As Aves Não Têm Céu | Ricardo Fonseca Mota
Porto Editora
Título: As Aves Não Têm Céu
Autor: Ricardo Fonseca Mota
Editora: Porto Editora
Edição: 1ª Edição
Lançamento: Janeiro de 2020
Páginas: 184
ISBN: 978-972-0-03192-1
Classificação: 2 em 5
Sinopse: Um homem vagueia pelas noites insones, revisitando o passado e a culpa que lhe vai consumindo os dias. A mulher trocou-o por outro e levou consigo a sua única filha, ainda pequena. Na semana de férias em que finalmente pode estar com ela, sofrem um acidente de viação que resulta na morte da filha.
A culpa e o passado cruzam-se neste romance feito de gente que vive no escuro, como o taxista que várias vezes apanha este pai e o transporta pela cidade silenciosa, e os dois companheiros com quem desde a morte da filha partilha o espaço.
Vencedor do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís 2015, Ricardo Fonseca Mota regressa à ficção com As aves não têm céu, um romance lírico que vem dar voz às sombras que se escondem nos recantos mais obscuros da alma humana.
Opinião: A sinopse promete pelo tema central girar em torno da morte de uma filha. Leto, um homem que se deixa levar pela solidão e abandono após a perda do que parecia ser uma família feliz, num dos dias em que tinha a companhia da sua filha acaba por a perder num acidente de viação. A viver com dois companheiros de casa e viajando de táxi pelas ruas da cidade, este homem já não tinha vida antes do acidente, ficando ainda mais devastado quando percebeu que já nada restava do seu passado.
Refletindo sobre a tragédia de forma constante, sem querer ser mas sobrevivendo, Leto é a demonstração degradada de um pai que vê a sua filha falecer mesmo à sua frente, num caminho para a morte sem volta a dar. Procurando encontrar quem jamais regressará à sua presença, este ser perdido e amargurado tem em si todas as falhas e angústias de quem vai vivendo sem a real vontade para o fazer, sendo um sobrevivente de uma vida bastante fragilizada.
Ao lado de Leto, encontramos os seus dois parceiros de casa, cujas histórias não são melhores e um taxista que vagueia com um cliente que não entende mas perante o qual se deixa levar por ruas e passeios vagos e silenciosos. Até que ponto cada um de nós consegue dar a volta a uma situação pesada de perda sem que existam motivos para recomeçar?
Com uma escrita meio poética e que não agradou, Ricardo Fonseca Mota arriscou em As Aves Não Têm Céu a partilha no mesmo espaço do positivismo da vida e do peso da morte numa constante batalha sobre o que somos e o que vale a pena numa procura pelas justificações.
Com uma narrativa pausada, complicada, elaborada e recheada de artifícios para prender e obrigar a parar para refletir, este romance não conseguiu cativar como era esperado, muito pela forma como tudo é relatado por um narrador que se mistura e retira de cena, divagando enquanto comenta. Muito confuso para quem só queria encontrar um livro que pudesse servir de boa companhia sem exigir voltar atrás uma série de vezes por se sentir emaralhado pelo complicado fio condutor.