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O Informador

Évora diz adeus aos Cartuxos

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Terça-feira, 08 de Outubro de 2019, assinala o dia em que o Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli, mais conhecido como Convento da Cartuxa, viu os quatro monges Cartuxos que restavam a viver no local partirem para Barcelona. As causas da mudança são simples e devem-se essencialmente às idades avançadas dos mesmos, dois octagenários e dois nonagenários, e também à falta de vocações para os ajudar a suportar a vivência dentro do mosteiro. Os quatro restantes Cartuxos que residiam em Portugal deixaram assim as suas vidas dentro do Convento da Cartuxa com cerimónias que se realizaram ao longo de três dias para que tudo fosse feito dentro dos parâmetros e os momentos finais acontecessem na celebração da solenidade do fundador, S. Bruno.

É bom lembrar que a vida cartusiana teve início em Portugal em 1587 pela mão do Arcebispo de Évora D. Teotónio de Bragança que fundou neste mesmo local a comunidade cartusiana eborense. Mais tarde, já em 1597, foi em Lisboa que se abriu um segundo mosteiro, Nossa Senhora do Vale da Misericórdia. Em 1834 ambos os mosteiros foram encerrados através do decreto que extinguia Portugal da vida religiosa. 1960 chega, os tempos mudaram e o Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli volta a receber os Cartuxos de novas gerações que foram perdurando até que a idade os levasse para outras paragens para que a ajuda mútua seja possível.

 

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Bom lembrar que a Ordem Cartusiana tem uma total orientação, dia e noite, a Deus. Solidão, comunidade e liturgia são os três pontos fundamentais dos monges cartuxos que vivem como no deserto e dentro da sua pequena comunidade, colocando-se ao serviço da vida contemplativa cartusiana. Isolados do Mundo como forma de união profunda a Deus, as orações, devoções e vocações são todas num só sentido numa vida com horários habituais que se prolongam numa autêntica rotina religiosa.  

 

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No último dia que os Cartuxos estiveram no Convento da Cartuxa o mesmo foi aberto para visita da comunidade religiosa até ao momento da cerimónia final, presidida pelo arcebispo de Évora Francisco Senra Coelho, em que a despedida dos quatro monges aconteceu num momento emotivo vivido na igreja renascentista do mosteiro.

Na mesma cerimónia foi indicado que a partir de agora serão as monjas do Instituto das Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará que ficarão a habitar no Convento da Cartuxa que nos próximos tempos irá sofrer algumas alterações, uma vez que o local está marcadamente masculino, sendo necessário agora remodelar para receber senhoras, como o arcebispo de Évora afirmou.

 

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Por estar a passar uns dias na zona de Évora, tive a sorte de assistir ao momento final da despedida dos Cartuxos e mesmo não sendo ligado ao universo religioso tenho a dizer que existem celebrações que nos tocam. Combinamos que íamos passar o dia a visitar a zona e que ao final da tarde estaríamos pela Cartuxa. Assim foi, a espera fez-se notar, o cansaço igualmente, mas tentei ficar, eu, o menos religioso e ficamos. Visitamos todo o mosteiro, das celas ao espaço de lazer, com acesso ao cemitério e espaço amplo central, até que o horário da celebração chegou. Igreja cheia, praticamente mais de hora e meia de celebração, vontade de ficar, emocionei-me, aprendi um pouco sobre religião, a história dos cartuxos e da nossa própria história. Tudo se finalizou com o sentimento que existem momentos nas nossas vidas que são necessários acontecerem. Precisava de estar naquele local e nesta celebração que não é uma despedida, é simplesmente um «até já» porque todos, se acreditarmos nos iremos encontrar um dia em algum outro local. É assim que eles acreditam, é assim que muitos milhões acreditam e é assim que talvez eu acredite!

 

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Sabe um pouco mais sobre a Ordem dos Cartuxos.