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O Informador

Corta papel de infância

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As lembranças fazem-se sentir e acabei de me recordar de uma fase pela qual passei em criança em que as folhas da imprensa serviam como meio de entretenimento durante horas e horas, enchendo sacos e mais sacos de completo lixo.

Talvez entre os sete e os nove anos e ao longo de um período ainda justificável de meses, passei por uma fase em que todas as revistas, jornais e folhas que aparecessem por casa era guardados para serem recortados. Todos os papéis que apanhava que já não fizessem falta ficavam amontoados num canto da sala onde me entretinha várias horas por dia a cortar papel para nada. Uma folha de revista, por exemplo, cortava em modo cobra ou às tiras e depois desse trabalho inicial a tesoura continuava em funções para transformar cada tira em pequenos quadrados que se iam multiplicando em sacos e mais sacos. Podes imaginar sacos de plástico do supermercado e caixas de papelão com papéis e mais papéis cortados do tamanho de uma unha. Sim, era desse modo que transformava cada folha que apanhava.

Sei que muitos dos sacos iam para o lixo e que na altura nem ligava ao que ia fazendo e desaparecia cá de casa, mas hoje a lembrança surge e percebo que tendo um saco cheio e outro a caminho que os mais antigos iam sendo levados para o lixo, que era onde todo aquele papel devia ter sido colocado logo quando deixou de fazer falta em casa. O entretenimento que tinha nesses longos meses era cortar papel aos bocados, resultado de ser filho único, numa época sem computadores, telemóveis e afins com tudo o que existe nos dias que correm. Sei que enquanto estava naquele meu trabalho ficava calado e vivia no meu mundo fechado e por isso acabava por ser ao mesmo tempo um escape para os pais que me tinham no sossego, embora estivesse a empregar o meu legítimo tempo para nada. 

Sinal perdido

Lembro-me de quando chegou a altura de começar a fazer a barba de ter um sinal bem por cima do lábio e era rara a vez em que não me cortava por passar a lâmina por cima do dito cujo. Com o tempo e com os meus cuidados o sinal foi desaparecendo e nem dei por tal acontecimento. Agora, sentado numa sala de teatro a actriz falou dos sinais faciais e apontou o seu dedo para a parte do seu rosto em que de forma idêntica eu tive o meu escuro sinal. Lembrei-me do que existiu em mim durante anos e que agora nem dá sinais de vida!

E parece que tanto me cortei que acabei por ficar com a zona acima do lábio lisa e sem marcas salientes que faziam com que por descuido tivesse que passar uma lâmina ou outra pelo local.

Passados mais de dez anos de ter dado início ao ato de fazer a barba percebo que perdi uma marca há algum tempo sem ter dado conta de tal acontecimento. Pronto, sei que sou despistado, mas neste caso consigo provar a mim próprio que não olho para o espelho as vezes devidas e que deixo escapar estes pequenos detalhes do meu corpo.

Corte de cabelo alentejano

Cabelo1Três meses depois do último corte de cabelo, eis que chegou o momento de tirar a juba que já andava a atormentar a minha preparação matinal para sair de casa. Tentei que o cabelo ficasse maior mas o tempo foi fazendo com que a intenção não passasse disso mesmo e tivesse que enfrentar o corte, num salão alentejano, numas mãos desconhecidas e com uma rapidez incrível. Foi um corte longe de casa e que já fazia falta! Disse também assim adeus à espuma e ao gel!

A intenção era deixar o cabelo ficar um pouco maior e depois logo se veria, mas não deu para enfrentar o tempo quente, o despenteado que necessitava todos os dias de algo para ficar composto e as vozes que se faziam ouvir para que cortasse o cabelo por ficar mal com tanta juba e com o rosto magro. Chegou então o momento, em semana de férias, de fazer o primeiro corte de 2014! A ideia de deixar crescer foi-se e tão depressa não voltará porque não deu resultado absolutamente algum!

No que toca à cabeleireira desconhecida que ficou com o que tirei, posso dizer que foi do mais rápido possível e que em cinco minutos fiquei despachado e com a roupa pronta a lavar de tanta penugem espalhada pela falta de cuidado! No Alentejo dizem que tudo é lento, mas a senhora foi bem rápida, deixou-me foi todo sujo, pronto para o banho e levou-me somente seis euros!

Um corte de cabelo necessário e pelas ruelas alentejanas onde nada acontece e tudo se sabe!