1001 Coisas que Nunca te Disse | Catarina Rodrigues
Título: 1001 Coisas que Nunca te Disse
Autor: Catarina Rodrigues
Editora: Oficina do Livro
Edição: 1ª Edição
Lançamento: Junho de 2018
Páginas: 288
ISBN: 978-989-741-918-8
Classificação: 3 em 5
Sinopse: Quando a vida que tens como garantida se desfaz, questionas tudo. Quando alguém te deixa, parte de ti fica perdida. Após um relacionamento falhado, uma jovem mulher decide reescrever a sua história e embarca numa longa jornada. Durante cerca de três anos, viaja por diferentes lugares do Mundo e dentro dela. Entre o passado e o presente, descobre o valor da dor, da perda, da identidade, da felicidade e traça o caminho do perdão. Porque um grande amor muda a tua vida para sempre.
Opinião: Sara, uma jovem universitária, de um momento para o outro perde o seu grande amor, iniciando assim uma fase menos boa da sua vida onde todos os pilares que a ajudavam a sustentar quebram. No momento em que é necessário enfrentar um desgosto de amor as forças desaparecem. Quem não compreende esta desilusão amorosa quando todos passamos em algum momento da vida por algo do género?
Da autoria de Catarina Rodrigues chegou através da Oficina do Livro a obra 1001 Coisas que Nunca Te Disse, um romance contado na primeira pessoa, através de cartas quase faladas de Sara para David, o amor que prometia ser para a vida. As reflexões sobre a sua criação sem uma família estável como aconchego, o passado a dois vivido de forma feliz ao lado de David, os sonhos que ficaram por realizar e os objetivos sobre a vontade de esquecer a mágoa para iniciar um novo processo. A dependência sobre uma felicidade que prometia ser eterna e que ficou pelo caminho, a incapacidade de reação inicial com esperança que tudo mude sabendo que isso não irá acontecer. Sara luta contra si, dando através destas cartas os sinais que queria mostrar a David sobre tudo o que viveram em comum e os seus sentimentos no momento em que fica só, sem o refúgio que tinha.
Descontraída, de forma simples e sem filtros, Sara entrega à escrita o peso com que habita, vendo nas palavras o seu melhor confidente numa altura de luta pessoal e de mal com o mundo por um corte inesperado que lhe tira o chão. Cada apontamento sincero, transcrito em pequenos capítulos que podiam parecer mais do mesmo mas que agarram o leitor através de cada fase que esta jovem mulher enfrenta ao longo do período de luto pela relação que tinha. Apontar o dedo ao que falhou em si e nos dois, reflexão sobre as brechas que foram abertas que permitiram a ausência de sentimentos e a incapacidade de reação no momento em que tudo voou e é necessário regressar ao ponto onde tudo começou.
Numa autêntica viagem de vida que começou conturbado, passando por um momento de felicidade que virou presente pesado, a nostalgia surge com cada marca que serve de comparação entre o que foi vivido a dois e um presente solitário que tarda em passar. Vivendo para os estudos e onde o trabalho ocupa cada vez mais o espaço deixado vago pelo coração, Sara mostra-se ao longo dos seus desabafos uma mulher com baixa auto estima, não enfrentando a dor com tentativas de recomeço, optando sim por alimentar o que já não existe, sacrificando uma corrida contra a verdade, não sendo um exemplo de esperança junto dos leitores que passem por uma situação do género. Olhei para esta história e encontrei uma mulher como quero acreditar que não existam assim tantas. Sara permanece demasiado tempo na dor provocada pelo abandono, dando a volta à situação de forma tardia e com apontamentos vingativos a surgirem num momento final, o que não achei convincente nesta história, mas sei que é real. Um ser magoado sempre se transforma e neste caso, como em muitos exemplos reais, a mudança derivada da dor sôfrega acaba por levar a momentos de humilhação para com o outro onde o sofrimento provocado acaba por criar um ser revoltado que tanto está pronto para voltar a acreditar como para magoar e agir com vingança assim que surja uma oportunidade.
Catarina Rodrigues tem assim no seu primeiro livro uma experiência que demonstra que este nome terá caminho a desbravar dentro de um outro estilo de contar uma história. Pela sua escrita vejo um futuro romance, com aquele drama que lhe é exigido, a ser desenvolvido e a conseguir segurar o leitor para que se queira saber sempre mais o que irá acontecer. Em 1001 Coisas que Nunca te Disse fiquei a querer seguir com a leitura, mas não posso dizer que me tenha conquistado pela história, mas sim pelo fio condutor e por perceber que embora o tema tenha sido sempre em volta do mesmo, existia sempre algo novo para ser contado, o que demonstra um dos pontos positivos deste enredo que ganha bastante pela escrita fluída e que prende o leitor, não tanto pelo que vai sendo contando mas sim pelo que irá ser revelado.