As Árvores Morrem de Pé
Filipe La Féria, Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho sonharam levar a palco uma versão do espetáculo de Alejandro Casanova e o dia 11 de Agosto de 2016 simbolizou o arranque junto do público de um desejo de dois grandes atores e um encenador de excelência no panorama nacional. As Árvores Morrem de Pé é o novo espetáculo de Filipe La Féria para o Teatro Politeama e a estreia não poderia ter corrido melhor!
Com Manuela Maria, que divide a sua personagem com Eunice Muñoz, e Ruy de Carvalho nos comandos de um elenco bem conhecido dos espetáculos de La Féria, esta produção assinala o regresso aos grandes textos teatrais, quebrando o fio que vinha a ser feito através das várias revistas à portuguesa que subiram ao palco pelos últimos anos no Politeama. As Árvores Morrem de Pé é por si só um espetáculo que fala por si mas se lhe colocarmos os grandes da nossa representação a encabeçar o elenco acaba por ser perfeito.
Plateia esgotada sem existir espaço para mais. Público bastante atento ao que ia ser feito. Encenador confiante. Equipa técnica alegre. O pano sobe e o palco mostra-nos que uma vez mais as Produções Filipe La Féria não falham no cenário e na caracterização dos personagens. O elenco começa a desfilar, uns com maior destaque que outros, como sempre, e rapidamente entra em palco Ruy de Carvalho que recebe os aplausos de um público que sabe perfeitamente a razão de estar naquela sala. A história começa a desenrolar-se e vamos sendo levados por atores que interpretam clandestinos atores até ao grande centro da ação, a casa onde está no momento a avó que poderia ser de todos nós.
Manuela Maria dispensa qualquer tipo de apresentações e confesso que é a grande surpresa desta estreia. Gosto e sempre gostei desta atriz que ao longo da sua vida tem feito história na representação, mas não pensei que estivesse tão bem e me conseguisse levar rapidamente do riso ao choro de forma perfeita e sem que tenha tido tempo para pensar nas alterações repentinas de uma personagem que lhe encaixa na perfeição. Seriedade, serenidade, calma, humana, profissional... Tanta coisa que tinha agora para contar sobre o que senti com a prestação de Manuela Maria pelas tábuas do Politeama. Emoção é acima de tudo o que esta grande atriz, tal como Ruy de Carvalho, conseguem passar para quem assiste a este grande espetáculo que irá ficar certamente em cena durante uma grande temporada.
O talento em As Árvores Morrem de Pé não se coloca em questão porque dos jovens aos seniores, todos têm e revelam grande experiência. O texto está lá, tendo um grande contraste entre o bem e o mal que se atropela de forma positiva entre si. O cenário perfeito, o guarda-roupa perfeito, a iluminação perfeita. Enfim, tudo perfeito num sucesso que ainda agora começou!
Vale tanto a pena passar um serão no Teatro Politeama a assistir a esta produção que concretiza sonhos, ajuda a sonhar, celebra a vida e honra quem marca a representação em Portugal! Os grandes estão juntos em palco, merecem e aqui está uma verdadeira forma de os podermos ver, homenagear e ficar com uma memória para mais tarde poder recordar!
Aconselho a que todos a que vejam As Árvores Morrem de Pé, o espetáculo que tem como lema «Morta por dentro, mas de pé como as árvores»! Aplaudam!
"Morta por dentro, mas de pé como as árvores" é a frase que ainda ecoa no imaginário do Teatro em Portugal, designadamente nas Noites de Teatro emitidas pela RTP. A frase pertence ao clássico texto de Alejandro Casona e é dita no final da peça pela lendária actriz Palmira Bastos que a interpreta e protagoniza.
Tudo começa numa organização que pretende tornar as pessoas mais felizes com poesia e criatividade. Um velho senhor chega um dia ao escritório dessa estranha organização com um pedido surpreendente: o seu neto tornou-se um perigoso delinquente, mas ele quer esconder a verdade à sua mulher.
Ao longo de vários anos enganou-a escrevendo-lhe cartas fictícias, supostamente do neto, criando a imagem de um famoso arquitecto que vivia no estrangeiro.
Um dia o verdadeiro neto envia um telegrama anunciando a sua chegada. Porém, o navio em que viajava sofre um naufrágio e todos os passageiros morrem. O velho senhor propõe então à organização que coloque em sua casa um casal fingindo ser o neto e a sua mulher para tornar real a ilusão da avó.
Texto mítico do reportório do Séc XX, "As Árvores Morrem de Pé" experimenta e contraria os patrões clássicos do Teatro, criando fissuras nas personagens, desagregando-as da sua identidade, confrontando-as com o conceito da verdade e dos seus espelhos no poder recriador da ilusão.
Filipe La Féria reúne um elenco de grandes actores nesta nova leitura do texto de Alejandro Casanova: Eunice Muñoz, Ruy de Carvalho, Manuela Maria, Carlos Paulo, Maria João Abreu, João D’Ávila, Hugo Rendas, Ricardo Castro, Paula Fonseca, Rosa Areia, João Duarte Costa, Patrícia Resende e os jovens actores João Sá Coelho, Pedro Goulão e Francisco Magalhães.