Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Informador

#MeToo, sem Ronaldo

cristiano ronaldo.jpg

O alegado caso de violação que Cristiano Ronaldo enfrenta tem dado bastante que falar e ainda agora começou. Certo é que com isto percebemos que em Portugal existem fenómenos que só acontecem quando calha bem, porque depois quando a moeda vira, os discursos também são alterados. Falemos então um pouco do movimento #MeToo, que no caso de CR7 parece não fazer sentido. Então pessoal? Só atacam quem está ao longe e depois quando toca na porta do herói nacional a questão muda de sentido? Não vos estou a entender!

Neste momento ainda tudo surge em torno de muita especulação, mas existem dados já conhecidos que levam a crer que existe culpa do lado de Ronaldo, não existissem documentos assinados de pagamentos feitos em troca do silêncio de Kathryn Mayorga há oito anos atrás. Mas a questão que me tem feito alguma impressão é mesmo a opinião pública portuguesa de rostos que geralmente vão de encontro a comportamentos de assédio sexual e violação. Afinal de contas em que ficamos neste caso? É que estão a defender Cristiano quando aparentemente este é o acusado por ter feito mal. Se defendem as vítimas, agora estão a defender um agressor? Atenção que neste momento não existe culpados nesta situação e só o tribunal irá definir a sentença final num caso que promete dar muito que falar e que se prolongará pelos próximos meses. 

A acusação de Kathryn é séria e em 2009 foi paga para se calar. Existiu logo no dia seguinte da noite em que tudo poderá ter acontecido uma chamada para a polícia de Las Vegas, por parte da suposta agredida, a relatar o que aconteceu sem divulgar o nome do agressor. Existe o dito documento assinado por Cristiano e a troca de correspondência entre advogados. A par disto o craque já admitiu que a jovem na altura lhe disse várias vezes que «não» mas que ao mesmo tempo se mostrou disponível perante o avanço. 

Os dados foram revelados e o caso já avançou para outras instâncias, mas em Portugal as palavras do jogador da Juventus parecem reinar. Perante a partilha que foi feita nas redes sociais de CR7, «Não vou alimentar o espetáculo mediático montado por quem se quer promover à minha custa», meio Portugal com alguma influência nos meios de comunicação social parece aplaudir.

Uns comentam que Kathryn se colocou a jeito para o que aconteceu por ser uma chantagista e desavergonhada. Outros afirmam que tudo não passa de mais uma tentativa de conquista da fama à custa de Ronaldo. Podemos também comentar o facto de quem já tenha revelado na imprensa escrita que se ela subiu ao quarto tinha que se sujeitar ao que acontecesse. O melhor foi mesmo a conclusão de uma pseudo apresentadora que comentou em jeito de remate sobre o assunto que «quem vai para a guerra, vai para a guerra». A sério mesmo que isto foi dito em direto e para vergonha alheia de todos nós? Entre estes comentadores defensores de Cristiano Ronaldo existem os que combatem a violência e assédio sexual regularmente mas que neste caso defendem o jogador porque é português e é acima de tudo o melhor jogador de futebol do Mundo. 

«Ela que use roupa decente»

assédio sexual.jpg

Andava a vaguear pelas redes sociais quando me fixei numa partilha da Joana Azevedo, uma das principais animadoras das tardes da Rádio Comercial, onde se podia ler o que se segue. «A Catarina Furtado disse, a certa altura no nosso podcast, que também tinha sido assediada em contexto profissional. Comentário de ouro lá no FB, de uma mulher: “ela que use roupa decente”. Bem-vindos a Portugal.».

É sobre esta partilha que me apetece falar! O comentário que uma mulher faz sobre o modo de estar de outra reflete a realidade aos olhos de muitas mentes pequenas e retrogadas. Em pleno século XXI pergunto-me como é que as pessoas ainda conseguem afirmar que as mulheres é que têm de se recatar através do seu modo de vestir e de estar na vida para que não provoquem comportamentos menos próprios no sexo masculino? Será possível existirem mulheres que ainda culpam outras que se gostam de arranjar e de serem assim as responsáveis por sofrerem de assédio sexual? Este tipo de pensamento já devia estar tão nos anos 70 que hoje parece algo pré-histórico. O que se entende é que para muitas falsas puritanas uma mulher bonita, com o corpo definido e que chame a atenção de qualquer pessoa tem de se disfarçar de ogre para que os homens não olhem sequer. Parece-me que as pensadoras de outros tempos continuam a achar que a culpa nesta problemática está sempre do lado feminino e não nos senhores babados que não respeitam quem está do outro lado. 

Ou seja, as mulheres têm de se voltar a meter em casa, de pano na mão e esfregona na outra, com as janelas fechadas e as saídas minimas à rua onde os trajes têm de conter uma saia a limpar o chão, camisolas de gola alta, lenço a esconder o cabelo, nada de maquilhagem na cara e perfumes bem longe. Certas mulheres perante outras mulheres que se destacam tendem em afirmar que o assédio e os comentários menos bons por parte dos homens para com esses alvos só acontecem exclusivamente por culpa dessas senhoras que pelos vistos não vestem roupas decentes e ainda se pintam para provocarem a ala masculina da sociedade. 

Os abusos sexuais no Correio da Manhã

correio da manhã.jpg

O Correio da Manhã enquanto jornal e canal televisivo deixa mesmo muito a desejar enquanto órgão de comunicação social. A última e marcante que fizeram foi o de terem divulgado imagens de uma «alegada violação num autocarro do Porto» que de acordo com «testemunhos e comentários que circulam em várias redes sociais, se terá passado durante a Queima das Fitas, que decorreu entre 7 e 14 de Maio», segundo o destaque da publicação.

O jornal noticiou, o canal transmitiu e ainda foi publicado no site do grupo Correio da Manhã um vídeo da alegada violação de uma jovem e logo os comentários e criticas surgiram, não sendo para menos. Que direção informativa resolve mostrar um ato violento e sancionado como notícia sem quaisquer restrições, somente para fazer, mais uma vez, uma notícia sensacionalista e polémica, tal como tantas vezes o fazem. Existem limites para tudo e neste campo o Correio da Manhã desce muito baixo e desta vez conseguiu tocar no fosso do que tem feito ao longo dos anos. Para mais e como eles tanto gostam de não fazer, parece não ter existido o mínimo de investigação no caso, baseando-se numa denúncia anónima por email junto da PSP do Porto para fazerem uma notícia que pode nem o ser. 

Neste momento a Entidade Reguladora para a Comunicação Social encontra-se a analisar a situação e já informou que «tornará oportunamente pública a decisão que venha a adotar» sobre este tema. Também o Sindicato dos Jornalistas já condenou a divulgação do vídeo que «atenta contra todas as regras do jornalismo e deve, por isso, ser retirado do site», tal como não deve «ser exibido na emissão televisiva» do canal.