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O Informador

Todos os Dias Morrem Deuses [António Tavares]

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Autor: António Tavares

Editora: D. Quixote

Lançamento: Abril de 2017

Edição: 1ª Edição

Páginas: 176

ISBN: 978-972-20-6247-3

Classificação: 2 em 5

 

Sinopse: 1953. Este é um ano rico em acontecimentos: Eisenhower é eleito Presidente dos EUA, Churchill ganha o Prémio Nobel da Literatura, os Rosenberg são acusados de espionagem e executados, Tito torna-se o timoneiro da Jugoslávia… 

E, porém, os factos que atraem o protagonista deste romance - um jovem jornalista sem dinheiro que deambula por uma Lisboa de cafés e águas-furtadas - são claramente delicados em tempo de censura, pois prendem-se com as múltiplas conspirações que rodeiam a morte e a sucessão de Estaline na União Soviética. 

Não só é preciso que escreva com pinças para fintar o regime, como a informação que lhe chega de fora é escassa e contraditória, obrigando-o a dar largas à sua imaginação…

Muitos anos depois, de regresso à aldeia onde nasceu e a que o liga a memória da mãe, sente o rasto da velhice na metáfora de uma fogueira que vai consumindo o que ainda lhe sobra desse passado e relembra as mulheres que o marcaram e os deuses que ajudou a criar na sua prosa diária.

 

Opinião: Decorre o ano de 1953 e encontramos-nos em Lisboa, na vida de um jovem jornalista responsável pela área internacional de um jornal nacional. Os acontecimentos do Mundo que marcaram a História daí em diante têm de ser relatados, nem sempre como acontecem, mas sim como convém, tendo o cuidado com o controlo da época, tal como com a criação floreada por vezes de certos temas que não chegavam com grandes bases a Portugal para serem noticiados à sociedade. Era necessário criar história dentro do que era possível fazer, nem que para isso se inventasse um pouco com o que acontecia do outro lado do planeta e que estava bem distante para se confrontar a notícia com a verdade dos factos. 

A premissa de Todos os Dias Morrem Deus é boa, no entanto não a vi com um bom desenvolvimento, tendo os factos históricos desfilados muito rapidamente e sem grande pormenorização, sendo feito algo corrido sem conseguir dar destaque à História como devia ter acontecido. O leitor fica com aquela ideia que, sim isto aconteceu, ok, talvez se fique com a noção que já se devia ter, mas não se levam os acontecimentos mais além, para as repercussões, por exemplo, que uma decisão levou junto da população. 

Nesta obra o leitor é apresentado ao jornalista e vai criando a ideia de como a redação funcionava na criação da informação dada à sociedade. Analisava-se o que ia acontecendo com base em notícias dadas por outros países, notícias essas já também transformadas para ir de encontro ao que podia ser relatado e da forma como se queria que a informação fosse passada, tudo isto numa época onde não existia liberdade para se poder descrever tudo tal e qual acontecia, sem omitir verdades e sem a necessidade de criar para contar. 

Ao mesmo tempo que vamos ter o recurso ao que vai acontecendo pelo Mundo naquele ano, existe também o acesso à vida numa aldeia bem portuguesa através das cartas que a mãe do jovem jornalista lhe vai enviado e mais para o final com a presença do mesmo no local onde a paz existe e os grandes lavarintos não chegaram, tendo passado um pouco ao lado de quem não vivia nos grandes centros urbanos. Uma viagem temporal posterior como uma recordação do que foi feito, criado, inventado e relatado para que os outros vivessem como os líderes queriam, mesmo que por vezes se conseguisse contar a verdade, mesmo de forma rebuscada, mas capacitada. 

Pessoalmente tenho a opinião que esta obra poderia ter sido muito mais explorada de forma a se completar e ficar uma trama bem mais densa, mas isso infelizmente não aconteceu e o facto de tudo decorrer de forma apresada não me conseguiu conquistar da maneira como primeiramente acreditei que acontecesse. 

 

Livro cedido pela editora Dom Quixote.