A Vida Invisível de Eurídice Gusmão | Martha Batalha
Porto Editora
Título: A Vida Invisível de Eurídice Gusmão
Autor: Martha Batalha
Editora: Porto Editora
Edição: 1ª Edição
Lançamento: Julho de 2016
Páginas: 216
ISBN: 978-972-0-04859-2
Classificação: 4 em 5
Sinopse: Rio de Janeiro, anos 40.
Quando Guida Gusmão, perdida num amor proibido, desaparece da casa dos pais sem deixar rasto, a irmã Eurídice prometeu ser a filha exemplar, a que nunca faria algo que trouxesse novo desgosto aos pais. E Eurídice torna-se a dona de casa perfeita, casada com Antenor, um bom marido, apesar de tudo, ou apesar do nada em que a vida de Eurídice se tornou.
A vida de Eurídice Gusmão é em muito semelhante à de inúmeras mulheres nascidas no início do século XX e educadas apenas para serem boas esposas. Mulheres como as nossas mães, avós e bisavós, invisíveis em maior ou menor grau, que não puderam protagonizar a sua própria vida.
Capaz de abordar temas como a violência, a marginalização e até a injustiça com humor, perspicácia e ironia, Marta Batalha é acima de tudo uma excelente contadora de histórias que tem como principal compromisso o prazer da leitura.
Opinião: Charme, poder e luta interior são três descrições com que posso definir A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, o romance da brasileira Martha Batalha que me conseguiu cativar desde os primeiros contactos com Eurídice, para mais editado em Portugal com o português do Brasil.
Numa escrita despretensiosa e recheada de momentos de humor ao mesmo tempo que descreve as épocas de 50 e 60 dentro do ambiente familiar, o leitor é convidado a seguir as pisadas desta jovem mulher após o desaparecimento da sua irmã Guida, que procurou a liberdade que os pais não lhe deram. Mais nova e a viver para a casa, Eurídice acabou por acompanhar os pais até ao dia em que decidiu casar, um sonho e quase uma obrigação para com a idade que ia avançando. Era necessário ser mãe, muitos homens disponíveis para casar, a família desejava-lhe uma boa vida, mas a jovem pensava de maneira dispare, embora seguisse os planos para que estava destinada como qualquer cidadã brasileira daquele tempo com uma educação feita a pensar no casamento perfeito.
Acompanhando os primeiros anos de casamento, como esposa, mãe e dona de casa, Eurídice sentiu estar presa dentro de quatro paredes, sendo a mulher perfeita numa família com um certo poder e com empregada de casa para que patroa e ajudante tivessem tudo pronto para António, o marido que chegado do emprego queria tudo feito e à sua disposição. As vontades de mudar o rumo imposto foram suscitando e o grito de liberdade vai acontecendo quando o leitor é convidado a seguir os atos e opções desta mulher solitária e com vontade de triunfar numa sociedade machista.
Sem criar grande alarido fora de casa, Eurídice iniciou o sonho para alcançar vários objetivos, sempre defraudados após uns tempos pelo marido. Esta mulher não lutou mas tentou sempre levar as alterações avante para que os homens não tivessem para sempre no patamar superior no poder masculino sobre as várias funções dentro e fora de casa. Eurídice acaba por ser um exemplo da sociedade que imperava na época, podendo ser a manchete com voz de muitas esposas que viviam dentro de cada casa para cuidar sem nome e vontade própria.
Reprimida mas com voz e soando com alguma contradição com outras histórias com que se cruza, esta senhora Gusmão sofreu de bastante especulação por querer fazer o que não era feito pelas restantes, acabando por provocar inveja ao ponto de serem capazes de denegrir a imagem familiar criada com os anos, o que Eurídice nunca aceitou e sempre continuou a colocar as suas crenças na frente.
Com uma escrita livre e divertida ao bom modo brasileiro, com uma história sem dispersar em algum momento, contando passados e presentes sem falhas e bem identicativos e tocando num ponto com que todas as sociedades mundiais se depararam e ainda questionam, com a emancipação da mulher a favor da igualdade de género perante direitos e deveres, A Vida Invisível de Eurídice Gusmão demonstra emoções, paixões e aventuras num passado não tão distante e real que foi vivido por muitos.
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