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O Informador

Pânico no supermercado

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Na quarta semana de quarentena a necessidade de entrar num supermercado aconteceu. Geralmente são os meus pais que têm feito as compras para casa, mas como tive de sair por umas horas e a fome surgiu tive de entrar no supermercado mais próximo, por acaso até dos mais calmos pela zona, para comprar algo para comer por não saber a que horas ficaria despachado. Só te posso dizer que senti pânico ao controlar todos os passos das pessoas com quem me cruzei, principalmente ao balcão onde tive de pedir o que pretendia e depois na caixa de pagamento.

Ainda não me tinha apercebido sobre esta situação, mas no momento em que atravei a entrada e passei a parte das frutas e legumes percebi que estava a fazer um olhar meio estranho de controlador, como um inspetor com visão raio-x. O que queria comer nem sabia mas fui até ao balcão da padaria e por acaso percebi que existiam pequenas pizzas disponíveis, vi um micro-ondas atrás, o que não existia antes, e perguntei se aquelas mini pizzas podiam levar um calor. E sim podiam. Tudo bem, mas só te digo que controlei a distância que deixei para o balcão, olhei para as luvas de quem me atendia, chegou novo cliente e medi se tinha deixado a distância de segurança marcada no chão, aproveitei e pedi um sumo natural para não ter de ir a outro recanto do supermercado. Aceitei o pacote com a pizza aquecida e o sumo de braços esticados e fui, fugindo dos corredores com clientes. Fui até à caixa e ia para as automáticas, mas lembrei-me que tinha de tocar no ecrã onde outros mexeram, seguindo então para uma caixa humana que estava sem fila. Paguei com contactless para evitar contacto com o dinheiro e não quis talão da compra. 

Ups! Perdi o carro!

Não, eu não sou despistado nem esquecido, simplesmente estava distraído e a memória apagou por momentos o que tinha feito duas horas antes! Perdi o carro num parque de estacionamento público e de rua, será possível? Comigo é!

Estacionei, fui às compras pelo Vasco da Gama, passei pelo Casino e quando estou de regresso ao carro, por sinal com a carteira um pouco mais recheada, comecei a entrar em pânico. Ao longe e conforme me dirigia ao local onde achava que tinha deixado o veículo logo comecei a ter noção que não o estava a ver, no entanto resolvi aproximar-me, já meio confuso e a pensar se me tinham levado o Opel só por embirração por ainda não ser uma máquina dos tempos modernos. Mesmo não o vendo fui praticamente ao lugar onde acreditava que tinha estacionado, já meio bloqueado dos nervos e a pensar no que fazer naquele momento sem carro, sozinho e no meio de Lisboa. 

Isto até que me lembrei que tinha encontrado lugar logo à chegada e que isso fez-me estacionar muito antes do local onde é hábito, esquecendo-me por completo daquele ato quando estava de regresso para tentar voltar a casa. A lembrança apareceu, retomei o caminho desejado, encontrei o veículo, entrei e «bora lá» para casa que já se faz tarde! 

Suicídio no Carregado

Existem coisas que nos marcam e que ficam na memória, por mais que tentemos esquecer, por largos anos! Uma delas será o suicídio a que acabei de assistir no Carregado! Um homem caiu, acredito que por vontade própria porque os apelos de quem o rodeava assim o mostravam, de um prédio com talvez quinze andares! Vi os últimos minutos do indivíduo pendurado na janela, a ser puxado por quem estava no interior do apartamento e vi a queda, com um estrondo quando o impacto no chão aconteceu!

Primeiro comecei a ouvir as ambulâncias e carros policiais, depois gritos de desespero e quando decidi ir à rua olhei para o local exacto onde tudo estava a acontecer e fiquei sem reacção. Um homem estava pendurado num décimo terceiro ou quarto andar, seguro por um braço e só ouvia alguém dizer que não estava a aguentar mais o esforço. Fiquei pálido, aflito e sem saber o que fazer! Uma sensação estranha que é complicada de explicar por palavras e imagens que irão ficar na memória por muito tempo!

Nestes casos tenho que olhar e ver sempre tudo, não conseguindo seguir em frente sem perceber o que se passa e aqui vi os últimos minutos de vida daquele homem desesperado por algum motivo e que decidiu colocar assim termo à vida.

Neste momento em que estou a escrever o texto pouco mais de trinta minutos passaram sobre o sucedido e tenho o estômago às voltas, sentindo agonia pelas imagens e por relembrar o som do impacto que a queda teve. Um acidente que me pareceu voluntário e que me chocou! Não consigo explicar como fiquei, só me lembro de estar a olhar fixamente, sem querer tirar os olhos daquele ser e a acreditar que o iriam conseguir recuperar para o interior do apartamento quando vejo o corpo a descer e as pessoas a gritarem.

Uma sensação de pânico pessoal inexplicável!