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O Informador

Distância bloqueadora

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Gosto do Alentejo, não escondo que talvez me adaptasse a uma vida mais calma e longe da correria do dia-a-dia pela região, zona de Évora talvez, no entanto existem pontos que acabam por mostrar que as distâncias e desigualdades acabam por pesar e justificar o afastamento ao longo dos anos da população mais jovem das zonas rurais.

Vamos imaginar uma semana de calor no Alentejo, numa aldeia que conta com uns vinte minutos de distância da grande cidade vizinha. As pequenas vilas existem e os consequentes supermercados também estão fixados nessas vilas que vejo mais como aldeias. Os ditos pequenos supermercados para a população local parecem servir, no entanto para quem vai de fora passar uns dias não chegam. Vamos criar dois episódios que aconteceram comigo e que no quotidiano mais urbano ou mesmo na aldeia na região de Lisboa se conseguem resolver nuns rápidos minutos.

Primeiro incidente... O gás, de bilha, faltou a meio da confeção do jantar. Teríamos de imediato de resolver o problema para finalizar o que já estava a ser feito. Peguei na bilha e tentei ir a um café da aldeia que vende da mesma marca. Cheguei e logo fui informado que não tinham uma única unidade cheia para poder comprar, deixando a vazia em troca. O local mais próximo seria a uns dez minutos de distância mas como era supermercado já tinha encerrado porque no Alentejo profundo os supermercados mais conhecidos fecham praticamente no horário do comércio tradicional. Ou seja, nesse mesmo dia o gás não existia em lado algum. Tivemos de repensar nos pratos e tentar a sorte no dia seguinte, fazer os ditos quilómetros, entrar num estabelecimento onde os empregados estavam na hora do pequeno-almoço e pedir, tendo ainda de esperar, que me vendessem gás. Em casa tinha trocado o gás num ápice porque até as bombas de combustível o vendem, mas pelo Alentejo até colocar gasóleo tem de ser bem pensado porque os horários são somente diurnos, sem possibilidade de pagamento automático, e as bombas encontram-se a boas distâncias umas das outras.

A segunda situação ocorreu com a ideia de ir até às piscinas locais, procurar nos supermercados e farmácias e não existir creme protetor de adulto. Um dia sem piscina e no seguinte o pensamento foi ir até à cidade, aproveitar o complexo de Évora, passando antes por um supermercado de uma das grandes cadeias nacionais e poder escolher à vontade o creme, com direito a desconto que compensou o combustível. Ou seja, quem quiser ir até à piscina da vila pode, não tem é a possibilidade de comprar creme pelas redondezas porque tal não existe e muitos devem optar por ir sem qualquer proteção porque não estão para fazerem quilómetros, perderem quase duas horas entre viagem e compras para poderem dar um mergulho.

É bom viver no campo pelo estilo de vida que se obtém, ganhando-se com isso, no entanto as falhas existem e o país, tal como o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa referiu à dias, está tão mal dividido em termos de igualdades, possibilidades, direitos e oportunidades que só percebendo nos locais a forma de estar e viver é que se consegue entender as verdadeiras diferenças do facilitismo e da complicação onde a distância é um verdadeiro problema.

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