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O Informador

BOCAge | Magiabrangente

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Poderiam ter sido de uma mulher, aquelas palavras que muito magoam quem as escuta. Poderiam ter sido ditas a cantar, por um bom e belo trovador, talvez assim nos entranhassem mais e as estranhassemos menos. Mas as palavras ditas, a cru, sem receio de alheios e freios, é o que as faz serem apetecidas e repetidas e vomitadas e gozadas em voz alta e não entre dentes cerrados. Venham, calem-se e escutem!

E, se do amor já ouviram mentiras, aqui do amor ouvirão verdades. A Bocage faremos um brinde. Não fosse ele o melhor e mais honesto homem para se amar.

Rita Ribeiro, Sandra José e Mafalda Rodrigues sobem ao palco do Teatro Armando Cortez com BOCAge, uma comédia de escárnio e bem dizer para celebrar e brincar ao poeta.

Num texto bem conseguido da autoria de Sandra José, vida e obra de Bocage são lembrados através de um trabalho que pretende além de mostrar os conhecimentos do poeta português do século XVIII, achincalhar a sociedade atual através de um texto intemporal onde a critica mordaz, a hipocrisia e as diferenças são destacadas num texto protagonizado por três mulheres perante um público que assiste ao percurso de homem que gostou bastante de mulheres que agora em palco se defendem, mostrando o que muito aconteceu de mau pelo uso e abuso para além da força. Ruivas e de lábios vermelhos, as três mulheres simbolizam o poder feminino capaz de enfrentar as verdades, proclamar tal e qual como se pensa e não se ousa dizer. Os textos perdidos, as palavras desviadas, os poemas mal interpretados de forma propositada para que bem agradasse a cada singular leitor. 

A obra de Manuel Maria du Bocage é recontada em BOCAge, um espetáculo que segue dos oito aos oitenta com apontamentos musicais onde vão sendo inseridos trechos cómicos mas tristes, sensualidade agonizante, choro irritante, religião de bradar aos céus, palavreado brejeito mas bem real no momento de chamar as coisas pelos nomes e acima de tudo muita polémica. O público que marca presença perante esta peça pode aplaudir um trabalho de memória de quem deixou obra refletiva e que tem ficado esquecido na memória de todos, ou quase todos, nós.