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O Informador

Respeito pelo espetáculo

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Custa-me a perceber que existem cidadãos desta nossa sociedade que compram bilhetes para assistirem a espetáculos onde tem o dom de destabilizar quem está ao seu redor simplesmente porque não conseguem fechar a matraca ao longo do tempo em que deviam de manter o silêncio, respeitando os artistas e o restante público.

Há uns dias fui a um espetáculo teatral e tive que calhar com um vizinho da fila de trás que não se calou ao longo da sessão, sempre a tentar falar com o seu familiar ou amigo do lado que pouco lhe respondia. Falou, comentou, riu, voltava a puxar assunto... Na fila da frente olhei, abanei a cabeça, revirei os olhos, mostrando várias vezes desagrado, até que por algumas vezes uma das companheiras do grupo do dito senhor o avisou do incómodo que estava a causar a quem não o conhecia de lado algum. Cheguei mesmo a pensar se não deveria deixar a irritação que me estava a causar falar por si a dado momento e expressar-me de outra forma, dizendo-lhe que se queria conversar devia ter ficado na esplanada mais próxima, já que não conseguia respeitar os artistas e quem estava ao seu redor e queria simplesmente desfrutar do momento.

Pausas silenciosas

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Momentos existem em que cada um necessita de fazer a sua pausa, procurar o silêncio que ajude a refletir, repensar o vivido, o presente e o que está para acontecer. Aquela solidão que pode servir de combustível para reforçar um amanhã com bases sólidas para se seguir em frente. Todos, em certos momentos da vida, já tivemos as nossas necessidades de procurar os silêncios em pausas forçadas pelo confronto pessoal. Este texto é assim como que a memória de todos os momentos em que cada um necessitou de seguir a regra dos três p's - parar, pensar e proteger - para se conseguir seguir com a vida em frente. 

Citações | 39 | Livre de silêncios

silêncio

 

Quando só escuto silêncio, já sei que estou numa ditadura.

Miguel Sousa Tavares em Não Te Deixarei Morrer, David Crockett

 

Li a frase que Miguel Sousa Tavares publicou num dos seus textos no livro Não Te Deixarei Morrer, David Crockett e rapidamente a tirei de contexto e fui transportado para o meio laboral. Felizmente que ao longo de mais de quinze anos, em três empresas por onde passei, nunca senti que estivesse a movimentar-me entre empregadores que olhavam para as suas equipas de forma ditatorial. No entanto sei, em conversas que vão surgindo, que existe muito local de trabalho em que quase que se torna obrigatório o silêncio com uma rigidez total sem dar espaço de manobra para que a equipa funcione sem que existam constrangimentos para com o convívio entre pessoas que passam por vezes mais de oito horas do dia lado-a-lado e em que é necessário, para um bem comum de trabalho coletivo, conviver e criar relações, que não têm de passar para fora do ambiente de trabalho, mas que convém existir dentro daquele período em que se um falha todos podem falhar de seguida. 

Felizmente que não sei o que é trabalhar num sistema de ditadura, mas se sentisse que em algum momento seria esse o caminho que pretendiam seguir seria dos primeiros a falar e a bater com a porta se nada fosse feito para criar um bom ambiente, sem silêncios, uma vez que sou e sempre fui defensor que para se trabalhar bem não é necessário entrar e sair mudo do local, sendo bem mais fácil se tudo for levado de bom grado entre um bom ambiente de convívio e dentro das normas, claro. Cada qual tem direito ao seu espaço de opinião, claramente prevalecendo quem está por cima, no entanto sem pisar, cair no grande erro que muitos ainda acreditam de enxovalhar, exigir e mostrar que estão a fazer um favor ao próximo por lhe entregarem um lugar onde possam ganhar o seu sustento. 

Silêncios confinados

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21/11/2020, pelas 16h25

 

Esta tarde, de pijama vestido, o que vai contra as minhas regras pessoais de ficar em casa com um aspeto sociável e não com aspeto de quem vou dormir a qualquer momento, estou com a televisão ligada como dama de companhia, o computador também ele em espera que as palavras surjam pelo teclado para um texto que será publicado logo no dia seguinte, com o bulldog deitado aos pés da cama, meio adoentado e a ressonar no seu sono de prazer por poder estar na cama do dono a fazer a sua sesta durante horas. Cá dentro tudo está em modo quase pausado, sem grandes movimentações e também sem qualquer vontade para tal.

Já lá fora o silêncio impera. A janela está aberta, o sol aquele o quarto e se não soubesse que vivo numa das principais ruas da aldeia, por onde até costumam passar pessoas e carros, diria que estava isolado no campo, já que o som é inexistente durante as últimas horas. Nada acontece nas proximidades lá por fora, praticamente como aqui, estando como que parecendo isolado do mundo.

Silêncio total num dia que se fosse normal todos poderíamos aproveitar para um passeio pela natureza ou pelas calçadas de ruelas e avenidas. O sol brilha quente por este fim-de-semana de Outono em que não podemos aproveitar o ar livre, ficando toda uma sociedade suspensa dentro de quatro paredes onde nos sujeitamos a ver cada hora passar para que o dia seguinte inicie como mais um dos muitos que ainda esperamos dentro de um estado de emergência que parece longe de findar para o bem de todos. 

