex percebe aos poucos a importância deste jogo na vida do filho. Com tempo, vontade e persistência o desenvolvimento vai acontecendo, criando a criança laços e motivos para alegrar quem está ao seu redor. Uma família desfeita, uma doença e as mudanças vão acontecendo ao longo de meses em que o aparentemente mau se começa a transformar num melhoramento paternal onde o convívio e a vontade de descoberta surgem a bem da recuperação de um passado que será melhorado no futuro com a insistência de todos. O Mundo de Sam transforma-se e O Rapaz dos Blocos começa a enfrentar a realidade onde todos se inserem, convivendo, criando laços e perdendo o receio de conhecer o que está do outro lado de cada bloco e construção real.
Verdadeiro, sensível, complexo mas contado de forma livre e sem querer pesar e remoer no tema base, Keith Stuart transmite com auto conhecimento de causa as dificuldades do Autismo, tanto para quem o enfrenta como para quem lida diretamente com a doença. Uma escrita fácil e de leitura ligeira com personagens tão normais como cada um de nós, este romance cresce e deixa o leitor curioso sobre os futuros comportamentos de Sam à medida que vai mostrando capacidades para seguir em frente e deixar a caixa onde se parece sentir bem. O Mundo é deste jovem e para isso muito contribuiu um videojogo interativo e que ajudou a dar alguns dos primeiros passos do desenvolvimento social de Sam.