Literatura alterada pela realidade
O ciclo em que todos vivemos atualmente, devido ao surto de Coronavírus, tem feito com que o isolamento social aconteça e com isso a nossa vida levou uma grande alteração de rotinas e hábitos que tiveram de ser bastante ajustados à nova realidade que parece tardar em passar. Com esta quarentena forçada com que quase todos temos de viver, começou a existir tempo para serem feitas outras coisas ou alterando o que já acontecia. Num certo ponto, na literatura, a maneira como olho para as histórias contadas até se tornou diferente.
Pessoalmente, o que notei é que não só mudei a forma de estar como também alterei, em termos literários, a criação mental de lugares e personagens. Confuso? Passo a explicar e quem lê correntemente irá talvez identificar-se com este ponto com que me apercebi pela minha atual leitura.
Quando determinada personagem é descrita a correr por uma avenida ou praça conhecida geralmente a imaginação enche esses espaços de figuração literária, tal como acontece normalmente na nossa realidade. As visitas a um museu consistem também no cruzamento com outras pessoas, neste caso, figurantes, que dão assim vida aos espaços que estão a ser idealizados mentalmente. Com a atual leitura e porque as nossas cidades, vilas e aldeias estão desertas, dei por mim a imaginar praças e ruas vazias quando as personagens circulam fora de casa, num autêntico estado de quarentena literário.
Aqui se prova o poder da influência das nossas vidas nas criações mentais que idealizamos. Se andamos numa boa fase também as histórias parecem seguir o nosso lema atual, mas se passamos por momentos mais ácidos também isso será refletido na forma como se olha para as histórias que se atravessam pelo caminho. Por exemplo, se andamos a ver o mar constantemente decerto que iremos imaginar um determinado romance numa vila perto da praia mesmo que tal não seja referido, já se andamos e adoramos o campo será de forma mais rústica que as ruas de calçada serão descritas. Neste momento imagino uma cidade deserta onde há mês e meio teria imaginado aquelas personagens a circularem entre moradores e turistas nas suas vidas corridas.
O poder da realidade sempre a intervir nos momentos de imaginação literária. E com isto ainda dizem que ficção e realidade não se cruzam.
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