A procura do Silêncio

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Na correria do dia-a-dia queremos chegar a tempo e horas a qualquer lugar onde as combinações, o emprego e a família esperam pelo momento marcado numa azáfama onde acabamos por querer estar em todo o lado, perceber o que se passa e onde devemos estar para que nada nos escape. Arrebanhar o tempo, correr de um lado para o outro, esgotar as energias e chegar ao final de um dia acordado e somente pensar que é tempo de dormir para voltar a reagir para mais umas horas de vida agitada onde o descanso e o silêncio pouco existem. 

E a paragem silenciosa para se refletir, procurando o silêncio que tanto ajuda a limpar a alma, que nos transporta para outros patamares quando a solo enfrentamos uma solidão que não tem de ser vista como inimiga, mas sim como um trunfo precioso de renascimento. Onde fica essa pausa no meio de tanto para fazer?

Poder encontrar o momento diário para encontrar o espaço de sossego, silêncio e calma, procurando um conselheiro invisível mas que habita no interior de cada um. Afinal de contas quem pode ter um melhor amigo a quem amar e valorizar se primeiramente não se souber amar a si próprio?

Usando o poder do silêncio, onde tudo fica concentrado na verdadeira essência pessoal, dos medos às conquistas onde os sonhos e os troféus ganham destaque numa luta interior para com os receios das falhas. Silenciar a vida por uns momentos, recolhendo tudo o que acontece num pacote individual que não tem de ser partilhado sem que saibamos quem somos e para onde queremos seguir. 

Aprender a trancar o som e entrar numa bolha essencial de vazio que espera por ser preenchida pelas partilhas intimas do que há internamente para reordenar, afastando os pesos que habitam pelas redondezas para deixar lugar vago para o que possa surgir futuramente. 

Ruído na Biblioteca

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Frequentar uma biblioteca tem como característica encontrar algum silêncio para que a concentração seja exata, já que o local não é um centro de convívio nem uma parque de diversões. Geralmente nas entradas existem avisos para ser mantido o silêncio, só que por vezes o problema não vem dos visitantes mas sim dos próprios funcionários.

Há uns anos, quando era adolescente, para fazer tempo até apanhar o autocarro que me levava do centro do concelho para a aldeia, acabava por ficar um pouco na biblioteca pelos computadores municipais, aproveitando também para ler alguma da imprensa que estava exposta. Já na altura lembro-me de ver os bibliotecários responsáveis pelo espaço a andarem constantemente atrás das pessoas a pedirem silêncio e com o típico som «xchiuuuu». Hoje, mais de quinze anos depois, a história continua a mesma e os pensamentos que tenho também se mantém.

Se formos analisar, o que aquelas pessoas que estão como responsáveis não fazem, é que pedem silêncio aos visitantes da biblioteca, no entanto depois estão atrás do balcão ou andam pelos corredores, a falarem uns com os outros em alto e bom som, como se não estivessem dentro de um local onde os próprios pedem para as pessoas falarem baixo para que não perturbem os outros. Afinal em que ficamos? É que quem devia dar o exemplo acaba por mostrar exatamente o contrário e por vezes dá vontade, mesmo que o barulho dos outros não me perturbe, de perguntar aos funcionários se as regras que tentam impor não se aplicam aos próprios.

Silêncios que cansam...

Iniciei o meu segundo emprego, após dez anos na mesma empresa, há mês e meio e se no início comecei entusiasmado pelo que estava a fazer, com as condições do trabalho e horários, aos poucos tenho vindo a perder o interesse que senti nos primeiros momentos. O ritmo a que vinha habituado e o silêncio, embora seja uma empresa com um maior número de funcionários, não me têm dado grande alento. 

Estar oito horas numa sala sozinho onde os colegas que estão nas outras salas e muitos acompanhados não falam sequer com quem está ao seu lado, quanto mais com quem está do outro lado da parede, cansa. O silêncio e a ideia que quem já lá estava não consegue conviver é complicado, para mais uma pessoa que vem habituada a falar todo o dia ou somente ter alguém por perto. São muitas horas a solo, concentrado no trabalho que tenho aprendido a custo e sozinho porque a formação de quem se foi embora nos dois primeiros dias não valeu de muito e somente com a rádio como companhia não dá com nada. 

Tenho sentido dificuldade por ter de aprender e não ter muito por onde pedir ajuda porque na totalidade ninguém sabe fazer o que estou a fazer dentro da empresa. Depois estar em silêncio e não ouvir ninguém durante horas maça, por mais que uma pessoa esteja concentrada no trabalho, sabe sempre bem ouvir alguém dizer nem que seja a maior estupidez do dia e para quem vinha habituado a conviver e agora fica sozinho é chato. Faz-me uma certa confusão as pessoas não falarem umas com as outras, passando e só deixando escapar um «bom dia» ou «boa tarde» consoante a hora do dia e pouco mais. Isso não acontecia no meu anterior local de trabalho e se não convém exagerar, existem silêncios que são demais, roçando mesmo a falta de vontade de uns para com os outros, para mais pessoas que lidam entre si há anos. 

Sinto-me preso dentro de quatro paredes e na verdade não foi isso que idealizei quando tive de iniciar a procura de emprego, a minha ideia seria seguir um caminho, mas depois uma entrevista fez-me voltar com essa ideia atrás mas não pensei que me custasse tanto o isolamento sabendo que existem pessoas por perto mas que nem se ouvem. Preciso de espaço, de me mexer, de conviver e não estar fechado e sentir que as pessoas se isolam porque uma simples presença mesmo silenciosa faz toda a diferença quando é sentida. É verdade que tenho mais responsabilidades do que anteriormente com o que faço, mas para o meu bem estar necessito de sentir que as pessoas num emprego também existem e não são seres estáticos e sem relação.