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O Informador

Saudade sem presença

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Hoje ainda existe saudade de quem já não está e que nos deixou sem avisar. Existiam pontos sobre os quais não tinha percebido sobre as suas últimas horas, mas agora percebi que num dia tudo estava bem e na manhã seguinte o saco do pão continuou pendurado na porta sem ser recolhido como todos os dias acontecia. Nas vésperas os telefonemas habituais aconteceram mas os da manhã já não foram atendidos. Poderia ter saído mais cedo de casa sem avisar, mas o pão que ficou por recolher deu o alerta de que algo se passava. E passou.

Em menos de um ano os dois juntaram-se de novo fora do raio de vida que vamos continuando de forma física. Viveram um para o outro, ela a cuidar dele, ele a olhar por ela e assim continuam juntos, a olharem por nós que por cá ficamos, que acompanhamos os últimos momentos dele que acabou por a chamar de forma súbita para a sua companhia. Duas dores dispares, a do sofrimento pelo tempo de doença entre corridas para o hospital e regressos, em meses de dor e confusão e depois com a partida inicial, quem cá ficou parecia estar a voltar a viver, mas não, de forma rápida ela partiu sem nos deixar qualquer aviso.

Situações tão diferentes. Primeiro ele, em que já estávamos à espera e supostamente melhor preparados e doeu, magoou e o cansaço do tempo fez-se sentir nos momentos finais, pesando imenso, deixando na memória o último olhar e um corredor hospitalar em que percebi que tinha sido a última vez. Depois, no caso dela, foi a forma repentina onde nem deu para pensar que poderia ser a última vez que a víamos.

Memórias de Sábado

Aos trinta anos sabe bem recordar as boas memórias que foram ficando de quando era mais pequeno e nessa altura os Sábados eram sempre especiais, fora de casa e em boa companhia.

O dia começava bem cedo, enquanto os colegas de escola ainda dormiam já eu andava de pé, em espera para apanhar com a mãe a boleia do pai, que sempre trabalhou ao Sábado, para os dois passarmos o dia com os avós maternos. Íamos de manhã, bem antes do sol nascer e chegávamos, já que a viagem era rápida, ainda de noite também. Todos ainda dormiam, os avós e a madrinha, e sorrateiramente entravamos em casa sem fazer barulho para irmos ter com a «inha» ao seu quarto. Muitas vezes me deitei naquela sua cama a ver os primeiros desenhos animados matinais, após a emissão abrir, acabando em várias situações por adormecer e tirar assim um segundo sono rápido. Como era bom acordar cedo naquela altura para passar o dia em família.

O dia começava a despertar e os visitantes levantavam-se com os residentes para o pequeno-almoço, que no nosso caso já seria o reforço porque nunca saiamos de casa, tal como hoje acontece, sem comer alguma coisa. O sol batia à porta e convidava a sair pela rua, para visitar a restante família, passear pelas ruas de calçada, ir ao mercado, à loja, ao parque onde por várias vezes brinquei. Era uma criança feliz nessa altura, onde não existiam problemas, onde a rebeldia típica da idade existia e a curiosidade surgia porque tudo servia para colocar questões e querer saber mais. Conhecia as pessoas da aldeia, levava beijos a torto e a direito de quem se cruzava pelo caminho, o que odiava, e ainda hoje me recordo desses momentos.

Ao almoço sempre recordei a dobrada cozida com arroz, batatas e feijão da minha avó. Por muito que tente encontrar algo parecido, sei que será impossível saborear aquele prato com o gosto que o fazia na altura. Aquela dobrada, que tantas vezes comi, era única e o seu gosto ficar-me-à sempre na memória, por mais tempo que passe. 

Os Sábados sempre aconteciam assim, a sair de manhã de casa e a regressar somente para jantar, sem cansaço e com o mimo todo recarregado com boas energias. Como seria bom se o tempo, esse malvado, voltasse para trás um dia para que pudesse voltar a ter um avô com quem ver televisão, uma avó preocupada, um prato de dobrada para celebrar com calma e uma família bem maior e com amor para dar à disposição.

