Cem Anos de Solidão
Um dos melhores livros de todos os tempos, segundo dizem, e o mais conhecido de Gabriel García Márquez andou a ser lido por aqui! No final e se não fosse toda a treta da história inicial poderia mesmo considerar como uma das melhores narrativas que já li. Sendo assim fiquemos pelo que poderia ter sido e não foi!
Comecemos então a falar sobre o isolamento de um povo na cidade de Macondo pelo início do século XIX. Refugiados do mundo contra os impostos praticados por todos os cantos do planeta, aos poucos a evolução começa a fazer-se sentir junto dos habitantes da cidade que sempre se isolaram de um mundo cada vez mais denso de pagamentos e regras sociais. Depois de algumas tentativas os primeiros desconhecidos conseguem entrar num mundo diferente do que existe por outras paragens, tendo sido no local criadas as próprias formas de vida social que começam depois a ser readaptadas consoante quem chega.
O desenvolvimento vai acontecendo, as novidades aparecem e a evolução cientifica e tecnológica faz-se sentir com a passagem do tempo que o leitor é convidado a acompanhar através da família Buendía. Um clã onde a solidão bate há porta geração após geração que insiste em isolar-se logo a partir do patriarca José Arcadio que sozinho constrói o seu projeto, posteriormente passado aos filhos e transformado com outras técnicas e aprendizagens pessoais. As necessidades de Aureliano e José Arcadio leva-os a criar outras raízes até então desconhecidas e capazes de continuarem a levar o nome familiar em frente, na guerra ou no trabalho diário.
A par dos homens, também as mulheres têm as suas particularidades. Umas nascidas através do pecado familiar e outras vindas de fora do clã, todas movimentam forças para cuidar dos mais próximos sem se resignarem com o que lhes vai batendo há porta.
Fazendo uso da literatura mágica, Gabriel García Márquez coloca em determinadas personagens e ao longo de toda a obra vários factos que mostram artes mágicas e particulares de cada qual. A diferença de Márquez para outros autores que já conheço a usar esta forma literária é que tudo aqui é feito de modo tão natural que quase nem conseguimos em alguns casos dar conta que da realidade que poderia ter acontecido passamos para uma criação que é aparentemente impossível onde o mundo mágico e maravilhoso ganha vida com algumas, senão mesmo todas as personagens em algum espaço de tempo das suas vidas.
O que não apreciei... De toda a parte inicial, talvez mesmo da primeira metade! Da união de José Arcadio com Úrsula Iguarán, que são primos, até ao nascimento da sua primeira bisneta Remedios, la Bella, nada me interessou na narrativa. Fui lendo, muito com o recurso à árvore genealógica da família, mas sem grande interesse. A partir dos bisnetos e com os trinetos a história parece ganhar força e alento para os cruzamentos que vão sendo feitos, isto com a união com o desenvolvimento da cidade onde o comboio, o telefone e o transporte aéreo começam a dar sinais de existência junto da população de Macondo.
Este é daqueles livros que se não tivesse toda uma primeira parte enfadonha não se teria perdido grande coisa! Contentava-me com a história dos descendentes e últimos Buendía porque aí sim existe história da boa daquela que agarra o leitor.
O que encontrei em Gabriel García Márquez por Cem Anos de Solidão é que foi criando personagens, desenvolveu-as de uma forma exemplar só que no final de uns capítulos criava novos familiares e dispensava de várias formas os anteriores. São poucos, mais as mulheres, que conseguem conviver com as gerações seguintes. Da morte ao exílio por diversos motivos e passando por anos na guerra, várias são as formas que o autor arranjou para dispensar os que já não lhe faziam falta na narrativa que estava a criar. Não percebi a razão desta necessidade mas Márquez lá o saberá melhor do que ninguém.
Todos viveram isolados, todos tiveram os seus pecados e todos morreram! Todos vivemos, todos pecamos e todos iremos morrer! Se poderia este clã ter existindo? Oh não se não podia! Um bom livro, sem dúvida, e recomendado, mais que não seja por ser um clássico vindo de um Prémio Nobel de Literatura.
Sinopse
Obra-prima da literatura contemporânea, traduzida em todas as línguas do mundo, Cem Anos de Solidão consagrou definitivamente Gabriel García Márquez como um dos maiores escritores do nosso tempo. "... Descobri, ao acordar, que tinha maduro no coração o romance de amor que havia ansiado escrever há tantos anos."