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O Informador

Suite 647 | UAU

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Suite 647, Uma Viagem no Tempo Num Quarto de Hotel

Suite 647, peça encenada por Fernando Gomes, sobe ao palco do Auditório dos Oceanos do Casino Lisboa, a 11 de abril. O guião, escrito originalmente em 1994 pelo escritor e dramaturgo inglês Alan Ayckbourn, foi traduzido e adaptado por Fernando Villas-Boas. Em cena, os atores Gabriela Barros, Jorge Corrula, Manuela Couto, Ruben Madureira, Sérgio Praia e Sissi Martins cruzam-se, entre portas, em três épocas distintas. Se a premonição nos permite mexer no destino e mudar a sina, sim. Pelo menos é isso que esta trama, tão atual quanto assertiva e intricadamente inteligente, nos revela. Suite 647 é uma história que se passa num quarto de hotel em 2038, mas também em 2018 e em 1998. De visita a um cliente num hotel, Poupée teme pela própria vida e foge pela primeira porta que se atravessa no seu caminho. Olhando ao seu redor, descobre-se no mesmo quarto de hotel... 20 anos antes. À sua frente, Renata, uma mulher que morreu há precisamente 20 anos, ou seja, nesse mesmo dia. Parece confuso? H. G. Wells diria que não e que o tempo se encarrega de reescrever a história de todas as personagens envolvidas na trama. Eis uma comédia com muito suspense, obscura, tal como no jogo de tabuleiro Cluedo: todo o elenco é, na sua essência, um agente de mudança.

Suite 647 apresenta-se ao público como uma comédia negra onde um quarto de hotel dividido em três épocas distintas forma todo um cenário onde momentos peculiares entre as várias personagens vão surgindo, numa mistura de passageiros do tempo com a ideia de tirem-me deste filme. 

Poupée, a personagem central excelentemente interpretada por Gabriel Barros, torna-se o centro de todas as atenções logo quando entra em palco, desinibida, apresentando-se como uma prostituta sem pudores. Chegada ao quarto do seu cliente, o serviço que esperava ter pela frente revela-se bem diferente, mais calmo e sem ser necessário usar os seus melhores trunfos. Só que nem tudo é assim tão fácil e sem esperar Poupée, em pleno 2038, vê-se perante uma confissão que a deixa em pânico. É que o seu cliente, Ricardo, interpretado por Sérgio Praia, matou, ou melhor, mandou o seu melhor amigo, o Julião de Rúben Madureira, matar as suas duas esposas. A fuga é o seu instinto, mas entrando num armário que se virá a descrever como um portal do tempo, acaba por entrar no mesmo quarto, mas recuando até 2018, encontrando um passado rocambolesco.

Chegada a 2018 encontra justamente a segunda mulher de Ricardo, Renata, com Manuela Couto a brilhar sem hesitações. Poupée encara esta mulher sozinha no quarto, no exato dia em que anteriormente ficou a saber que seria o da sua morte. Confuso? Ainda há mais para se saber, já que falta a primeira mulher de Ricardo, a Jéssica de Sissi Martins, saber que também tem um assassino dentro de casa e para isso acontecer é necessário alguém recuar ao mesmo local mas por outra época, chegando a 1988.

Quem vai acompanhando toda a história da Suite 647, mas sem perceber o que se está a passar, existindo somente uma vontade de fazer o bem em troca de alguma recompensa mais generosa é o segurança do hotel, Arnaldo, interpretado por Jorge Corrula. 

Os Dias Realistas

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Mais do que um apelido em comum, os dois casais Dias são vizinhos de vivendas idênticas, quintal com quintal e além disso vivem situações bem semelhantes. Bambi e João mudam-se para a casa ao lado de Margarida e Tó e ao primeiro encontro percebem que existe bastante em comum entre o dia-a-dia de cada casal. Esta é a premissa de Os Dias Realistas, a nova produção da UAU que acabou de estrear no Auditório dos Oceanos do Casino Lisboa. 

Catarina Furtado, João Reis, Manuela Couto e Paulo Pires dão vida aos Dias, as quatro pessoas que se encontram em casal ou ao longo da noite em secretismo com o vizinho para debaterem as questões com que se deparam no seio conjugal. As preocupações, os dilemas e o pessimismo são uma constante entre estas personagens que caraterizam qualquer pessoa que tem na sua vida várias semelhanças com a do vizinho do lado. Todos vivemos de pensamentos positivos e negativos e é com isso com que por palavras e conversas poderemos perceber que afinal nunca nos encontramos sozinhos no Mundo, já que todos têm os seus aspetos comportamentais que podem ter um lado agradável mas também pessimista. 

Com um humor negro, Os Dias Realistas de Will Eno tem nesta adaptação uma interpretação de excelências, sem falhas e com um excelente desempenho de contracena entre o quarteto de atores que o público tão bem conhece. Num texto nem sempre fácil e com vários momentos mais elaborados e puxados para a comédia complexa falta talvez nesta fase inicial de estreia as chamadas de atenção com frases mais chamativas e que puxem de certa forma pelo público presente na sala.