Não vejam a série A Maldição de Hill House
Já lá vai o tempo em que era apreciador de séries e filmes de terror. No entanto há uns dias encontrei em destaque na Netflix a série A Maldição de Hill House, que gira em torno de uma casa que se alimenta da morte, vivendo das almas de quem lá viveu e conseguiu levar ao limite até à morte.
Realizada por Mike Flanagan, esta série conta a história de uma jovem família que recupera casas para as recolocarem à venda. Com Henry Thomas e Timothy Hutton nos papéis centrais entre um elenco composto por nomes como Carla Gugino, Michiel Huisman, Elizabeth Reaser, Kate Siegem e Victoria Pedretti, esta família vive e viveu entre demónios. Do passado na mansão ao presente atormentado, a família Crain, mesmo tendo fugido da casa assombrada, sempre fica com o trauma sobre as figuras que fizeram da sua infância um martírio, principalmente quando as noites se aproximavam e os sons, as visões e os chamamentos eram constantes.
Figuras bizarras como um homem mal trapilho cujos pés não tocam no chão, uma mulher bonita mas louca, a velha rabugenta, a criança de olhar penetrante, o miúdo da cadeira de rodas, o monstro da cave e a mulher do pescoço partido são alguns dos personagens mais terríveis presentes nesta série que assusta mas que ao mesmo tempo parece ter sido como um aperitivo de terror, não sendo um produto forte e que cause verdadeiros sustos para que se fique a pensar em cada imagem e som por alguns momentos. Cada aparição é um susto, mas nada de relevante para quem gostar de terror no seu verdadeiro sentido.
Para além disso, existem ainda factos que parecem por vezes não fazerem sentidos, com erros básicos. Destaco em termos de produção o facto da cor da imagem ser alterada muitas vezes dentro de uma cena, existindo mesmo a mudança de filtro do nada, sem justificação e na maioria dos casos quando a imagem está fixa. Depois em termos de história surgem aqueles básicos do «mais do mesmo» em que personagens saem sozinhos para o confronto, num estilo mais que batido dentro do género de produção que é apresentada.
Um pai desesperado e mal interpretado, uma mãe a caminhar para o abismo, o filho mais velho com uma personagem que não me cativou em nada, tal como a irmã que se lhe seguiu. Existem depois os três filhos mais novos, bem construídos e com personalidades mais fortes mas que acabam por sofrer por um prolongamento de história desnecessário, graças à falta de vontade de um pai que não lhes conta a verdade sobre tudo o que vai acontecendo, numa tentativa de esticar uma história cinematográfica para uma série de dez episódios. E o que dizer de um casal de caseiros que de tudo sabe, mantém o seu mistério, mas acabam por não acrescentar nada ao que é relatado.
O que destaco nesta série são os episódios que primeiramente parecem ter uma sequência mas onde essa mesma ligação só é gerada mesmo nos capítulos finais com o recordar de momentos que se vão ligar com novas passagens que acabam por explicar a razão de cada acontecimento que fica inacabado aquando da primeira passagem. Certo que o espetador volta a ver várias cenas em duplicado, voltando a tocar na tentativa de esticar uma história por mais episódios do que o necessário, mas pelo menos explicaram o sentido de tudo que sempre parece nos episódios iniciais meio perdido.
A Maldição de Hill House tem uma história de terror leve, não acrescenta nada, com um início baralhado e somente explicado ao nono episódio e depois o seu final é vazio, sem nexo e transmitindo uma mensagem de que tudo fica bem entre uma família que sofreu mas que acaba sã, em paz e feliz.
Baseada no livro de Shirley Jackson, The Hauting of Hill House, publicado em 1959, mas com grandes alterações, esta série une terror com os distúrbios psicológicos de cada personagem numa junção que não resulta em série pelo prolongamento e pelos vários pontos que acabam por baralhar o que seria tão fácil de contar.
Esta é daquelas produções Netflix que não aconselho. Vi toda a temporada até ao final mas não fiquei rendido para a poder aconselhar!