Desabafos pandémicos
Os números de novos casos de contágio por Covid19 estão altíssimos e a tendência é a de continuarem. Centenas de casos ativos, serviços hospitalares em rutura, filas de espera em ambulâncias e a escolha entre viver e morrer a começar a ser feita em certos locais do país. Em Março/Abril de 2020 o medo atingiu-me e aos poucos, com confiança, fui compreendendo as circunstâncias e consegui ao longo do tempo aceitar a realidade, tentando um regresso à nova normalidade sem deixar os cuidados de lado.
Agora, Janeiro de 2021, o segundo confinamento acontece, os números de infetados com Covid19 estão bem superiores e não param de ascender a valores que impõem respeito. Nos últimos dias as noticias não nos são agradáveis e de cada vez que sou confrontado com os principais noticiários televisivos, seja o do almoço ou jantar, fico como que apático, sem vontade de comer, gerando sentimentos de revolta, com bastante receio à mistura. Não consigo neste momento ver entrevistas pessoais e que servem como um grito de ajuda de médicos e enfermeiros a demonstrarem o seu dia-a-dia, sem que não me venham as lágrimas aos olhos. Não consigo imaginar como tudo será se existir um caso próximo de Covid19 ou sequer se tiver de me dirigir a um hospital com outra doença e saber que fico em risco de não ser socorrido nas melhores condições por falta de meios. Estamos com milhares de internamentos, bastantes em estado grave, não existem camas e dispositivos disponíveis e os profissionais de saúde além de não serem suficientes estão esgotados. Portugal caminhou em poucas semanas para o desastre social na pandemia e toda esta situação não será resolvida em menos de dois meses.
Respeitem o espaço de cada um, tomem todos os cuidados possíveis, exijam dos outros os mesmos cuidados porque os profissionais que estão na linha da frente não conseguirão fazer baixar estes números e salvar vidas se não colaborarmos. Medo, receio e tristeza são neste momento sentimentos que me atacam de forma bem forte pela incapacidade de reação perante toda esta situação que não nos está a dar tréguas e perante a qual acabamos todos por ter um pouco de culpados.