Próxima leitura... Amores e Saudades de um Português Arreliado

Amores e Saudades de um Português ArreliadoA única coisa é a vida, recheada de felicidade, cheia de alegria e com muita sabedoria. Poderia estar para aqui a tentar encontrar o ritmo de Miguel Esteves Cardoso na apresentação do seu livro Amores e Saudades de um Português Arreliado, no entanto não me parece ter as capacidades para lá chegar. Poderia tentar e tentar, mas para isso não poderia dedicar-me à leitura desta obra do autor, a primeira que leio e que acredito que valerá a pena!

A única coisa é a vida. A única coisa é a vida de cada um. Sem vida, nada feito. Viver não é a melhor coisa que há: é a única coisa. Cada momento da vida não é único. Mas há momentos únicos. A nossa felicidade não é passá-los como quisermos. É dar por ela a aproveitá-los. (…) A única coisa é saber que um dia virá em que nos será tirada a vida. Para sempre. Mas, por sabermos isso, não podemos perder tempo a pensar nisso. (…) A única coisa é estar aqui, agora, a escrever isto. Enquanto posso. Enchendo-me de alegria.

Saudade antecipada

«Eu sou forte!» ... «Não gosto de sentir saudades!» ... «Não sou amigo dos colegas de trabalho!» ... Frases tão curtas e diretas que são deitadas por terra quando o sentimento aparece e se percebe que afinal até gostamos daquelas pessoas com quem estamos habituados a estar dia-a-dia, mesmo que de forma profissional!

É certo que tenho uma relação diferente com a pessoa com quem almoço que não consigo ter com os outros, isto porque ao longo de sete anos já muito conversamos, rimos e choramos naquela hora onde podemos partilhar comida, desabafos e emoções. Agora ela vai passar um mês ao seu país, o Brasil, e eu já estou com saudades!

No momento da despedida ela não se controlou e começou a chorar depois de me dizer algumas palavras bonitas. Claro que não sou de ferro e deixei-me também absorver pela emoção! A viagem vai durar pouco mais de trinta dias, mas vou sentir a sua falta, sem dúvida alguma, para mais quando sei que faço parte do lote de pessoas com quem se dá e de quem gosta!

Quero muito que a sua viagem com a filha e o marido corra do melhor porque eu gosto muito daquela família brasileira e agora durante um mês vou estar sozinho ao longo das horas de almoço sem a minha brasuca para poder conversar e fazer-me companhia!

Por mim que passe rápido! Por eles, que demore uma eternidade porque é lá que estão os seus verdadeiros familiares!

Saudades do tempo de escola

Quando se é jovem e estudante só se pensa em terminar de estudar para ir trabalhar e poder comprar com o que ganhamos o que queremos. Passado um tempo de se trabalhar, o regresso ao passado é desejado, mas não passa disso mesmo, um desejo...

Já passaram quase sete anos desde que terminei os estudos e agora em que se está na época das férias de Natal penso que por esta altura já tinha as minhas notas afixadas, estava a descansar, a passar as tardes na vadiagem e tudo corria bem. Hoje em dia trabalho, corro de um lado para o outro e as coisas são tão mais reais do que eram naquela altura de estudante sem preocupações.

Os mais velhos sempre me disseram para estudar até querer, para não deixar a escola, mas a crença que iria parar para trabalhar, mas que depois voltava a estudar falou mais alto. Parei, comecei a trabalhar, mas não voltei a estudar!

Não me arrependo disso, mas nestas alturas em que os estudantes estão de férias, estão despreocupados, tendo boas notas ou não, faz-me pensar que podia ter continuado a marrar nos livros por mais uns anos, e agora já estaria a trabalhar com uma outra profissão, ou estaria no desemprego.

Enquanto somos estudantes surgem as queixas que custa muito estudar, que os outros não compreendem o quanto trabalho se tem, mas quando se começa a trabalhar é que se percebe que o duro não está na escola, mas sim quando se tem uma profissão que não a de estudante.

Quando olho para a vida que fazia no tempo de escola lembro-me das aulas, mas num dos últimos planos, pensando primeiramente nos momentos que passava nos intervalos com os meus amigos, nas horas de almoço e tardes livres. Andávamos mesmo sem preocupações, agora corre-se para ver se se alcança alguma coisa, mas...